Quantcast
Channel: PESSOA
Viewing all 2427 articles
Browse latest View live

Mulheres / Marion Cotillard I


Mulheres / Marion Cotillard II

Morre o dramaturgo norte-americano Edward Albee

$
0
0
Edward Albee
Morre o dramaturgo 
norte-americano Edward Albee

Autor de ‘Quem Tem Medo de Virginia Woolf?’ foi premiado três vezes com o Pulitzer



SANDRO POZZI
Nova York 17 SET 2016 - 10:39 COT


Edward Albee será lembrado sempre pela maestria ao romper as regras dos bons modos, mostrando com seu humor amargo uma visão pungente da vida americana. O dramaturgo estadunidense, autor da célebre Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, morreu em sua casa em Long Island depois de sofrer uma breve doença. Três vezes premiado com o Pulitzer, ele tinha 88 anos de idade.

Sua carreira teatral começou com The Zoo-Story (A História do Zoológico) (1958), quando tinha 30 anos. Sua enigmática e mais aclamada obra chegaria quatro anos depois. Foi selecionada para o Pulitzer depois de estrear na Broadway. Mas o sucesso veio por via indireta com os múltiplos prêmios recebidos por Elizabeth Taylor na adaptação da peça para o cinema.
Edwsard Albee

Mike Nichols levou Quem Tem Medo de Virgina Woolf? Ao cinema em 1966, com Richard Burton e Elizabeth Taylor liderando o elenco. A atriz ganhou o Oscar um ano depois. Albee, considerado um dos melhores dramaturgos dos Estados Unidos, recebeu o primeiro Pulitzer por A Delicate Balance (Equilíbrio Delicado), em 1967, que também foi levada ao cinema, com Katharine Hepburn e Paul Scofield como estrelas.
Albee ganhou outros dois Pulitzer com Seascape (Paisagem Marinha) em 1975, e Three Tall Women (Três Mulheres Altas), em 1994. O autor nasceu na Virgínia em 1928. Com duas semanas foi adotado por uma família em Nova York. Abandonou a casa quando ainda era adolescente. Albee integrou a geração de dramaturgos que incluía Tennessee Williams, Arthur Miller e Eugene O´Neill. A morte foi confirmada por seu assistente, Jakob Holder.
EL PAÍS



Os bebês em caixas de papelão na Venezuela

$
0
0

Os bebês em caixas de papelão na Venezuela


Imagem de seis recém-nascidos em berços de papelão num hospital simboliza colapso do país





MAOLIS CASTRO
Caracas 26 SET 2016 - 12:00 COT



Uma foto se tornou contundente testemunho das carências da Venezuela. Seis bebês dormindo dentro de caixas de papelão no hospital Domingo Guzmán Lander, no Estado de Anzoátegui, são um verdadeiro retrato da crise no país petrolífero. A foto destruiu a versão do Governo do presidente Nicolás Maduro, que insiste em desmentir os que denunciam um colapso. A imagem, captada com um celular, circulou vertiginosamente pela Internet.

A primeira reação oficial desencadeou críticas. Nelson Moreno, o governador chavista do Estado de Anzoátegui, disparou uma proposta inesperada em relação à deficiência no hospital: “Não há má-fé nisso. Se vão colocar numa caixinha, pegam uma caixinha, com muita criatividade, decoram-na bem, arranjam-na como uma cestinha e a colocam lá, ao lado da mamãe”.
A foto reflete uma continuação da crise venezuelana. Em agosto, a Relatoria da ONU para a Saúde se manifestou a respeito do preocupante aumento das mortes de bebês no país. A taxa de mortalidade entre recém-nascidos na Venezuela passou de 0,02% em 2012 para 2,01% em 2015. No ano passado houve 4.903 mortes de neonatos sobre um total de 243.638 nascimentos, segundo relatório do Ministério da Saúde. Muitos médicos dizem que a causa das mortes é a falta de recursos nos hospitais e a escassez de 85% dos medicamentos, impossibilitando contar com as condições sanitárias mínimas para proteger os bebês.
Enquanto a crise hospitalar piora, o Governo de Nicolás Maduro é acusado de ir contra os denunciantes. Manuel Ferreira, diretor de Direitos Humanos da coalizão de oposição Mesa da Unidade Democrática (MUD) em Anzoátegui, afirma que os médicos do hospital Domingo Guzmán Lander são intimidados por ter feito a foto. O Instituto Venezuelano de Seguros Sociais (IVSS), organismo encarregado da administração do hospital, responsabilizou uma médica por colocar os recém-nascidos em caixas. Segundo a versão governamental, na semana passada havia sete incubadoras disponíveis para acomodar os bebês. “O instituto procederá da forma administrativa cabível nesse tipo de falha e prestará a colaboração caso outras instituições tenham que realizar as investigações pertinentes”, diz Carlos Rotondaro, presidente do IVSS. Segundo o deputado de oposição Tomás Guanipa, os médicos suspeitos de divulgar a foto foram intimados pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) para ser interrogados.

Caixões de papelão

A precariedade se arraigou na Venezuela. As medidas econômicas do Governo Maduro e a queda dos preços do petróleo aprofundaram a crise. Os prognósticos são desanimadores. O Fundo Monetário Internacional estima que o país encerrará este ano com uma inflação de 720%, enquanto continua a dependência do petróleo e da importação de produtos. Ao drama econômico se soma o social. As caixas não suprem apenas a falta de incubadoras nos hospitais. Muitas famílias recorrem a caixões de papelão para enterrar seus mortos, diante do alto custo das urnas feitas de madeira ou metal.
Foi na cidade de Barquisimeto, no Estado de Lara, que surgiu a iniciativa de fabricar ataúdes de papelão. “Neste momento, morrer empobrece muito. O biocaixão é econômico e acessível aos venezuelanos que não têm dinheiro para enfrentar este momento”, comenta Elio Ángulo, que projetou o caixão.

Nicolás Maduro engana

$
0
0
Nicolás Maduro

Maduro engana

O atraso injustificado do referendo revogatório blinda o chavismo





O regime venezuelano está demonstrando por meio dos fatos sua nula disposição para encontrar uma solução negociada para a gravíssima paralisia institucional que atinge a Venezuela e está provocando uma profunda fratura social de consequências imprevisíveis.

A decisão de realizar — caso finalmente seja organizado — o referendo revogatório de Nicolás Maduro depois de 10 de janeiro do próximo ano implica que, independentemente do resultado, o chavismo permanecerá no poder ao menos até 2019. Trata-se de uma autêntica fraude à lei: as instâncias administrativas controladas pelo Governo venezuelano prolongaram injustificadamente todas as etapas previstas na legislação — criada, aliás, pelo próprio Hugo Chávez — para impedir que, caso Maduro perca o referendo, o chavismo não tenha outra escolha a não ser aceitar a vontade popular e deixar o poder.
Maduro já deu inúmeras demonstrações de que uma coisa é defender o povo nas diatribes lançadas em seus discursos e outra é acatar o mandato popular. Ele está sempre disposto à primeira, mas se recusa sistematicamente à segunda. O desprezo e a falta de consideração com que o presidente venezuelano e seus colaboradores tratam a Assembleia Nacional — ou seja, a representação legítima da soberania escolhida nas urnas — não é apenas uma questão de falta da mais elementar cortesia política, mas é um ataque indesculpável ao funcionamento normal de uma democracia. O poder Executivo não pode governar por decreto como se o Legislativo não existisse. Isso é algo que acontece em ditaduras, e até mesmo muitas delas mantêm minimamente as formas.
Além disso, no caso do referendo, há elementos que são uma autêntica zombaria tanto à lei quanto àqueles que legitimamente pedem a consulta. O prazo de três dias concedido à oposição para voltar a conseguir o número necessário de assinaturas — 20% do censo eleitoral total, alcançando também 20% do censo de cada uma das províncias —, com um horário hábil absolutamente ridículo (das 8h às 12h e das 13h às 16h) e um número totalmente insuficiente de máquinas verificadoras de identidade implicam que milhares de pessoas ficarão sem poder rubricar a convocação, mesmo querendo fazê-lo. Maduro e o Conselho Nacional Eleitoral, controlado pelo chavismo, são perfeitamente conscientes disso. Pesquisas mostram que cerca de 10 milhões de venezuelanos estão dispostos a votar a favor da destituição do presidente, que seria apoiado por cerca de três milhões de seus correligionários.
A esta altura, seria desejável que a mediação internacional, como aquela patrocinada até agora pela Unasul com figuras como Ernesto Samper, Martín Torrijos e José Luis Rodríguez Zapatero, ou outras, conseguisse que o regime libertasse os presos políticos e permitisse a realização em tempo hábil do referendo, evitando assim o beco sem saída ao qual a frustração política e a carestia econômica estão levando o país.


A carta comovente da viúva de Robin Williams

$
0
0




Robin Williams e sua mulher, Susan Schneider, em 2009. CORDON PRESS

A carta comovente 

da viúva de Robin Williams

“Não tinha poder para ajudá-lo a ver sua própria genialidade”, diz Susan Schneider

Ele fala dos sintomas da demência com corpos de Lewy da qual sofria o ator



EL PAÍS
Madri 30 SET 2016 - 17:50 COT
Desde que Robin Williams se matou, em agosto de 2014, foram poucas as vezes que sua viúva falou sobre ele em público. Agora, Susan Schneider publicou uma carta comovente na revista Neurology sobre a doença neurológica da qual sofria o ator, e que foi um dos motivos que o levaram a cometer suicídio aos 63 anos. Intitulada O terrorista dentro do cérebro do meu marido, a artista fala sobre a demência com corpos de Lewy, uma doença neurodegenerativa que afeta a memória e as habilidades motoras, e destruiu a vida de um dos atores mais amados de Hollywood, que também sofria da doença de Parkinson.




“A demência com corpos de Lewy é o que matou Robin”, diz a artista, que só descobriu que o marido tinha a doença quando lhe deram o relatório completo da autópsia três meses depois de sua morte. A doença causava ao ator “paranoia, alucinações, insônia, lapsos de memória” e “respostas emocionais que não tinham nada a ver com seu caráter”, diz ela na carta publicada no jornal oficial da Academia de Neurologia dos Estados Unidos. Tanto Williams como Schneider desconheciam as causas desses sintomas, e por isso no último ano de vida do ator ganhador do Oscar viveram cercados pela frustração. E, segundo conta Schneider, ele costumava dizer: “Só quero reiniciar o meu cérebro”.
“Nunca saberei a verdadeira profundidade do seu sofrimento ou o quão duramente ele estava lutando. Mas da minha posição, eu vi o homem mais corajoso do mundo interpretando o papel mais difícil de sua vida”. Na carta, Schneider, que foi casada com o ator por sete anos, também aproveita para descartar que Williams estivesse sofrendo de depressão, como foi dito no momento de sua morte. “Robin estava limpo e sóbrio, e de alguma forma, durante os meses de verão espalhamos felicidade, alegria e as coisas simples que amávamos: refeições e festas de aniversário com a família e amigos, meditar juntos, massagens e filmes, mas, acima de tudo, simplesmente pegar a mão do outro”.





Susan Schneider e Robin Williams, em uma estreia em Los Angeles em 2010. CORDON PRESS


Embora em suas bels recordações também haja espaço para admitir que nos últimos meses de vida mostrou alguns sintomas de episódios de depressão e de ansiedade, e como era difícil para ambos vê-lo lúcido e, cinco minutos depois, completamente perdido. “Não tinha poder para ajudá-lo a ver sua própria genialidade... Pela primeira vez, meu raciocínio não tinha nenhum efeito para que o meu marido encontrasse a luz nos túneis de medo nos quais estava metido”.
De acordo com o relato, Schneider conheceu a doença neurológica de Robin Williams três meses depois de sua morte e desde então passou um ano reunindo-se com médicos para tentar entendê-la. E embora lamente que o ator não tenha sido diagnosticado corretamente, “o terrorista iria matá-lo de qualquer maneira. Não há cura e o rápido declínio de Robin estava garantido”. Desde então, Susan Schneider trabalha com a associação norte-americana dessa doença para dar maior visibilidade e assim poder ajudar no diagnóstico. Um propósito que a levou agora a escrever uma carta tão pessoal. E uma missão que leva muito a sério, consciente do interesse que despertou o seu depoimento na primeira vez que falou na televisão sobre a morte do marido, que ela fez para falar sobre essa doença.






Robin Williams, entre sua mulher e sua filha Zelda, em 2011.

