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Experiência sensorial / A percepção do espaço real através da Arte

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Richard Serra: Memorial pelas vítimas do programa nazi «Ação T4» em Berlim

Experiência sensorial

A percepção do espaço real através da Arte


Mariana Santos
30 ABRIL 2018


O arquiteto projecta espaços, constrói o lugar, a cidade, e constrói os seus edifícios. Cada novo projecto, é uma nova possibilidade, é um novo conceito, é um novo desafio, - no entanto -, o processo desde a ideia até à sua forma material é o que se mantém em cada projecto.
A consciência do arquiteto sobre processo de criação é a questão essencial no exercício da projecção, da crítica, da avaliação sistemática e do permanente questionamento da razão de cada passo. O exercício que resulta na consciência do produto final que se constrói.
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Richard Serra: «Berlin Block for Charlie Chaplin» 1978, Berlim

Não há barreiras no campo da criação e o arquitecto explora as diversas artes na sua composição, escala, proporção até ao seu mais íntimo pormenor. A pintura, a escultura e a fotografia são exemplos de artes que potenciam o desenvolvimento da Arquitetura, pois é na procura de respostas aos desafios arquitectónicos que se entende a possibilidade de construção no espaço e o limite ténue que se estabelece entre a Arquitetura e a Arte.
A escultura e o seu deslocamento para o espaço real contribui para delimitar e estender os limites frágeis entre duas formas de expressão que têm como base o espaço. A compreensão desses limites pela complexidade que se estabelece na construção das relações entre Arte e Arquitetura encontra na obra de Richard Serra um exemplo: falar sobre o trabalho deste artista é falar dos limites ténues sobre a construção no espaço entre a Arquitetura e a Arte.
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Richard Serra

Richard Serra, o primeiro artista plástico a receber a medalha da Architectural League de Nova Iorque, conhecido pelas suas instalações de metal, contribuiu para o modo em como pensamos o espaço e a relação do observador com o lugar e a sua materialidade, sendo estas preocupações relevantes tanto para arquitetos como para artistas.
Cada vez mais artistas plásticos trabalham e questionam temas que sempre foram entendidos como temas arquitectónicos: concepção espacial, território, espaço público e espaço privado, entre outros. Estes artistas têm ajudado a quebrar os limites entre Arte e Arquitetura possibilitando cada vez mais o cruzamento de técnicas e conceitos entre as mais diversas disciplinas artísticas.
A priori, a responsabilidade e obrigação do arquitecto é de pensar, criar e viabilizar a construção de um meio ambiente repleto de coisas com potencial e o funcionalismo peca pela valorização excessiva da ideia do espaço e do seu uso pelo homem. A necessidade da leitura da obra da Arquitetura antes da sua concepção leva ao recurso à pintura (croquis, aguarelas), à escultura (maquetas) e à fotografia ou vídeo (montagens de volumes num espaço), quando a arquitectura é ainda mais um objecto abstracto do que um em concreto.

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Richard Serra

Um dos objectivos da disciplina Teoria de Arquitetura consiste em interpretar o espaço arquitectónico, procurando analisar as suas características e o seu valor como arte. Interpretar o espaço significa incluir todas as realidades de um edifício estudando as suas dimensões, luz, cor, usos, formas, intenções do projecto e inclusive as expectativas do utilizador. A compreensão da arquitectura requer o contributo da percepção espacial, que analisa como as pessoas lêem o espaço, como o interpretam e em como são influenciados por ele. O desenho é o maio de divulgação mais básico que melhor pode ajudar na produção do projecto final.
A arte consegue servir como uma ferramenta que analisa e interpreta, como um meio activo de intervenção em concepções arquitectónicas de uma época e também como um instrumento auxiliar de compreensão destas concepções. Assim, o objectivo da arte é ajudar a conferir sentido às existências daqueles que com ela trava contato, uma importante linha de trabalho artístico está exactamente em recuperar a materialidade das coisas. Desta maneira, torna-se mais produtiva a concentração da produção do objecto artístico como uma coisa entre outras – o homem incluído -, que delas se destaca pela sua capacidade de síntese e de compreensão destas mesmas coisas.
Este recurso que é feito a outras artes é o meio que nos permite encontrar soluções prototípicas para os diversos desafios com que nos deparamos no dia-a-dia como arquitetos.
Devemos procurar formular respostas claras aos desafios arquitectónicos, estudar variações, definir percursos e objectos, transpor horizontalidade e transparecer verticalidade, permitir a sobreposição de elementos, de compartimentos, de formas… Procurar, assim, uma liberdade de funções.

Bibliografia

  • Baeza, Alberto Campo, (2009): A Ideia Construída, 972-8801-22-X, Lisboa: Caleidoscópio.
  • Benevolo, Leonardo, (2014): Introdução à Aquitetura, 978-97-2441-3990, Lisboa: Edições 70.
  • Fernandes, Manuel Correia, (1995): A Estrutura de Suporte – Construir a Arquitetura, 978-9729-4831-65, Porto: FAUP – Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.
  • Koolhaas, Rem, (2008): New York Delirious, 978-84-252-2248-1, Barcelona: Editorial Gustavo Gili.
  • Lynch, (2009): A Imagem da Cidade, 978-972-44-1411-9, Lisboa: Edições 70.
  • Vidiella, Àlex Sánchez, (2011): Siza Vieira, 978-84-9936-869-6, Barcelona: Loft Publications.
  • Zevi, Bruno, (2009): Saber Ver a Arquitetura, 978-85-7827-9084-1, São Paulo: Martins Fontes.
WSI


Mariana Santos
Arquiteta pela Universidade da Beira Interior (UBI), com a tese de mestrado Arquitetura Hospitalar para países em vias de desenvolvimento.
O interesse pelas questões sociais na Arquitetura teve início em 2013 com a participação num programa de recuperação social em Mesendorf, Roménia – onde trabalhou em terreno com uma equipa multinacional. Vive, neste ano, no Rio de Janeiro onde trava contato com a arquitetura hospitalar e com profissionais da area.

Em 2014 dá início ao estágio para entrada na Ordem dos Arquitetos, ficando inscrita nesse ano. Colaborou com o Museu de Serralves em exposições como 31st São Paulo BiennialSonnabend CollectionGiorgio Griffa e Liam Gillick, integrando o gosto pela arte e pela fotografia na Arquitetura.
Em 2016 vive em Berlim, onde trava contato com profissionais de diversos países e áreas. Em Berlim relaciona os seus trabalhos de arquiteta com as diversidade das áreas em que se integra, desde a tecnologia/domótica à questões sociais e históricas pertinentes e existentes na cidade.
Atualmente, é arquiteta numa empresa de construção e arquitetura, com sede em Aveiro, com projetos por todo o território nacional. Continua a desenvolver projetos a título professional e com colegas de profissão. É autora de artigos e publicações científicas no campo da Arquitetura, tendo proferido conferências em Portugal.
As suas áreas de interesse e investigação centram-se na evolução e transformação dos espaços públicos – cidade -, e da relação entre a arquitetura e as questões sócio-culturais envolventes.
Arquiteta de profissão e com interesses diversos, com destaque para a fotografia, a música e o viajar, a investigação e a pintura.





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