EL PAÍS


Robin Williams, Philip Seymour Hoffman y Lauren Bacall / Brinquedos quebrados e irrompíveis

$
0
0
Robin Williams

Brinquedos quebrados e irrompíveis

Williams, Seymour Hoffman e Bacall demonstraram que o melhor efeito especial é o talento do ator


EL PAÍS
17 AGO 2014 - 17:00 COT

MARCOS BALFAGÓN
Morto Robin Williams e com Philip Seymour Hoffman (um dos melhores atores de sua geração) ainda na memória, voltou o cansativo bordão do brinquedo quebrado. Quando não se tem nada para dizer sobre o trabalho profissional de um ator que acaba de morrer se ressuscita o título do filme de Summers e tudo já está dito. O caso é que nem Williams nem Seymour Hoffman se encaixavam no clichê. Eram atores respeitados, com projetos em marcha e vultosa remuneração. Williams explorou com notável êxito suas qualidades de homem orquestra da interpretação e Seymour Hoffman demonstrou (em Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto ou Tudo Pelo Poder, por exemplo) que o melhor efeito especial é o talento do ator. A máquina de Hollywood trabalha assim: espreme o talento de seus atores (dos que têm gênio), exacerba suas depressões e destila delas o instante de uma interpretação insuperável. Não é que sejam brinquedos quebrados; é que têm de ser quebradiços para que o cinema obtenha a mais-valia do ator na tela. Boa parte da história de Hollywood foi tecida com desertos de drogas, oceanos de álcool e galáxias de sexo (leia Hollywood Babilônia, de Kenneth Anger); é, no final, o húmus que aduba a colheita.
Philip Seymour Hoffman

Mas, claro, outra parte do catálogo do ator é irrompível. Pode ser por sorte, porque estão bem acompanhados ou porque esse era o destino assinalado por seu caráter. É o caso de Lauren Bacall, falecida depois de uma vida sem acidentes dignos de nota. Tinha o olhar oblíquo (lateral ou vertical, a escolher) e sardônica, sorriso de superioridade e fragilidade escorregadia. Um Dashiell Hammet preguiçoso disse que era feita da matéria das fantasias. Construiu sem dificuldade dois ou três filmes memoráveis (a saber, À Beira do AbismoPalavras ao Vento e Teu Nome é Mulher) e se deixou balançar até o fim dos seus dias pela recordação associada a Humphrey Bogart.
Lauren Bacall

Infelizmente, será lembrada pela frase submissa em Uma Aventura na Martinica: “Se precisar de mim, assobie”. Merece uma lembrança melhor. Como a estampada pelo próprio Bogart em À Beira do Abismo: “O senhor não é muito alto” (esse fato incomodava muito Humphrey). A resposta é a de um homem experiente em mil confusões verbais: “Fiz o que pude”. E ficou com a garota.

Jack Nicholson, o amor sem esperança de Anjelica Huston

$
0
0
Poster de T.A.

Jack Nicholson, o amor sem esperança de Anjelica Huston

A atriz publica ‘Watch me’, a segunda parte de suas memórias, centradas em sua relação com o ator



ROCÍO AYUSO
Los Angeles 17 NOV 2014 - 15:42 COT





Ampliar foto
Anjelica Huston e Jack Nicholson, em julho de 1974.  GETTY IMAGES

Anjelica Huston recordava menos de um ano atrás ao EL PAÍS que embora tenha desfrutado ser parceira amorosa de Jack Nicholson, ela é muito mais que isso. Fiel ao que diz, a atriz, diretora, modelo, produtora e agora escritora dividiu sua biografia em dois livros. Na primeira, A story lately told, contou sua vida como filha do grande diretor e ator John Huston, sua infância na Irlanda e seu início como modelo. Agora é a vez de Watch me, publicada esta semana. Nestas memórias, ela conta sua outra vida, a de atriz e, durante 17 anos, namorada dessa força da natureza chamada Nicholson.
Dezessete anos não consecutivos e não monogâmicos dos quais desfrutou, mas nos quais, segundo ela, também sofreu. “Naquela época, não passei tão bem”, admite Huston durante a promoção do livro. Nele, fala das infidelidades do ator, que acabou deixando-a por outra mulher – 12 anos mais jovem que ele. Fala ainda da violência de gênero que sofreu nas mãos de Ryan O’Neal. Da morte de seu pai e de seu último grande amor, o escultor Robert Graham. Recorda também quando o diretor Roman Polanski se relacionou com uma menor na casa de Nicholson e foi acusado de violação. “O que ocorreu é coisa dele”, declarou naquela época a atriz.
Como diz a revista Entertainment Weekly, são muitas as biografias de famosos que parecem saquinhos de batatas fritas: muito ar e pouca substância. Não é o caso de Watch me. Huston se aprofunda em suas relações e em seu comportamento neste volume que escreveu – por recomendação de Lauren Bacall – à mão, com um lápis do número 2 em papel pautado amarelo. “O mais difícil foi encontrar adjetivos que descrevessem o que aconteceu”, acrescentou a atriz do filme A família Addams.

O mais difícil foi encontrar adjetivos que descrevessem o que aconteceu”, afirmou a atriz de 'A Família Addams'

Huston e Nicholson se conheceram em uma festa em 1973. Naquela mesma noite, fizeram amor. No dia seguinte, ela aprenderia uma frase recorrente em sua vida, que o ator lhe dizia quando cancelava um encontro porque tinha “compromissos prévios”. Frase com a qual se referia a outras amantes, como Michelle Phillips ou Joni Mitchell. A atriz suíça Ursula Andress ou a modelo Bianca Jagger também faziam parte da lista de romances com os quais Nicholson alternou sua relação com Huston. O ator, ganhador de três prêmios Oscar, também se relacionou com a modelo Apollonia Van Ravenstein, a quem ele se referia como “uma transa de favor”. A relação de Huston com Nicholson foi meio tormentosa. A atriz o descreve como alguém “tão generoso quanto desconsiderado”. Ele lhe deu de presente desde um Mercedes Benz (que ela bateu no dia seguinte) até o bracelete de pérolas e diamantes com o qual, em sua época, Frank Sinatra presenteara Ava Gardner. O presente foi acompanhado de uma nota que dizia “pérolas de seu porco”, assinada por “seu Jack Nicholson”. “Ele assinava assim, mas é a única coisa que ele nunca foi”, comentou a atriz àEntertainment Weekly, referindo-se à alergia do ator ao matrimônio.
Em 1975, Huston trocou Nicholson pelo astro do momento, Ryan O’Neal, a quem dedica palavras menos agradáveis. Especialmente quando recorda o dia em que ele a agarrou pelos cabelos e a golpeou na cabeça. “Ele me fez ver estrelas”, comenta ela sobre uma agressão que o protagonista de Love story – Uma história de amor repetiria. “Um homem que levanta a mão contra uma mulher merece que o desmascarem”, declarou a atriz ao programa Today.

“Um homem que levanta a mão contra uma mulher merece que o desmascarem”

Nicholson não só leu o livro, como lhe deu sua aprovação. Huston fala dele tanto com dor como com carinho, porque aceita que nunca deveria ter esperado dele algo que ele não poderia dar. “Eu poderia ter dito ‘até aqui chegamos’, mas nunca pude deixá-lo”, recorda. Daí que prefira conservar a conversa em que o ator lhe disse que o amor que ela sentia era como o livro de Gabriel García Márquez O amor nos tempos do cólera. “Um de meus livros favoritos, de meu autor favorito e sobre meu tema preferido, amor eterno sem esperança”, resume na biografia.


Anjelica Huston / A Story Lately Told / Memórias de uma diva

$
0
0

Anjelica Huston

Anjelica Huston

A Story Lately Told

Memórias de uma diva

Falamos com Anjelica Huston sobre o primeiro volume de suas memórias

Ela esmiúça uma época rodeada pelos bosques da Irlanda, e pelos maiores de Hollywood

Uma vida marcada pela morte de sua mãe e pela perda de seus dois grandes amores


ROCÍO AYUSO
26 ABR 2014 - 17:00 COT




“O livro A Story Lately Told conta quem sou. Alguém que existiu muito antes de ser namorada de Jack Nicholson aos 20 anos. Alguém que começou a ser quem sou nos bosques da Irlanda ocidental onde me criei. Chame minha forma de me defender como pessoa, de definir quem sou, o que para mim é e foi importante. E me encantou ser a namorada de Jack, não me interprete mal. Mas sou muito mais que isso”. Assim nos recebe Anjelica Huston para falar do primeiro volume de suas memórias que foi publicado nos Estados Unidos e que, parafraseando uma canção popular de sua infância, tem o título A Story Lately Told. Ninguém poderia duvidar, basta olhar para ela, que esta mulher de 62 anos, rosto assimétrico, intensas feições e grande presença física –além de uma aura de estrela de outrora, das que já não existem ou são difíceis de encontrar- é muito mais que “a garota de”. Inclusive se esse “de” é Jack Nicholson. Huston também é muito mais que a soma de todos seus personagens, alguém que te faz pensar que a Maerose Prizzi de A Honra do Poderoso Prizzi (1985), a Mortícia Addams de A Família Addams (1991) e a Etheline Tenenbaum de Os Excêntricos Tenenbaums (2001) –algumas de suas criações mais lembradas- eram puros cordeirinhos a seu lado. 
Anjelica Huston foi, e continua sendo, uma força da natureza. Seguramente a herdou. Alguém não é filha de John Huston e neta de Walter Huston para ser uma mera mortal. Se trata da terceira geração do mais próximo que Hollywood esteve de contar com sua própria realeza. “Meu pai foi um grande homem. Em todos os sentidos”, ri com gargalhada sonora e honesta esta atriz e modelo, amante e esposa, produtora, diretora e agora escritora, mas sobretudo filha de um homem indômito, o Hemingway do cinema, de grandes apetites. “Não era somente seu caráter, era seu físico, um homem grande, de braços longos, pernas longas, pênis longo... muito bem dotado, já te digo. Alguém com o qual meu irmão e eu tomávamos café todas as manhãs, rodeado de livros e de esboços em uma cama enorme na casa do condado de Galway, na Irlanda, e que enquanto se levantava se dirigia nu ao banheiro, como Deus o trouxe ao mundo, onde se trancava com chave como se não tivéssemos o visto minutos antes, como se não tivéssemos olhado para ele com a mesma fascinação que toda criança olha os atributos de seus pais se perguntando se algum dia os seus serão assim”, diz categoricamente. 
A mesma sinceridade que coloca em seu livro, onde detalha uma infância mágica e cheia de privilégios, mas também carente de carinho. Esse é o estilo de Anjelica. Adquirido, diz, de seu pai. Um homem com uma filmografia faraônica de clássicos como O Tesouro de Sierra Madre (1948), Relíquia Macabra (1941), Moby Dick (1956) ou Uma Aventura na África (1951), e uma lista de amantes comparável somente à de Nicholson. Alguém, como diz Anjelica, considerado entre seus companheiros como “o pirata que gostariam ter tido a audácia de ser”. Apesar disso, era tudo menos esnobe. “E o mesmo dizia do avô, alguém pelo qual meu pai sempre sentiu uma grande paixão e que, mesmo que eu não tenha conhecido, me ensinou a tirar coragem da vida e a atacar as coisas que me dão mais medo, a enfrentar meus fantasmas”, resume. 
Sentada nos escritórios da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, um edifício de madeira talhada, sabor de outrora e poeira onde ficamos para esta entrevista, rodeada de fotografias de Marilyn Monroe e Jack Lemmon, e com um terno de jaqueta de cor berinjela e corte clássico de Donna Karan que cobre com um xale, é impossível conceber o que pode dar medo a essa pessoa aparentemente tão segura de si mesma. Alguém com a compostura suficiente para esmiuçar com toda simplicidade e como que de passagem como se fosse a coisa mais normal do mundo, uma vida pitoresca, onde os nomes de Ava Gardner, Marlon Brando, Peter O’Toole, Robert Capa, Helmut Newton, John Steinbeck ou Scott Fitzgerald salpicam as páginas do livro do mesmo modo que sua conversa, sem dar-lhes maior importância. E isso antes de falar de sua carreira como atriz ou como modelo. Nomes que se entrecruzam com esses momentos que fizeram história, o Maio de 68, a explosão musical londrina ou as baratas do hotel nova-iorquino Chelsea. A jovem Huston não perdeu uma. Também divide descaradamente sua habilidade (desde que tinha 10 anos) para preparar um martini, sua bebida preferida e a de seu pai; seu também cedo gosto por um bom charuto ou os 17 anos nos quais perdeu a virgindade e a sua mãe.
Enchi as páginas do livro de detalhes da minha mãe, porque sua figura sempre fica escondida à sombra desse grande homem que foi John Huston

Esse é um de seus fantasmas, a lembrança de uma mãe que desapareceu muito cedo do lado de uma menina dominada pelos grandes homens de sua vida. “Por isso enchi as páginas de detalhes pessoais sobre sua vida”, salienta ao falar dela. A bailarina nova-iorquina de origem italiana Enrica Ricki Soma foi a quarta esposa do então já famoso diretor, com o qual se casou em uma boda relâmpago no México. Ela tinha 18 anos e estava grávida do primogênito, Tony, e o diretor rondava os 40. Anjelica chegaria pouco mais de um ano mais tarde. “Para mim era vital fazer um exame profundo de quem foi minha mãe, alguém muito importante na minha vida, na vida de meu pai, na de meus irmãos, e que sempre fica escondida na sombra desse grande homem que foi John Huston. Alguém que me foi roubada em um acidente de trânsito”, acrescenta. Não é necessário um psicanalista para ver a grande marca que deixou nela uma mãe que descreve como uma beleza “translúcida e rara”, uma mulher na qual se sentiu muito unida “em conspirações e alianças”, mas com a qual nunca teve laços de ternura. Dela aprendeu a amar homens mais velhos, a aceitar infidelidades, e inclusive competiu com ela por amantes. Mas sempre esteve ao seu lado desde um parto que foi realizado em Los Angeles enquanto John Huston recebia a notícia no coração do que foi o Congo belga, agora Zaire, mediante um telegrama entregado a pé por um nativo descalço que levou durante a filmagem de Uma Aventura na África.

O também ator e diretor Danny Huston, fruto da relação de John Huston com Zoe Sallis, é meio-irmão de Anjelica. Assim lembra de sua vida familiar: “Está claro que as nossas infâncias não foram de Hollywood, mas o tempo que passamos com nosso pai, seja em um set ou na mansão familiar de St. Clerans, foi fascinante. Natais irlandeses nos quais nos reuníamos todos os filhos e todas as mulheres... e o drama que era montado. Meu pai gostava porque mesmo com o número de esposas que tivera, sempre foi um cavalheiro. E para mim, como menino, eram os melhores Natais que podia imaginar.”


A atriz, vestida com uma capa, em uma fotografia tirada em 1972.
Foto de 



mpliar foto
Anjelica reconhece fazer sentido ter todo tipo de emoções por Zoe Sallis. Do desespero para uma madrasta que pouco antes havia considerado sua melhor amiga sem pensar que também era a amante de seu pai, até um profundo amor por um bebê do qual se sentiu cúmplice: “Como explico no livro, me criei com Tony, meu irmão, por necessidade, porque não havia mais crianças. Mas nunca me senti tão unida a ele como me aconteceu anos mais tarde com Danny”. A atriz lembra que Tony herdou o espírito caçador de seu pai, “sempre misturado com a morte de animais”, enquanto ela é conhecida pelo seu trabalho na proteção dos grandes símios. “E aqui temos um conflito muito básico, mas que diz muito”, acrescenta ironicamente. Conta com outra irmã, Allegra, filha de sua mãe com outro homem que nunca lhe deu seus sobrenomes e que John Huston decidiu adotar depois da morte de Ricki. Anjelica viu Allegra nascer, mas conheceu Danny quando ele tinha dois anos. “E não achei graça, mas logo nos tornamos melhores amigos. Somos uma família muito diversa, mas que se mantém muito unida. Não posso te expressar o quanto sou orgulhosa de meu sobrinho Jack, o filho de Tony, e do trabalho que está fazendo em Boardwalk Empire: O Império do Contrabando. Ou com minha sobrinha Stella, a garota mais bonita de Danny, que até este ano viveu comigo. Vou sentir muito a falta dela”, reflete uma mulher que há anos decidiu não ter filhos. 
A solidão também foi outro dos motores que propiciaram estas memórias. Outro de seus medos pelo qual nunca se deixou ser conquistada. “O livro não foi somente terapia. Teve uma oferta, uma boa oferta, talvez não tão boa quanto queria, mas que picou a minha curiosidade”, agrega com rapidez e com os pés na terra. Certo que não é um livro que escreveu por amor à arte, mas Huston assume que a morte de seu esposo, o escultor mexicano Robert Graham, em 2008 e depois de 16 anos de casamento, foi o motivo para se colocar a escrever. “Até certo ponto todos estamos sozinhos ainda que vivamos nessa fantasia de que não estamos. E o reconhecimento da minha solidão é o que me fez triunfar como a mulher que sou. Algo que não é fácil para ninguém e tampouco para mim. Me ajudou quando minha mãe morreu, logo meu pai e agora meu marido”, admite. Foi nesse momento de encruzilhada na sua vida, quando os trabalhos como atriz foram mais escassos e o eco do êxito –ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante em 1986 por A Honra do Poderoso Prizzi e foi candidata por Inimigos, Uma História de Amor (1989) e Os Imorais (1990)- mais e mais longe, quando se voltou para suas memórias.

Nossas infâncias não foram de Hollywood, mas os Natais eram os melhores que podia imaginar

O processo levou mais de três anos e meio, escrevendo a mão suas lembranças em um manuscrito que acabou escrevendo ela mesmo porque não lhe agradou o escritor sombra que lhe indicaram e para fugir da carniça que buscavam alguns de seus editores. De sua parte não houve censura, apenas lembranças que tomaram vida própria. “Havia coisas nas quais tampouco me sentia orgulhosa na hora de escrever, mas foram necessárias para completar o quebra-cabeça”, reconhece pensando, entre outros instantes de sua vida, nessa tentativa de suicídio no qual cavou durante sua primeira relação de casal estável junto ao fotógrafo Bob Richardson quando ainda era adolescente.
John Huston e sua filha Anjelica

A Danny Huston ficou gravada para toda a vida a presença de Ava Gardner na casa familiar, seu primeiro amor platônico. Anjelica menciona a atriz como a primeira grande estrela que conheceu, mas admite que somente Peter O’Toole a deixou, literalmente, sem fala: teve que suspender seu primeiro trabalho como atriz –em uma obra infantil na sua casa- porque ao se cruzar com seus olhos azuis esqueceu de seu texto. Também lembra um encontro com Marlon Brando, que a convidou para sua ilha no Taiti quando ela era ainda muito jovem. Nunca conheceu Marilyn Monroe, mas escutou histórias suficientes da boca de seu pai que poderia escrever outro livro. “A mais forte e às vezes a mais vulnerável das mulheres americanas”, resume. 
Anjelica atribui sua boa memória a seu trabalho como atriz. Uma memória não somente vivida, mas olfativa, falando de uma Londres que fedia a “tabaco, vinagre, patchouli, peixe e fritas, fruta passada, bacon e humanidade”, enquanto os homens cheiravam a “Vetiver, Brut e Old Spice”, e as mulheres a “lavanda e sândalo”, no final dos anos sessenta. Talvez por isso a atriz não cheira a nada, e os que a rodeiam, como Wes Anderson, dizem que sua musa é “uma grande presença”. “Alguém espetacular”, como acrescenta Jeff Goldblum. Há os mais atrevidos, como Danny Glover, para quem Anjelica é “extraordinária” tanto na tela como na vida real. “Há algo na sua maturidade, na sua beleza fora do normal, na sua alma, que a fez desde sempre minha maior fantasia erótica. E olha que acabei me casando com ela em Os Excêntricos Tenenbaums”, recorda o ator com humor.


Huston, junto a seu primeiro grande amor, o ator Jack Nicholson

Para Jack Nicholson, Huston foi e sempre será sua deusa, essa que teve e deixou ir embora depois de 16 anos de amor e infidelidades que concluíram com o anúncio de que o grande Jack esperava um filho de outra mulher. Segundo confessou recentemente, o ator se sentiu “emocionalmente aniquilado” depois da ida de Huston. Uma relação que, apesar dos anos, continua existindo, ao menos na forma de amizade. “Não seria feliz se não contasse com ele”, disse Huston em outras ocasiões. De fato, a ele a à sua relação sera dedicado o Segundo volume de memórias. O primeiro livro termina quando a atriz chega à Califórnia depois de uma infância idílica na Irlanda, uma adolescência tumultuada em Londres e uma primeira relação fracassada em Nova Iorque.

Meu pai foi uma grande influência na minha vida, nos meus homens, sempre maiores que o comum, um pouco mais velhos e fortes

“No segundo volume falarei de Jack, de minhas tentativas de recuperar minha carreira como atriz depois desse primeiro filme com meu pai, de sua doença...”. Por um momento, Anjelica deixa que o silêncio fale por ela, recuperando a fala para enfrentar o fantasma que leva sentado a seu lado durante toda a conversa. “Meu pai sempre foi uma grande influência na minha vida, nos meus homens, sempre maiores que o comum, pouco mais velhos, fortes, e assim foi até meu casamento”. No seu discurso não há lugar para o arrependimento. Talvez relações fracassadas, admite. Ou momentos nos quais se sentiu como idiota, sim. Mas tudo faz parte dessa aventura que é sua vida, essa que transcorreu rodeada de tesouros procedentes dos cantos mais remotos do planeta nos quais seu pai esteve rodando e que decoraram uma infância que, nas palavras de Ajelica Huston, soa como um paradisíaco Downtown Abbey irlandês a ponto de sucumbir na revolução cultural e sexual dos anos sessenta e setenta. “É difícil para mim voltar à Irlanda. O mesmo com o México. Cometi o erro de voltar há pouco a um desses lugares onde ia com meu pai e agora está cheio de turistas... Mas o melhor conselho que me deu meu pai é que sempre se pode levantar e ir. Coloque as mãos nos bolsos e vá. Às vezes é difícil, mas não impossível”, resume fazendo o gesto, mesmo que seu terno não tenha bolsos.

Article 0

$
0
0


“Como os judeus inventaram Hollywood”

Livro conta como judeus emigrados aos EUA tornaram indústria o artefato dos irmãos Lumière


CARLOS BOYERO
30 ABR 2016 - 15:36 COT

Eles nasceram no século XIX e, com suas impressionantes invenções, causaram alvoroço no século XX e nos que ainda virão. Revolucionaram a ciência, o pensamento, a psiquiatria. Desmentiram verdades consideradas imutáveis. Foram geniais. Chamavam-se Albert Einstein,Karl Marx e Sigmund Freud. Não pode ser coincidência o fato de os três serem judeus. Tampouco se deve ao acaso a constatação da deslumbrante maioria desse grupo entre os premiados com o Nobel em todas as suas categorias. Torna-se evidente o respeito e a dedicação ancestral dos genes hebreus em relação à cultura, à arte, às ideias, essas coisas que servem de alimento para a alma. Também em relação aos inventos que melhoram a existência das pessoas, isso que é conhecido por progresso.

Reduzir a vocação desse grupo à sua transparente capacidade para os negócios, sua habilidade, intuição ou astúcia para ganhar dinheiro é uma simplificação grotesca. É verdade que bancos de todo o mundo e de Wall Street apresentam vários sobrenomes judeus em seus quadros. Mas revisem a história da música, da filosofia, da literatura, da pintura, do teatro ou do cinema, e descobrirão que o protagonismo desse grupo étnico é esmagador. Sei que não se deve generalizar sobre virtudes e defeitos dos povos, que se corre o risco de cair em um estereótipo perigoso e inexato, que há de tudo nas diferentes e múltiplas videiras do Senhor. Mas também sei que a tradição, a educação ou a tendência a explorar caminhos determinados e transcendentes relacionados com o espírito fazem parte das eternas marcas de identidade de alguns povos.
Sabemos que o cinema como artefato nasceu dos irmãos Lumière, ou de Edison, ou de algum personagem experimentador que não conseguiu sair do anonimato porque não soube vender sua invenção. Sabemos que Méliès dotou de linguagem essa máquina mágica. Todos gentis. Mas está claro que aqueles que transformaram o cinema em uma indústria de proporções colossais e que tentaram fazer com que um dia a modalidade passasse a ser chamada de sétima arte foram os hebreus que emigraram para os Estados Unidos. E se mergulharmos no expressionismo alemão, também os encontramos. E na Rússia, um tal Eisenstein. E assim vai.
Foram tchecos, húngaros e poloneses com dificuldades para se expressar em inglês os criadores do American way of life
A história desses peleteiros tchecos, alfaiates húngaros, viajantes ucranianos e comerciantes poloneses que acabarão por fundar Hollywood (e ali continuam depois de cem anos) é contada em um apaixonante livro de Neal Gabler, tão bem documentado quanto bem escrito, intitulado An Empire of Their Own: How the Jews Invented Hollywood (“Um império próprio: como os judeus inventaram Hollywood”). Publicado em 1989, até agora não tinha tradução para o espanhol. Antes tarde do que nunca. Permanece, infelizmente, sem tradução ao português.
Gabler não só apresenta dados como também possui teorias sobre o envolvimento dos judeus no cinema norte-americano – não apenas com a intenção de enriquecer, mas ainda de conquistar a respeitabilidade e de satisfazer sua ânsia de integração no novo mundo, criando através de seus filmes o American way of life, orientando a venda de sonhos para as classes média e baixa, propondo como modelos vitais pessoas sem a menor relação com a origem de seus criadores. Essa exibição permanente sobre os princípios, os ideais e os valores que definiam o estilo de vida norte-americano era inventado por gente que provavelmente falava o inglês com dificuldade e cujos pais se comunicavam em ídiche; que tinham vivido na Europa os massacres, o medo e a discriminação; que haviam atravessado realidades muito duras antes de vender aos nativos nas telas a América que eles imaginavam.
E tinha de tudo entre aqueles magnatas judeus que buscavam seu lugar ao sol. Desde aqueles que americanizaram seus sobrenomes tentando ocultar suas origens aos que continuaram fiéis aos antigos rituais de sua religião e de suas tradições; daqueles que continuaram tendo consciência da sua etnia àqueles que tentavam parecer mais norte-americanos do que os que tinham nascido ali há várias gerações, mais papistas que o Papa em uma religião na qual não foram educados; dos que com seu poderio econômico ajudavam Israel (incluindo o terrorismo do Irgun) ou contratavam apenas judeus ao todo-poderoso, cruel e cínico Harry Cohn, que manifestava sua admiração incondicional por Mussolini, ou ainda Louis Mayer, que alardeava a amizade íntima e cumplicidade moral com o temível cardeal Spellman e, de quebra, impedia que a hierarquia católica se ofendesse com nenhuma das mensagens subversivas que poderiam surgir em algum de seus filmes.
Reduzir a vocação desse grupo a sua habilidade, intuição ou astúcia para ganhar dinheiro é uma simplificação grotesca
Neal Gabler segue o rastro dos czares dos grandes estúdios de Hollywood desde que eles descobrem, no início do cinema mudo em Nova York, o imenso negócio que poderiam fazer ao se transformarem em exibidores e distribuidores, até sua mudança para a Califórnia para também passarem a produzir e conquistar o controle absoluto de uma diversão que fascinava o grande público, em uma época que abarca dos anos dez aos anos quarenta. Gabler faz um retrato inteligente, complexo e penetrante, repleto de luzes e sombras, de Adolph Zukor, Carl Laemmle, Jesse Lasky, os irmãos Warner e os irmãos Cohn, William Fox, Louis Mayer, Marcus Loew e do único príncipe de Hollywood, menino prodígio e enigmático, incapaz de se enganar na avaliação dos filmes, temido e secretamente romântico, grande cérebro e executivo da Metro, tornado diretor do estúdio aos 20 anos e morto aos 37: um tal Irving Thalberg, alguém cuja obra o glorifica e que mereceu que o grande Scott Fitzgerald o fizesse protagonizar, sob o nome de Monroe Starr, seu último e inacabado romance, O Último Magnata.
Gabler resume lucidamente a criação e o crescimento de Hollywood com esta reflexão: “Os estúdios eram depósitos de sonhos e esperanças, segurança e poder. Se alguém não podia controlar o mundo do poder e a influência reais, o prestigioso mundo dos grandes negócios, as finanças e a política, ao menos através do estúdio poderia criar todo um universo fictício para controlar. O que dava a cada estúdio uma personalidade única era o elaborado cálculo da situação econômica, a localização de seus cinemas, a tradição, a geografia e muitas outras coisas; mas, principalmente, era o produto da personalidade de um homem, ou de alguns homens, a quem pertencia e que o dirigia. Os magnatas criavam os estúdios à sua imagem e semelhança para realizar seus próprios sonhos”.


Hedy Lamarr, a atriz que inventou o wifi

$
0
0

Hedy Lamarr

Hedy Lamarr, a atriz que inventou o wifi

Google homenageia com um doodle a primeira mulher que ficou nua nas telas do cinema


9 NOV 2015

Se um roteirista tivesse imaginado uma vida como a sua, ninguém teria acreditado em um personagem como o de Hedy Lamarr (Viena, 9 de novembro de 1914). A atriz a quem o Google dedica hoje seu doodle, coincidindo com o 101º aniversário de seu nascimento, foi a primeira a ficar nua na história do cinema e a primeira a interpretar um orgasmo nas telas. Mas hoje o site de buscas na Internet lembra dela por ter desenvolvido a teoria do espectro de difusão, o precursor do wi-fi.

A vienense fez história com 16 anos ao aparecer nua emÊxtase, de Gustav Machaty. Iniciou assim uma carreira que a transformou na “mulher mais bonita da história do cinema”, como era conhecida em seus anos de esplendor. Mas, depois das filmagens, a estrela de Hollywood dedicava as noites a desenvolver um sistema de salto de frequências de comunicação, precursor do atual wi-fi.
Um dia Lamarr conheceu o compositor e pianista George Antheil, um pioneiro da música mecanizada e da sincronização automática dos instrumentos. Juntos pensaram em aplicar o princípio da pianola aos torpedos dirigidos por rádio. Ou seja, empregar rolos de papel perfurado para que a frequência da comunicação fosse saltando entre 88 valores distintos (o número de teclas do piano), segundo uma sequência que somente poderiam conhecer aqueles que possuíssem um código. Isso impediria que o sistema fosse interceptado. A patente foi publicada em 11 de agosto de 1942 com o número 2.292.387, sob o título Sistema de Comunicação Secreta.
O sistema de Antheil e Lamarr, entretanto, não foi imediatamente explorado. Para Stephen Michael Shearer, biógrafo da atriz e autor de Beautiful: The Life of Hedy Lamarr isso ocorreu por duas razões: “Primeira e mais importante, o governo não entendeu ou não conceitualizou naquele momento a comunicação sem fio”. Mas, segundo o autor, o segundo motivo se devia ao perfil incomum da inventora. “Possivelmente o invento foi encostado porque Lamarr era tida como a mais bela mulher do mundo e devemos considerar que nessa época ninguém levava a sério uma mulher bonita em questões intelectuais”.
A invenção de Antheil e Lamarr, entretanto, seria aproveitada a partir dos anos 60, quando a patente foi utilizada para o desenvolvimento de comunicações militares sem fio para mísseis guiados. Seu trabalho como inventora só foi reconhecido depois de sua morte, no ano 2000. Desde 2005 seu aniversário, em 9 de novembro, é visto como o Dia do Inventor nos países de língua alemã (Áustria, Suíça e Alemanha) e em maio de 2014, Lamarr e Antheil foram incorporados ao Inventors Hall of Fame dos EUA.







Actriz, inventora y fuente de inspiración. 101.º aniversario del nacimiento de Hedy Lamarr 
EL PAÍS




Sigmund Freud, o homem que deu significado aos sonhos, homenageado em 'Doodle'

$
0
0
Sigmund Freud

Sigmund Freud, o homem que deu significado aos sonhos, homenageado em 'Doodle'

Nascimento do pai da psicanálise completa 160 anos nesta sexta-feira e é lembrado em um 'Doodle'


DAVID BERNAL
Madri 6 MAI 2016 - 16:10 COT


Sigmund Freud, o pai da psicanálise, nasceu há exatos 160 anos. E seu nascimento não foi esquecido pelo Google, que o homenageou com um doodle nesta sexta-feira. Somos como um iceberg, do qual só se vê a ponta. Tudo o que está debaixo da água é o nosso subconsciente, um amontoado de desejos e traumas que reprimimos, mas que dão forma aos nossos sonhos. E foi o neurologista quem criou essa teoria, hoje tão aceita e, com isso, mudou a nossa forma de pensar, com conceitos como narcisismo, pulsão de morte e Complexo de Édipo. Foi uma das figuras mais polêmicas e influentes do século XX.

Sigmund Freud nasceu em 1856 em uma cidade da República Tcheca, dentro de uma família judia que vivia grandes dificuldades econômicas, o que não lhe impediu de ingressar na Universidade de Viena, capital aonde chegou aos três anos de idade e onde viveu a maior parte de sua vida. Depois de se diplomar como médico em 1881, Freud focou seus estudos na pesquisa das propriedades anestésicas da cocaína, o que gerou a sua primeira polêmica, já que, segundo se depreende de algumas correspondências, ele acabou por provocar a dependência de um amigo que pretendia curar (e até mesmo a sua própria).
Depois de se casar com Martha Bernays, o amor de sua vida, Sigmund Freud abriu, em 1886, uma clínica particular, onde adotou o uso da hipnose no tratamento da histeria tal como havia estudado em Paris (França) e incorporou o método catártico de seu mentor Josef Breuer. Pouco a pouco, porém, acabou por abandoná-lo, substituindo-o pela associação livre e a interpretação dos sonhos, germe de uma nova maneira de entender o homem: a psicanálise.
O livro A Interpretação dos Sonhos, publicado em 1899, é a obra mais importante e mais conhecida de Freud. Nela se estabelecem as bases da psicanálise, um método terapêutico ao qual foram aderindo aos poucos vários adeptos, apesar da desconfiança que despertou em uma parte da comunidade científica, que o via como uma espécie de filósofo que repensou a natureza humana e ajudou a quebrar tabus --sobretudo sexuais--, mas não como médico. Seu objetivo era trazer para o consciente (a ponta do iceberg) todos esses pensamentos, sentimentos e desejos reprimidos do subconsciente (aquilo que está sob a água).
Além de criar seus conceitos revolucionários como inconsciente, desejo inconsciente e repressão, Sigmund Freud dividiu a mente humana em três partes: id, ego e superego. Também definiu o Eros, ou pulsão de vida, e o Tanatos, ou pulsão de morte. E desenvolveu um método psicossexual que – embora criticado por relacionar a sexualidade a conceitos como incesto, perversão e distúrbios mentais— ensejou teorias como a do Complexo de Édipo e derrubou tabus em uma sociedade ainda adoecida e reprimida.
Mesmo com ele tendo sido questionado por alguns de seus colegas, a influência de Sigmund Freud na filosofia, na política, na linguagem e na arte do século XX é inquestionável. Sem ele não seria possível entender as obras de artistas como André Breton e Salvador Dalí, ou de cineastas como Luis Buñuel, Alfred Hitchcock e Woody Allen, que, com o seu cinema, criou a imagem que temos da psicanálise: um homem contando a sua vida ao seu terapeuta no conforto de um divã.
Sigmund Freud foi uma figura controvertida até o último dia de sua vida. Em 1938, declarado inimigo do Terceiro Reich, teve de fugir para Londres. Seus livros foram queimados publicamente e suas irmãs (ele tinha cinco) morreram em campos de concentração. Ele faleceu um ano depois, vítima de um câncer do palato provocado pela dependência do tabaco. Seu médico lhe administrou três doses de morfina, e ele então submergiu, para sempre, no mar de seu próprio subconsciente. Uma pequena cratera na lua foi batizada com o seu nome.



Freud nasceu há 160 anos. Que ~loucura~. Dá uma olhada no divã que os pacientes dele usavam: http://goo.gl/udOh9O 
EL PAÍS




Buscando sexo no Google

$
0
0


Buscando sexo

no Google

Pesquisador analisa compilação de dados de pesquisas no Google de temas ligados a sexo


SETH STEPHENS DAWIDOWITZ (THE NEW YORK TIMES)
14 FEV 2015 - 18:00 COT



EVA VAZQUEZ

Você se sente confuso sobre sexo? Eu, com certeza, sim. Uma das muitas razões pelas quais o sexo acaba sendo um assunto tão desconcertante é que não temos dados confiáveis. As pessoas mentem para os amigos, para os amantes, para os médicos, nas pesquisas e para si mesmas.
Há três anos, quando era estudante de pós-graduação em economia, comecei a escrever sobre como os novos dados, especialmente nas buscas no Google, podiam nos proporcionar “insights” inéditos sobre temas socialmente delicados. Desde então, muita gente tem me pedido para escrever sobre sexo. Eu ficava reticente porque queria pesquisar mais. Agora, finalmente, estou preparado para dizer algo a respeito. O resultado poderia ser chamado de: “Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo, mas não tinha dados para perguntar”.
Comecemos pelo básico. Com que frequência fazemos sexo? As pesquisas tradicionais não servem para responder a essa pergunta.



Analisei os dados de uma fonte clássica: a Pesquisa Social Geral [dos Estados Unidos] . Os homens heterossexuais a partir de 18 anos dizem que sua média é de 63 relações sexuais por ano, e que utilizam preservativo em 23% delas. Isso resulta em mais de 1,6 bilhão de vezes nas quais o preservativo foi usado em relações heterossexuais por ano. As mulheres heterossexuais afirmam que sua média é de 55 relações sexuais ao ano, e que utilizam preservativo em 16% delas. Com esse dado, seriam 1,1 bilhão de relações heterossexuais com uso de preservativo ao ano. Quem está dizendo a verdade? Os homens? Ou as mulheres? Nenhum dos dois. Segundo a Nielsen, por ano são vendidos menos de 600 milhões de preservativos.
Também pode ser que os norte-americanos exagerem na frequência com a qual praticam sexo sem proteção. Mais ou menos 11% das mulheres entre 15 e 44 anos declaram que são sexualmente ativas, que não estão grávidas e que não utilizam nenhum método contraceptivo. Inclusive partindo de pressupostos relativamente conservadores sobre quantas vezes mantêm relações sexuais, seria de se esperar que 10% ficassem grávidas a cada mês. No entanto, somente esse dado superaria o número total de mulheres grávidas nos EUA (que é de uma a cada 113 mulheres em idade reprodutiva).
Os homens que nunca se casaram declaram que utilizam uma média de 29 preservativos por ano, o que supera o total de preservativos vendidos nos EUA para casados e solteiros.


A segunda pergunta mais frequente entre os homens é como prolongar o ato sexual

É provável que as pessoas casadas também exagerem o número de suas relações sexuais. Na média, os homens casados com menos de 65 anos respondem nas pesquisas que mantêm relações sexuais uma vez por semana. Apenas 1% diz que não teve relações no ano anterior. As mulheres casadas declaram uma frequência menor, embora o número não fique muito abaixo.
As buscas no Google proporcionam um quadro muito menos animado do sexo no casamento. A primeira queixa sobre a vida conjugal é a de que não existe sexo. O número de buscas “casamento sem sexo” supera em três vezes e meia as de “casamento infeliz”, e em oito vezes as de “casamento sem amor”. As queixas de que o cônjuge não quer ter relações sexuais superam em 16 vezes as reclamações de que o parceiro não está disposto a conversar.
Até os que ainda não estão casados se lamentam com certa frequência da ausência de relações sexuais. As buscas no Google sobre “relacionamento sem sexo” ocupam o segundo lugar, atrás apenas de “relacionamento abusivo”.
No Google, há cinco vezes e meia mais reclamações sobre um parceiro que não quer ter relações sexuais do que sobre aquele que não responde mensagens de texto. Também há mais queixas sobre o “namorado” que não quer ter relações do que sobre a “namorada” que não quer. As queixas sobre os “maridos” e sobre as “mulheres” são mais ou menos as mesmas. (Uma observação rápida sobre a sexualidade: estou supondo que a grande maioria das buscas que contêm “minha namorada” ou “minha esposa” tenham sido feitas por homens). Considerados no total, os dados indicam que os norte-americanos mantêm relações sexuais cerca de 30 vezes por ano, ou seja, uma vez a cada 12 dias.
O sexo pode ser muito divertido. Por que praticamos tão pouco? As buscas no Google indicam um motivo predominante: uma enorme ansiedade, que se encontra em grande medida no lugar errado.
Comecemos pela neurose dos homens. Não é nenhuma novidade que os homens se preocupam com seus órgãos genitais, mas o grau dessa preocupação é bem alto. Não é possível saber o gênero de um usuário apenas por uma busca no Google. No entanto, frequentemente, é possível fazer uma suposição bastante precisa para buscas referentes ao sexo e às partes do corpo, como “meu pênis...”.
Os homens perguntam muito mais vezes no Google sobre seu órgão sexual do que qualquer outra parte do corpo; mais do que sobre os pulmões, o fígado, os pés, ouvidos, nariz, garganta e cérebro juntos; fazem mais buscas perguntando como aumentar o tamanho do pênis do que sobre a maneira de afinar uma guitarra, fazer um omelete, ou trocar um pneu.


As mulheres se preocupam tanto com o tamanho do pênis? Segundo as buscas no Google, poucas vezes

A primeira preocupação expressada pelos homens na ferramenta de busca em relação aos esteroides é se, caso sejam tomados, poderiam reduzir o tamanho do pênis. A primeira consulta que fazem em relação às mudanças que a idade provoca no corpo ou na mente é se o pênis diminui. (Parênteses: uma das perguntas mais frequentes no Google é “qual o tamanho do meu pênis?”. Em minha opinião, o fato de esses homens fazerem essa pergunta à ferramenta de busca em vez de usarem uma régua é a manifestação por excelência de nossa era digital.)
As mulheres se preocupam tanto com o tamanho do pênis? Segundo as buscas no Google, poucas vezes. Para cada busca delas sobre o pênis do parceiro, os homens pesquisam cerca de 170 vezes sobre o próprio órgão genital. A verdade é que, nas poucas vezes em que as mulheres mostram preocupação com o pênis do parceiro, geralmente fazem referência ao tamanho, mas não necessariamente por ser pequeno. “Dor” é a palavra mais utilizada nas buscas do Google com a frase “... durante o sexo”.
Cerca de 1% das buscas relacionadas à mudança de tamanho do próprio pênis pedem informação sobre como diminuí-lo.


Quando o tema é sexo, as pessoas mentem para os amigos, para os amantes,  médicos, nas pesquisas e para si mesmas

Outra das principais preocupações sexuais tem a ver com a ejaculação precoce. A segunda pergunta mais frequente entre os homens é como prolongar o ato sexual. Mais uma vez, parece que as inseguranças dos homens não são as mesmas das mulheres. O número de buscas perguntando como fazer com que o parceiro alcance o clímax mais depressa e como alcançá-lo mais devagar é mais ou menos o mesmo. De fato, o que mais preocupa as mulheres no que se refere ao orgasmo do companheiro não é quando ocorreu, mas por que não conseguiu atingi-lo.
A insegurança dos homens com seu corpo não é algo de que se fale com frequência. E se é certo que, em geral, o interesse pela aparência pessoal predomina entre as mulheres, a diferença não é tanta como os estereótipos levariam a pensar. Segundo minha análise do Google AdWords (também baseado na atividade global anônima na Internet), o interesse pela beleza e pela boa forma física corresponde a 42% do público masculino; no caso da perda de peso, a porcentagem é de 33% e, da cirurgia plástica, de 39%. De todas as buscas com “como?” relacionadas ao peito, cerca de 20% perguntam de que maneira um homem pode se desfazer das mamas.
O que esses novos dados podem nos ensinar sobre as inseguranças das mulheres? Nos EUA, a cada ano há mais de sete milhões de buscas relacionadas com os implantes de mamas. As estatísticas oficiais nos dizem que cerca de 300.000 mulheres se submetem a eles anualmente. As mulheres também mostram uma grande insegurança no que se refere aos seus quadris, embora recentemente tenham mudado de opinião em relação ao que não gostam neles.
Em 2004, em alguns lugares dos EUA, a busca mais frequente relacionada a mudanças nos quadris era sobre maneiras de diminuí-los. O desejo de aumentar seu tamanho concentrava-se de maneira avassaladora nas regiões de abundante população negra. Entretanto, no início de 2010, o afã por ter um traseiro maior aumentou no restante do país. Esse interesse triplicou em quatro anos. Em 2014, em todos os estados havia mais buscas sobre como aumentar do que como diminuir o tamanho do traseiro. Atualmente, nos EUA, para cada cinco buscas sobre implante de seios, há uma relacionada a implantes de glúteos.


Até os que ainda não estão casados se lamentam com certa frequência da ausência de relações sexuais

A crescente preferência das mulheres por um traseiro maior corresponde às preferências dos homens? A resposta é sim. Nos últimos tempos, a popularidade das buscas contendo “pornografia bunda grande”, que também costumavam estar concentradas nas comunidades negras, disparou em todo o país.
Que mais querem os homens do corpo de uma mulher? No departamento do previsível, manifestam sua preferência por seios grandes. Cerca de 12% das buscas de pornografia sem gênero específico querem encontrar seios grandes. Seu número supera em quase 20 vezes o de buscas de pornografia com seios pequenos.
Dito isso, não está claro que signifique que os homens queiram que as mulheres coloquem implantem mamários. Cerca de 3% das buscas de pornografia com seios grandes especificam que querem ver seios naturais. As buscas a respeito da própria esposa e implantes de mamas dividem-se igualmente entre as consultas sobre como convencer a mulher a fazê-los e a perplexidade sobre o por quê de ela querer fazê-los. Ou pensemos na busca mais frequente a respeito dos seios da namorada: “Eu adoro os peitos da minha namorada”. Não está claro o que os homens esperam encontrar quando fazem essa busca no Google.


Se é certo que o interesse pela aparência pessoal predomina entre as mulheres, a diferença não é tanta

Já sei que estou obcecado com as buscas no Google e com outros conjuntos de dados novos. Pergunto-me constantemente se não estou indo longe demais. Qualquer pesquisador, independentemente de qual seja sua base empírica, pode fazer com que suas inclinações se interponham no caminho da verdade. Todos esses dados são públicos. Sem dúvida, outros especialistas acrescentarão suas próprias interpretações e farão novas perguntas.
Dan Ariely, um psicólogo da Universidade Duke, dá um motivo para tomar cuidado na interpretação desses dados. Enquanto a maioria das fontes subestima os pensamentos relacionados ao sexo, ele suspeita que o Google pode supervalorizá-los. Nas palavras de Ariely, “o Google é um reflexo daquilo que as pessoas não sabem e sobre o que querem saber mais”. Se as pessoas não sabem fazer omelete, é provável que simplesmente perguntem a alguém da família. Menos provável é que perguntem a um parente como aumentar o tamanho do pênis. Outra coisa surpreendente sobre o big data [dados em massa] é seu tamanho reduzido. Muitas pessoas pensam que qualquer busca no Google é feita milhões de vezes, mas é possível que, ao consultar os dados do volume total mensal de buscas para várias frases, acabem se perguntando: “É só isso?”.
As pessoas não teclam no Google tudo o que pensam. Os dados do buscador são uma pequena amostra dos pensamentos e preocupações de todo o mundo. São sugestivos, não definitivos.


Os dados do buscador são uma amostra dos pensamentos e preocupações de todo o mundo. São sugestivos, não definitivos

Não sou, nem de longe, um especialista em sexo. Não sou psicólogo, nem terapeuta sexual profissional, mas o que penso é o seguinte: quase todos os estudos que realizei com base em buscas no Google fizeram com que me sentisse mal em relação ao mundo. Existe um número enorme de pessoas racistas e sexistas, e uma infinidade de crianças que sofrem abusos sem que ninguém denuncie. Mas, depois de examinar os novos dados sobre o sexo, já estou melhor, porque me fazem sentir menos solitário. Em meus estudos anteriores de dados do Google descobri a crueldade que os humanos costumam esconder. Desta vez, por outro lado, o que vi foram nossas inseguranças ocultas. Homens e mulheres estão unidos nessa insegurança e nessa confusão.
O Google também nos dá razões legítimas para nos preocuparmos menos do que estamos acostumados. Muitos de nossos medos mais profundos sobre a forma como nossos parceiros sexuais nos veem são injustificados. A sós com seus computadores, sem nada que que os leve a mentir, os parceiros se revelam pouco superficiais e bastante compassivos. Na realidade, estamos todos tão ocupados julgando nossos próprios corpos que sobra pouca energia para julgar os outros.
Talvez se nos preocupássemos menos com o sexo, poderíamos praticá-lo mais.


Casais que vivem juntos mas não têm vida sexual

$
0
0
Imagem promocional de ‘Masters of Sex’. AMC

Casais que vivem juntos mas não têm vida sexual

O número de casais que deixam de manter relações está aumentando


RITA ABUNDANCIA
19 NOV 2014 - 12:27 COT

Os casais que vivem juntos, se dão bem, aparentemente não têm grandes problemas, mas estacionaram sua vida sexual – não se sabe muito bem por quê –, são cada dia mais numerosos. Segundo pesquisas de Robert Epstein, famoso psicólogo de San Diego e fundador e diretor do Centro Cambridge de Estudos do Comportamento em Beverly, Massachussetts, entre 10 e 20% dos casais nos Estados Unidos não fazem sexo, o que equivaleria a 40 milhões de pessoas. Acredita-se, além disso, que o número pode ser muito maior na realidade, já que muitos indivíduos se recusam a falar de sua vida sexual e muito menos reconhecem que carecem dela quando têm um parceiro. Para Epstein, um casal sem sexo é aquele que mantém menos de uma relação por mês ou menos de 10 por ano.
Mas a verdade é que, após vários anos de convivência, não é difícil engrossar a lista de casais assexuados, ainda que exista bom relacionamento, comunicação e até intimidade. O sexo é a primeira coisa que se deixa para depois quando a lista de afazeres é longa e extensa. Em parte porque ainda continuamos com a ideia de que a paixão e o entusiasmo são qualidades incluídas no pacote “duas pessoas que se amam e vão morar juntas”. Mesmo que venham, o que acontece é que as baterias descarregam. Ante essa nova situação, muitos pensam que a vida é assim mesmo e que, inevitavelmente, tudo chega ao fim – não lhes ocorre pensar em baterias de reposição. Como se dão bem, gostam do mesmo tipo de filme e ainda têm muitos anos de hipoteca, iniciam um período de hibernação interrompido pelas férias de verão, quando podem ter algumas relações só para se dar conta de que é quase melhor não tê-las.
Podem continuar assim o resto de seus dias ou pode acontecer de alguém cruzar o caminho de um dos dois, fazendo com que descubra o sexo pela segunda vez, ou talvez pela primeira, e ponha fim a uma relação que é mais de companheiros de apartamento, que de cama. Foi o que aconteceu com Lorena, 39 anos, depois de seis anos sem vida sexual. “Quando o sexo começou a deixar de ser frequente eu tentei perguntar a meu ex o que estava acontecendo. Eu ainda tinha desejo, mas ele dava desculpas quase sempre, até que chegou um momento em que eu também entrei nessa dinâmica. É como quando você quer algo que não consegue, então deixa de pensar naquilo para não se aborrecer. Assim eu me convenci de que estava tudo normal, porque acontecia o mesmo com minhas amigas. O sexo também não é nada de mais, dizíamos, e até fazíamos piadas sobre o fato de que quando estávamos solteiras ‘molhávamos’ mais. Quem me tirou dessa letargia foi alguém que conheci em uma festa e que é meu companheiro atual. Mas lembro do rompimento como um algo muito doloroso. Nós nos dávamos muito bem, falávamos de tudo e eu fiquei um pouco como a ninfomaníaca insaciável que abandona o homem de sua vida por uma transa”.

As consequências

Perder o fator sexo em dado momento é normal em toda relação, o que não é tão normal é enterrá-lo sem motivo aparente. Segundo Francisca Molero, sexóloga, ginecologista e diretora do Institut Clinic de Sexologia de Barcelona, isso pode ter origem em problemas fisiológicos, ainda que esse não seja o motivo na maioria das vezes. “É o caso das mulheres que começam a pensar que já não são atraentes e, por isso, seus companheiros não as procuram mais, ou o de muitos homens nos quais a recusa de relações sexuais por parte de suas mulheres começa a provocar insegurança e ansiedade, o que acaba afetando a resposta sexual e pode, finalmente, provocar ejaculação precoce ou outros transtornos. O cognitivo bloqueia ou controla o instinto. Infelizmente, a falta de interesse no sexo nem sempre afeta de igual maneira os dois membros do casal. O mais comum é que um continue querendo ter relações e o outro não, o que também é fonte de frustração, culpas, brigas, raiva contida. Tudo isso, cedo ou tarde, acabará minando a relação”, comenta a sexóloga.
Recentes estudos científicos indicam que as mulheres são as primeiras a perder interesse após anos com o mesmo companheiro e que a síndrome do desejo hipoativo, ou seja, a falta de vontade, poderia ser nada mais nada menos que tédio, como expunha um artigo publicado no Huffington Post intitulado Seria a monogamia a causa de disfunção sexual feminina e uma pílula, a solução? A maioria dos homens, por outro lado, depois de um tempo de convivência, começam a cansar-se de sempre ter de tomar a iniciativa no terreno erótico, do mito de que estão sempre dispostos e da crença de que o gênero feminino é o que mais necessita que lhe dourem a pílula. Raúl e sua companheira tinham consciência de que as baterias deveriam ser trocadas de vez em quando, mas ele é que ficou incumbido da manutenção. “A verdade é que nosso lado sexual tinha piorado, perdido qualidade, e imagino que foi isso que nos fez começar a esquecê-lo”, conta Raúl, “então decidimos reativá-lo. Mas nessa reforma começaram a surgir muitas recriminações, frustrações, desejos não realizados. Fui retratado como o principal responsável por não haver mais tantas preliminares nem paixão, por deixar de demonstrar carinho (beijos, beliscões e até tapinhas espontâneos), por não querer quando ela queria. Será que os homens não gostamos de ser seduzidos, que se insinuem para nós e que tomem a iniciativa de vez em quando?”.
Pessoalmente acredito que o sexo em um casal cumpre o papel do inconsciente e que, em geral, é o primeiro a detectar e somatizar os problemas que o intelecto demorará anos para entender. Portanto a expressão: “Estamos muito bem mas não temos vida sexual” se traduz em: “Na realidade, não estamos tão bem, por isso não vamos para a cama”. Como aponta Francisca Molero, “muitos problemas sexuais ou falta de desejo, são apenas o reflexo de outros outras questões do casal, como falta de confiança, de comunicação, interesses diferentes, inexistência de um projeto de vida em comum ou ideias contrárias. Pendências que não se manifestam e se expressam indiretamente no âmbito da sexualidade”.

Técnicas para despertar o erotismo

Casais sem sexo cada vez mais jovens chegam ao consultório dessa sexóloga e ginecologista em busca de ajuda. “Em princípio, o importante é saber se querem voltar a manter relações ou não, o que, muitas vezes, nem eles mesmos sabem. Para isso aplico uma terapia que consiste em tarefas individuais e coletivas. Entre as primeiras estão atividades para despertar o autoerotismo, o interesse pelo sexo, o que também ajudará na hora de ampliar suas habilidades eróticas e sexuais. Passada essa fase, vêm as tarefas conjuntas. Muitos casais estão tão distanciados que precisam ser reaproximados. Peço que saiam juntos, que passeiem, que se deitem na mesma hora… Diversos exercícios até poder desembocar em uma volta das relações sexuais. Às vezes se consegue. Outras já não há nexos de união e não é possível, mas o importante é que estejam conscientes do que ocorre, para então tomar ou não decisões”.
Certamente o segredo dos casais que mantêm um bom relacionamento ao longo do tempo é simplesmente continuar tendo sexo. Para concluir, recordo uma cena do filme Os Desajustados (The Misfits, 1961). Roslyn Tabor (Marilyn Monroe) é uma mulher que chega a Reno, Nevada, para divorciar-se e ali conhece dois cowboys. Em dado momento vão a casa de um deles, Guido (protagonizado por Eli Wallach). Roslyn dança com ele e descobre que é um excelente bailarino. O diálogo é um verdadeiro compêndio, triste, de filosofia das relações de casal.
Roslyn - Sua mulher não dançava?
Guido - Não como você, ela não tinha graça.
Roslyn - Por que não a ensinou a ter graça?
Guido - Isso é algo que não se aprende.
Roslyn - Como sabe? Ela morreu sem nunca saber que poderia dançar. De certa maneira vocês eram dois estranhos.
Guido - Não quero falar de minha mulher.
Roslyn - Não se zangue. O que estou querendo dizer é que, se a amava, devia tê-la ensinado. Porque todos, maridos e esposas, estamos morrendo a cada minuto e não estamos ensinando uns aos outros o que sabemos.



'After sex' / Por que o depois é mais importante do que pensamos

$
0
0


'After sex': Por que o depois é mais importante do que pensamos

Descuidamos demais dessa parte pós-sexo nos centrando somente nas preliminares?

O que fazer na fase do 'pillow talk': para começar, é preciso evitar o “questionário”



RITA ABUNDANCIA
Madri 27 JAN 2015 - 14:42 COT



As preliminares e o ato sexual foram minuciosamente estudados pela ciência, os sexólogos e a literatura; entretanto, muito pouco foi dito sobre o comportamento pós-coito, com exceção do cinema que se encarregou de ressaltar, várias vezes, que a etiqueta exige fumar um cigarro, ainda que com a lei antifumo é possível que as coisas tenham mudado. Com tão poucas referências, vemos que, após dar por finalizado o corpo a corpo sem informação disponível a respeito, é preciso improvisar, voltar ao mundo real e enfrentar a dura verticalidade. Por isso, essa é uma das tarefas mais difíceis do sexo, uma matéria pendente que pode arruinar uma performance excelente na cama ou, pelo contrário, nos fazer esquecer de um rendimento médio-baixo, e reescrever o que aconteceu poucos minutos antes com a mesma benevolência com a qual alguns juízes despacham os casos de corrupção política. Se as preliminares nos preparam fisiologicamente para o sexo, o pós-sexo nos predispõe psicológica e mentalmente para a próxima relação. Um trabalho mais a longo prazo e, portanto, mais difícil.




O bom amante, dizia uma revista francesa, deve sê-lo antes, durante e depois. Porque o depois é o que assegura que acontecerá um amanhã e que a pessoa será capaz de apresentar-se para um segundo round. Mas não é de estranhar que nesta época, onde impera a filosofia de usar e tirar, essa última fase esteja descuidada. Pegue o dinheiro e vá embora, muitos pensam. Enquanto os que ficam oscilam, geralmente, entre os polos opostos: as telenovelas latino-americanas, com overdose de açúcar, e o cinema francês, com seus longos silêncios, planos intermináveis, monossílabos e os inevitáveis cigarros.
Para que se preocupar, muitos/as pensarão, o mal – ou o bem – já está feito. Pela mesma regra de três poderíamos pensar que o aprés skyé algo banal ou inútil e o que as pessoas realmente querem quando vão a uma pista de esqui é esquiar, comer e dormir. Esquecendo que, provavelmente, esta seja a modalidade esportiva mais praticada na neve.



 Pegue o dinheiro e vá embora, muitos pensam. Enquanto os que ficam oscilam, geralmente, entre os polos opostos: as telenovelas latino-americanas, com overdose de açúcar, e o cinema francês, com seus longos silêncios, planos intermináveis, monossílabos e os inevitáveis cigarros.

A maior parte da literatura e a informação sobre o que deveria ser um bom aprés sex está carregada de tópicos e lugares comuns, sem dar-se conta de que as mulheres já não vêm de Vênus e nem os homens, de Marte. Mas quase todo mundo concorda que nós mulheres queremos carinhos e mimos e eles ficam com sono. Algo péssimo, que devem evitar a todo custo para que sua companheira não tire a conclusão de que foi para cama, de novo, com outro mentecapto. Enquanto eles pensam em comida, elas gostam de falar e falar, por isso uma revista masculina aconselhou seus leitores a fazerem perguntas abertas às mulheres, para que elas pudessem falar com gosto, enquanto eles relaxavam pensando em bobagens ou nos mares da Flórida.
Como conta a revista Psychology Today, desde o século passado a ciência começou a se interessar por esse período da atividade sexual. Em 1970, os psicólogos James Halpern e Mark Sherman realizaram um estudo entre mais de 250 norte-americanos; o resultado foi o livro Afterplay: A Key to Intimacy (Pós-sexo: A Chave para a Intimidade), que girava em torno da ideia de que o que fazemos ou deixamos de fazer depois do sexo é uma parte fundamental. Os participantes nesse experimento, sem distinção de gênero, expuseram seu desejo de prolongar o pós-sexo, ou como os americanos o chamam, pillow talk, e se estabeleceu uma relação entre a duração do período pós-coito e a satisfação na relação.
Mas os que mais estudaram o fim da atividade sexual foram os psicólogos evolucionistas Daniel Kruger e Susan Hughes, da Universidade de Michigan e do Albright College da Pensilvânia, respectivamente. Segundo conta a revista digitalAlternet, em um artigo intitulado Do men and women want diferente things after sex? (Homens e mulheres querem coisas diferentes depois do sexo?), no ano de 2011 os dois especialistas publicaram o resultado de um estudo sobre o comportamento pós-coito. Segundo eles, as atividades preferidas pelos homens são comer, preparar um drinque, fumar e pedir favores a sua companheira – faça isto ou traga-me aquilo –. Elas, entretanto, dão mais importância a comportamentos relacionados com a intimidade, os abraços, carícias e as manifestações de amor. Mesmo que isso apenas confirme a teoria geral entre homens e mulheres, Kruger e Hughes chegaram também à conclusão de que não existem diferenças entre ambos os sexos na hora de quem dorme antes, apesar de que no imaginário coletivo a ideia de quem fecha os olhos primeiro seja ele. Conseguir ou não o orgasmo parece ser o que mais marca a diferença entre o comportamento final, já que o coquetel de hormônios que o clímax acarreta – oxitocina, prolactina, endorfinas – é o responsável por nos sentirmos felizes, amigáveis, falantes, relaxados e dispostos a fechar os olhos o quanto antes. Segundo nos diz a revista, o resultado dessa química nos deixa até mesmo “momentaneamente menos atrativos para nosso companheiro”, para conseguirmos dar uma respirada.



Os participantes nesse experimento, sem distinção de gênero, expuseram seu desejo de prolongar o pós-sexo, ou como os americanos o chamam, pillow talk, e se estabeleceu uma relação entre a duração do período pós-coito e a satisfação na relação.

Segundo diz Kruger no artigo, “as diferenças relativas ao orgasmo podem ser como jogar sal na ferida”. Os efeitos psicológicos dos hormônios e suas sensações de bem-estar, de ter tido um sexo equitativo, são muito importantes e deveriam ser levadas em conta antes de começar a fazer conclusões relacionadas às diferenças de gêneros.
O sal na ferida, de Kruger, menciona que o pós-sexo é o momento em que geralmente encaramos nossos problemas e deficiências, quando os monstros da vida sexual imperfeita aparecem para nos deixar tristes, aborrecidos ou com medo. É como o Natal, um período em que todos deveríamos estar mais felizes e no qual qualquer pequena tristeza aumenta exponencialmente. É como quando Adão e Eva, após comerem a fruta proibida, sentiram vergonha pela primeira vez e deram-se conta de que estavam nus. É, definitivamente, o detector de mentiras do sexo, quando o outro vê você como realmente é, sem maquiagem ou photoshop. Por isso, a edição inglesa da revista Marie Claire diz que “dormir imediatamente depois de uma relação sexual é um sinal de que o casal tem uma relação forte e significativa”. Os fantasmas são quase sempre os culpados por nos mantermos acordados.
Pouco se sabe sobre o que deveria ser um bom after sex, exceto que, se for um coquetel – e existe um com esse nome –, os ingredientes são: vodca, licor de banana e suco de laranja. Mas o que se intui é que pode ser um mal e ponto, e as atitudes que podem contribuir com isso. Para começar, é preciso evitar acima de tudo o “questionário”: perguntas, rankings, comparações, tamanhos... Algo a que os homens são muito adeptos pois dessa forma buscam afagar o ego. “Você gostou?”, “o meu é maior do que o do seu ex?” – se lhes disser que não, é provável que continue “mas é mais grosso, sim ou não?” –. Além de chato – acreditem em mim, trabalhei anos realizando pesquisas – e egocêntrico, essa enxurrada de perguntas não diz outra coisa a não ser um imenso desconhecimento em matéria sexual, já que a pessoa deveria saber se o outro gostou ou não. Sem contar que, em muitas ocasiões, a insistência obriga a dizer uma mentira piedosa como mal menor. Uma pessoa desajeitada me perguntou ao acabar quantos orgasmos eu tive. Respondi que perdi a conta. No extremo oposto estão os inseguros, que pedem perdão e desculpas – geralmente com razão –, mas que insistem em se autoflagelar, sem se dar conta de que não fazem outra coisa a não ser propagandear e aumentar suas falhas. Não podemos nos esquecer dos amantes da limpeza, que desperdiçam esses valiosos momentos ficando horas no banho, recolhendo preservativos e brinquedos do chão e colocando suas roupas em ordem e objetos pessoais como se fossem sair de um voo da Ryanair.



Não podemos nos esquecer dos amantes da limpeza, que desperdiçam esses valiosos momentos ficando horas no banho, recolhendo preservativos e brinquedos do chão e colocando suas roupas em ordem e objetos pessoais como se fossem sair de um voo da Ryanair.

Os ursinhos carinhosos tendem a ser muito afetuosos e compartilhar cumprimentos, às vezes exagerados e inacreditáveis, o que os transforma automaticamente em piada. Ainda que quase todos nós somos Charlie, alguns/as podem não o ser e não aceitar a brincadeira. No lado oposto estão os que voltam à realidade e adotam, de maneira um tanto brusca, o tom de voz não erótico, ou seja, o que utilizam no bar para pedir a gritos outra cerveja enquanto passa futebol na tevê e uma das equipes acaba de marcar um gol.
Eu diria que qualquer conversa está permitida exceto falar de outros parceiros sexuais e estabelecer comparações; começar a classificar a relação, especialmente se é a primeira vez, e fazer perguntas filosóficas e existenciais do tipo quem somos?, de onde viemos?, para onde vamos?. Por último, falar de temas sérios quando a relação está ruim. Isso é melhor deixar para outro momento e localização geográfica. Finalmente, as redes sociais apresentam um novo plano pós-sexo para os mais exibicionistas, fazer uma selfie-pós-sexo e publicá-la na rede. Eu continuo defendendo que o ‘não gosto’ esteja incluído também no leque de opções de resposta. Como dizia uma piada: “O que você acha da execução do guitarrista – Por mim, que ele seja executado”.




Capacitados para o sexo

$
0
0


Capacitados para o sexo

Na Espanha, voluntários eróticos dão apoio a portadores de deficiência que não querem serem tratados como assexuados

Eles complementam outras alternativas, como associações que dão formação para que prostitutas lhes prestem assistência



JERÓNIMO ANDREU
Barcelona 22 MAR 2014 - 18:00 COT


Francesc Granja, presidente da Associação de Atenção Sexual a Portadores de Deficiência.MASSIMILIANO MINOCRI

Francesco Granja recebe as visitas na cama apertando um controle que abre a porta da sua casa. Mora num luminoso apartamento da Vila Olímpica de Barcelona adaptado para sua tetraplegia causada por um acidente de carro há 20 anos, quando voltava de uma reunião. Costuma se locomover numa cadeira de rodas, mas hoje umas feridas o detêm. Ao seu lado estão María Clemente, psicóloga especializada em neurorreabilitação, e Eva, assistente sexual, dois pilares fundamentais de Tandem Team, a associação sem fins lucrativos presidida por Granja, dedicada à assistência sexual para portadores de deficiência por meio de voluntários.
Os três acompanham um debate que se gerou espontaneamente em torno de outros dois visitantes no quarto de Francesc. É preciso tomar cuidado para não se apaixonar? Felipe e Lau conversam (ambos nomes fictícios). Felipe sofre de paraplegia de terceira e quarta vértebra. Lau é a assistente que ele conheceu por meio de Tandem, e defende com paixão que os encontros devem ser sinceros, nunca uma ficção sentimental:
— Tenho namorado, mas durante o tempo que estou com um usuário, ele se converte no homem da minha vida.
— Não se deve ter medo – concorda Felipe – Você pode se apaixonar porque está muito necessitado, mas também da padeira ou de qualquer pessoa que te trate bem. Aqui os dois sabemos onde estamos.
—Mas é preciso se entregar, porque é uma questão de amor, que para mim é o fundamental.
—Em todo caso — intervém María — se detectamos pessoas dependentes psicologicamente as aconselhamos a não recorrer a um assistente porque podem acabar se magoando.

Em 50% dos casos não há coito. Muitos querem ver um corpo nu ou acariciá-lo”, explica a psicóloga

Lau, de 38 anos, estudou enfermagem e veterinária. Ela faz oficinas de tantra e, quando uma amiga lhe falou de Francesc e do seu projeto, exclamou: “Isso é para mim”. Seu perfil encaixava com o do assistente que procura a associação: experiência sóciossanitária, sem motivações econômicas e com uma concepção da sexualidade não apenas genital... A entrevistaram sobre os limites que ela fixava com relação às práticas sexuais e às famílias dos portadores de deficiências – alguns assistentes os estabelecem para amputações, determinadas complicações higiênicas ou características físicas impactantes, como as da acondroplasia (ananismo) – e ela respondeu que não estabelecia nenhum, que dependeria do momento e da pessoa, “como em qualquer relação”.
Uns dias depois, Felipe e Lau se encontraram para tomar um café. Simpatizaram um com o outro e combinaram um encontro mais íntimo. Felipe, com 42 anos, desde que está em cadeiras de rodas, havia tido uma relação mas não funcionou, e uma outra vez, se relacionou com uma prostituta: “A moça vinha com contador e isso para alguém com os meus problemas não funciona”. Sua experiência com Lau o revitalizou: “Você lembra de sentimentos que achava que estavam mortos”.
Ele é um dos 45 usuários da associação, constituída em outubro de 2013. Da mesma maneira que há mais demanda masculina, também se oferecem mais voluntários varões, embora, depois de descartar 50%, os 15 com que estão trabalhando formam um time equilibrado de homens e mulheres. Além disso, trabalham com diferentes tendências sexuais. “Precisamente com o primeiro usuário, tivemos uma surpresa”, sorri Francesc.
Ele tampouco cobra por colocar em contato assistentes e usuários, e recomenda que, em caso de haver alguma compensação financeira entre eles, que não ultrapasse os 75 euros (240 reais). “Costuma ser de uns 50 euros (160 reais) porque é preciso se deslocar até a casa do usuário, estacionar, comer fora...”, explica Eva. “Mas muitas vezes não cobramos, não é a motivação”. A associação se mantém por enquanto com as doações de Francesc (que é professor de Esade e recebe uma pensão) e com o trabalho voluntário de María. “Aspiramos ter um mínimo de ingressos para manter a estrutura”, explicam.
A iniciativa gerou expectativa no coletivo. “Consideravam-nos, os portadores de deficiências, como anjinhos assexuados, mas não é assim”, diz Francesc. Há muito existem assistentes e prostitutas que trabalham nessa área, mas escondido. Enquanto isso, na Europa o debate foi se tornando público. O país que chegou mais longe em termos de regulamentação foi a Suíça, embora com um modelo que muitos consideram intervencionista, com encontros mensais e assistentes com diploma universitário para isso. Na Bélgica, onde funciona a associação que Tandem toma como modelo, a área se move numa “alegalidade” (fora da lei, mas não contra a lei) muito compreensiva. De uma forma ou de outra, na Dinamarca, Suécia, Holanda e Alemanha, a assistência se pratica. E na França, embora no ano passado um Comitê Nacional de Ética tenha aconselhado o governo que não a legalizasse, a controvérsia continua, graças, em parte, ao sucesso do file Intocáveis.


“Existem diferentes modelos”, explicam Sánchez e María Honrubia, mas o fundamental é revelar que o problema existe”. Sánchez, enfermeira com máster em sexologia, e Honrubia, psicóloga, presidem a Associação Nacional de Saúde Sexual e Deficiência (Anssyd), que no último dia 14 de março organizou juntamente com outra associação (Sex Asistent) o primeiro curso na Espanha de acompanhamento e assistência sexual. Custava 100 euros e se dirigia a “interessados em se formar e exercer um trabalho profissional relacionado à assistência sexual”. Teve 15 inscritos, de fisioterapeutas a profissionais do sexo. “A formação é muito prática, esclarecendo em que consiste o serviço: que podem se deparar com uma pessoa que usa um coletor, com problemas mentais, como reagir diante de uma subida da pressão...”, conta Sánchez.
Por razões de confidencialidade, a Anssyd não permitiu que EL PAÍS assistisse a uma das aulas. A associação reconhece que o curso pode ser controverso. “Existe um vazio legal a respeito e sua proximidade da prostituição. Mas em 50% dos casos não há coito. Muitos usuários querem ver um corpo nu ou acariciá-lo. Isso é uma experiência alucinante. Inclusive há deficientes cognitivos que só querem afeto físico; e, por lei, isso não pode ser dado por um cuidador normal”, explica Honrubia.
O caminho até essas jornadas foi duro. “Levamos 25 anos como docentes”, contam, “e só agora começamos a ser reconhecidos”. Durante duas décadas as duas profissionais suportaram a desconfiança de colegas que não acreditavam no objeto das suas pesquisas. Mas nesses anos se estabeleceu a Convenção dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência (ONU, 2006) e a Lei Orgânica da Saúde Sexual e Reprodutiva e de Interrupção Voluntária da Gravidez, de 2010 (popularmente reduzida a lei do aborto de Zapatero), que estabelecia a necessidade de se formar profissionais, o que deu impulso a proliferação de associações pelos direitos sexuais dos portadores de deficiências. Todas essas iniciativas foram varridas pela crise.
“Existe um mito segundo o qual se você fala da sexualidade, a desperta”, conta Sánchez. “Mas o desejo está ali, silenciado. Você não imagina quanto sofrimento existe escondido”. Eles não exageram: pessoas que não quiseram ter seus nomes publicados narram histórias duras: 20 anos de um casamento sem sexo que se mantém por causa dos filhos, pais que masturbam doentes mentais...
Não parece que, por enquanto, irão surgir soluções simples a essas barreiras. As primeiras vivem nos limites da lei. Em um apartamento de Barcelona, Lau se despede de Felipe com beijos e abraços.


Álvaro Uribe / O homem que convenceu a Colômbia a dizer não à paz

$
0
0

Álvaro Uribe

Álvaro Uribe 

O homem que convenceu a Colômbia a dizer não à paz

Ex-presidente Álvaro Uribe, que mantém uma disputa frontal com seu sucessor, foi o grande artífice da campanha contra o acordo com as FARC


JAVIER LAFUENTE
9 OUT 2016 - 17:00 COT


Nos anos noventa, ser colombiano era considerado pior que uma desgraça. Significava viver num país devastado por guerrilhas, paramilitares e cartéis do narcotráfico. A Colômbia não era tanto García Márquez; era mais Pablo Escobar e a cocaína. Os colombianos conseguiram se livrar da sensação de párias que lhes perseguia, em boa medida, graças à chegada de Álvaro Uribe Vélez (Medellín, 1954) ao poder, em 2002. Em meio à crise econômica galopante, e com os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) batendo às portas da capital, Uribe congregou todo o país ao redor da necessidade de maior segurança e de um sentimento que une os colombianos quase tanto como a seleção de futebol: a rejeição à guerrilha. Uma máxima que, quase 15 anos depois, continua dando frutos políticos, como ficou comprovado no plebiscito de semana passada pela vitória do não, da qual ele foi o grande artífice. O homem que canalizou o ódio dos colombianos contra o grupo armado agora tem o desafio de demonstrar, contra os prognósticos, que pode fazer o mesmo com o maior desejo: a paz.

Uribe sempre foi uma figura polêmica, com grandes críticos e acérrimos defensores. Mas a maioria reconhece seu mérito de ter infligido um golpe mortal contra as FARC durante seus dois mandatos (2002-2010), quando chegou a ser o presidente mais popular da América Latina, 91% de aprovação. Com sua estratégia de Segurança Democrática, multiplicaram-se as operações militares contra o grupo armado, que antes controlava quase meio país e precisou bater em retirada para a selva. Os golpes contra as FARC impostos por seu então ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, assim como a mão estendida à reinserção social, levaram milhares de guerrilheiros a desertar e a retornar à sociedade. A violência comum também diminuiu. E, graças à maior segurança, a economia começou a crescer em ritmo recorde, ao calor do aumento dos investimentos estrangeiros. A pobreza caiu notavelmente. A luta contra a guerrilha também deixou o escândalo dos “falsos positivos”, ou seja, o assassinato de civis que os militares fizeram passar por guerrilheiros mortos em combate.
A relação com o agora presidente Juan Manuel Santos passou da estreita colaboração ao ressentimento, embora Uribe negue isso. “O rancor é como uma vaca no pântano: quanto mais ela tenta sair, mais atola. Não me pergunte por veleidades da imprensa”, disse ele em entrevista a EL PAÍS no ano passado. “Os valores democráticos da Colômbia têm hoje um risco proveniente do engano.” Uribe ainda não perdoou a humilhação da pessoa designada por ele para ser seu sucessor. Logo após ser eleito, Santos decidiu se reunir com o grande inimigo de Uribe, o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, máximo apoiador das FARC. Naquele encontro, Santos contou a Chávez que preparava negociações secretas com a guerrilha, o que Uribe tentou fazer na reta final de seu mandato.
Desde aquele episódio, o enfrentamento entre os dois tem sido frontal. As críticas de Uribe ao processo de paz foram demolidoras, numa guerra implacável via Twitter. Após o referendo de domingo, nesta semana houve a primeira aproximação: o ex-presidente se encontrou pela primeira vez com seu sucessor. E na sexta-feira, dia seguinte à reunião, Santos recebeu o Nobel da Paz. Uribe o felicitou, mas não baixou a guarda: esperava, disse ele, que o prêmio levasse a mudanças nos “acordos nocivos para a democracia”.

Uribe tem o desafio de demonstrar que é capaz de canalizar o maior desejo dos colombianos: a paz

As fontes consultadas para este perfil – cerca de 10, entre ex-colaboradores, pessoas próximas e políticos de diversas tendências – e que preferem não ser identificadas para não incendiar mais os ânimos na Colômbia, concordam que não existe um líder político no país como Uribe, destacando tanto sua inteligência como sua intransigência. Uma colaboradora muito próxima durante seu primeiro mandato e parte do segundo recorda que, se as coisas não saíam como ele queria, por mais insignificantes que fossem, Uribe não se continha na hora de “limpar o chão com alguém”, uma expressão utilizada na Colômbia para explicar o que uma pessoa pode chegar a dizer quando está com raiva. Nas reuniões com os ministros, era comum que alguém brincasse dizendo: “Está pronto o Cresopinol”, um sabão desinfetante.
A última vítima de Uribe foi Juan Carlos Vélez, ex-candidato à Prefeitura de Medellín e coordenador da campanha do não ao plebiscito. Em entrevista ao jornal La República, Vélez revelou que sua estratégia consistia em não explicar os acordos e fazer com que as pessoas votassem indignadas. Uribe obrigou-o a sair do partido Centro Democrático. “É um caudilho. Seu partido está centrado em sua figura”, dizia Iván Cepeda, senador do Polo (esquerda).
Promessa liberal em seu começo, a biografia política de Uribe é marcada pelo assassinato de seu pai pelas FARC, mas também pelas inúmeras acusações de vínculos com os paramilitares, que levaram muitos de seus colaboradores à prisão. “Seu carisma é o que ele mantém”, diz uma senadora. Sem dúvida, ele também conserva um importante apoio seis anos depois de abandonar o Palácio de Nariño, sede do Governo.
De trato cordial – nunca se esquece de um nome e poucas vezes se mostra exaltado –, Uribe tem uma maneira de proceder que sempre foi uma incógnita e continua sendo no momento mais importante da Colômbia. Como escrevia María Jimena Duzán: “Ninguém sabe quanto há de show, de espetáculo, nesse Uribe midiático, que sempre quer se parecer com um cidadão comum, sem ser; que sempre quer se parecer com um camponês, quando na realidade é um dos proprietários das fazendas mais prósperas de Córdoba; ou com um antipolítico, quando na verdade é um dos políticos mais experientes e habituados às artes de Maquiavel.”

Bob Dylan vence o Prêmio Nobel de Literatura de 2016

$
0
0


Bob Dylan vence o Prêmio Nobel de Literatura de 2016

Academia Sueca concede a distinção ao músico “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”


FERNANDO NAVARRO
Madri 13 OUT 2016 - 07:28 COT


O ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 2016 é Bob Dylan, “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição norte-americana da canção”. A secretária permanente da Academia Sueca, Sara Daniues, foi a encarregada de anunciar, às 8h desta quinta-feira (hora de Brasília), o nome do mito norte-americano do folk, de 75 anos. No último fim de semana, Dylan foi um dos protagonistas do festival Desert Trip, na Califórnia, junto com outras velhas glórias do rock, como Neil Young, Paul McCartney e os Rolling Stones.


Na história desse prêmio, a maioria foi dada a autores de fala inglesa (27), seguidos por literatos de língua francesa (14), alemã (13) e espanhola (11). O único autor lusófono premiado foi José Saramago, em 1998.
Só quem mergulhou alguma vez no revelador universo desse cantor, nascido num povoado de Minnesota, poderá reconhecer que Dylan é um poeta sem tirar nem pôr. O reconhecimento do Nobel à sua música, entendida como um organismo vivo no qual as letras são o corpo sobre o qual se apoia o resto, é portanto algo histórico.
Mas a literatura baseada na música, ou vice-versa, era o caminho para esse tal Zimmerman, que adotou o pseudônimo de Bob Dylan em homenagem ao poeta Dylan Thomas, e depois de devorar qualquer livro que lhe caísse às mãos. O salto para Nova York, impulsionado pela chance de conhecer o incomparável cantor-ativista Woody Guthrie, seria a introdução definitiva do músico no gênero literário.
Lá mesmo, no coração urbano da Grande Maçã, construiu seu revolucionário estilo mergulhando nos sermões do blues e do folk e na corrente desinibida eunderground da geração Beat, com Jack Kerouac, Neal Cassady e Allen Gingsberg. Boa parte da responsabilidade cabe também a uma namorada sua dos anos sessenta, Suze Rotolo, que lhe apresentou ao poeta francês Arthur Rimbaud, um facho de luz para a futura obra dylaniana.



75 coisas que você talvez não saiba sobre Bob Dylan

$
0
0
Bob Dylan
75 coisas que você talvez 

não saiba sobre Bob Dylan

Ode ao ‘dylanismo’: uma retrospectiva da vida, obra e milagres do músico e agora Nobel de Literatura


FERNANDO NEIRA
13 OUT 2016 - 15:43 COT


Sua eminência Robert Allen Zimmerman, Bob Dylan para todo o sempre, completou 75 anos em 24 de maio passado. Um aniversário de ouro, que culmina com o Prêmio Nobel de Literatura “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”. Sua obra é tão abrangente quanto o rastro da influência sobre gerações de músicos e poetas. Por isso, escolher 75 fatos para estes 75 anos é tão impossível quanto pretender que seus seguidores não os conheçam.




O título deste texto serve apenas como uma provocação sem um pingo de malícia, como convite ao jogo da militância do dylanismo. Haverá muitos dados entre os aqui compilados que devem parecer obviedades ao devoto autêntico. Porque o culto a Dylan é tão amplo quanto inesgotável: se houvesse um app para localizá-los em poucos quilômetros à volta, uma espécie de Tinder para fãs do autor de Blowin’ in the Wind, nossos telefones provavelmente entrariam em combustão. Longa vida, Seu Roberto, trovador dos trovadores.
1. As primeiras apresentações em público do menino Bobby ocorreram aos três anos de idade no escritório de seu pai, “falando e cantando diante de um gravador Dictaphone”, segundo o biógrafo Robert Shelton.



Dylan e os Beatles se conheceram em 1964 na suíte que a banda tinha no hotel Delmonico da Park Avenue. Bob presenteou seus ilustres anfitriões enrolando cigarros de maconha

2. Acredita-se que o sobrenome Dylan seja uma homenagem ao poeta Dylan Thomas, mas é um dado que nunca foi confirmado pelo próprio artista. E mais: outra versão afirma que seu primeiro sobrenome artístico teria sido Dillon, em homenagem a Matt Dillon, herói da série televisiva de caubóisGunsmoke.
3. Em relação ao nome, o que ele admitiu, por sua vez (em Chronicles, sua autobiografia parcial de 2004), foi que preferiu “Bob” a “Bobby” para se diferenciar dos cantores Bobby Darin, Bobby Rydell e Bobby Vee.
4. Curiosamente, Bobby Vee teve Dylan tocando em seu grupo como pianista, por volta de 1959. Tinham se conhecido quando Bob trabalhava como ajudante de garçom no Red Apple Café (Fargo, Dakota do Norte).
5. O nome de sua primeira banda, um trio, na adolescência, era The Golden Chords (Os Acordes Dourados). Ele tocava a guitarra base, com Monte Edwardson na guitarra solo e Leroy Hoikkala na bateria.
6. O pintor malaguenho Pablo Picasso é tido por Dylan como uma de suas maiores influências artísticas. Em Chronicles, escreveu: “Ele partiu ao meio o mundo da arte e o abriu como se fosse um ovo”.
7. Sua primeira aparição no palco com o nome de Bob Dylan ocorreu em Dinkytown, o bairro boêmio de Minneapolis que ele frequentava à noite em seu breve período como aluno da Universidade de Minnesota. O primeiro cenário foi um café chamado The Ten O’Clock Scholar.

8. Poucas semanas depois de desembarcar no Greenwich Village nova-iorquino, Dylan conseguiu se apresentar por duas semanas como atração de abertura para o emblemático bluesman John Lee Hooker. O contrato foi assinado em 11 de abril de 1961.



Dylan e a cantora Marianne Faithfull passaram uma noite juntos durante a turnê britânica do bardo em 1965. Ela estava grávida do empresário John Dunbar. Não houve sexo, para frustração de Faithfull

9. No verão de 1961 tocou gaita em uma canção de Harry Belafonte. A remuneração como músico de estúdio por aquela sessão foi de 50 dólares.
10. A primeira crítica sobre Dylan noNew York Times data de setembro de 1961. Foi assinada por Robert Shelton, entusiasmado com aquele jovem que tinha aberto o show dos Greenbriar Boys na sala Gerde’s.
11. O disco de estreia homônimo, gravado em apenas dois dias em Nova York (20 e 22 de novembro de 1961) inclui três músicas sobre morte: In my time of dyingFixing to die e See that my grave is kept clean.
12. Uma das primeiras grandes paixões de Dylan em Nova York foi estudar a Guerra Civil norte-americana, e para isso leu tudo que havia na hemeroteca entre 1861 e 1865. Era obcecado por entender, disse, “como pessoas tão unidas pela geografia e pela religião podiam se tornar inimigas mortais”.
13. No início, Dylan adiantava na forma de partitura algumas de suas canções na revista folk Broadside. No número 1 dessa publicação (fevereiro de 1962) apresentou Talkin’ John Birch paranoid blues, uma sátira sobre a histeria anticomunista que na última hora retirou de seu segundo álbum, o mítico The freewheelin’.






‘The Freewheelin’ (1963) é o segundo disco de Dylan. Começa com ‘Blowin’ in the wind’ e traz canções como a cálida e emocionante ‘Don’t think twice, it’allright’. Na capa, o cantor e compositor aparece com Suze Rotolo – falecida em 2011: uma artista norte-americana com quem esteve de 1961 a 1964.


14. Os álbuns iniciais de nosso homem são solos: voz, guitarra e gaita. Mas em 14 de novembro de 1962 atreveu-se a gravar com banda um primeiro single, Mixed-up confusion, publicado pela Columbia com o número de catálogo 4-42656. Considerada em geral uma peça medíocre, nunca apareceu em álbum atéBiograph, a coletânea de 1985.
15. Suze Rotolo, a namorada de Dylan que aparece na capa de The freewheelin’, fez nosso trovador se tornar fã do teatro de Bertolt Brecht, o que acabou traduzindo em canções da época como The lonesome death of Hattie Carroll.



Não fui um marido muito bom, mas acredito no casamento. Primeiro me casei sério e logo depois me divorciei sério

16. Blowin’ in the Wind, a obra imortal de 1963, foi uma das primeiras a ser adaptadas ao espanhol... com fins religiosos. A versão Saber que vendrás, que todos os espanhóis já ouviram em alguma missa na Espanha, é obra do jornalista Ricardo Cantalapiedra, que tão boas páginas escreveu para o EL PAÍS.
17. O mais fanático por Dylan dos cantores e compositores espanhóis, Joaquín Sabina, incluiu em sua turnê recente 500 noches para una crisis uma versão de It ain’t me, babe que tem como título Ese no soy yo. Em seus tempos de La Mandrágona, o artista de Úbeda já tinha feito uma delirante adaptação de Man gave name to all the animals (O homem colocou nome em todos os animais) que nunca teve edição oficial
18. As versões de Dylan para o castelhano são muitas e, em alguns casos, recentes (Kiko Veneno, Amaral, Quique González, Nacho Vegas), muito meritórias e celebradas. Existe também um raro disco coletivo, Bob Dylan revisitado. Um tributo na língua do amor (1996), hoje muito difícil de encontrar.
19. Talvez a primeira associação de ideias entre Dylan e a Espanha que nos venha à cabeça seja a fabulosa canção Boots of Spanish leather (1964). Mas há outro “Spanish” no repertório de Dylan. Trata-se de Spanish is the loving tongue, uma obra tradicional que ele gravou no lado B do compacto simples Watching the river flow (1971).



As referências bíblicas na obra de Dylan são tão abundantes que o músico chegou a afirmar: “Se tivesse de começar de novo, ensinaria Teologia ou história clássica romana”

20. Dylan publicou seis álbuns entre 27 de maio de 1963 (The freewheelin’) e 16 de maio de 1966 (Blonde on blonde). Seis discos, um deles duplo, em pouco menos de três anos. E não títulos quaisquer: nos referimos a seis dos trabalhos mais influentes de toda a história da música popular.
21. Em 23 de novembro de 1963, um dia depois do assassinato de Kennedy, Bob se apresentou no norte do estado de Nova York. A primeira canção da noite foi The times they are a-changin’.
22. “Uma enorme bolha transparente de ego.” Essa foi a definição de Dylan feita pela cantora Joan Baez, sua grande mentora no Festival Folk de Newport em 1963 e companheira intermitente nos dois anos seguintes.
23. Dylan e os Beatles se conheceram em 28 de agosto de 1964 na suíte da banda de Liverpool no hotel Delmonico, na Park Avenue. Bob presenteou seus ilustres anfitriões enrolando alguns cigarros de maconha. Foi a primeira vez que os britânicos experimentaram a erva...
24. Bringing it all back home (1965) inclui passagens de Dylan tocando gaita em todas as faixas. Segue de perto nesta classificação John Wesley Harding (1968), no qual toca harmônica em 11 de suas canções.
Não é de se estranhar que entre as habilidades artísticas de Bob Dylan estivesse a pintura. Este quadro de inspiração expressionista, e um tanto naïf, serviu como capa para ‘Music from big pink’ (1968). A relação de Dylan com The Band se estreitou, especialmente durante a época na qual o músico decidiu abandonar o folk para se converter ao rock. Um período em que recebeu o apoio incondicional da banda de Toronto.

25. Depois da apresentação de Dylan no Royal Albert Hall (maio de 1965) houve um novo encontro com os Beatles no hotel Mayfair de Londres e uma posterior visita a Kenwood, o palacete de 22 quartos que Lennon tinha adquirido em Weybridge. Segundo a lenda, John e Bob gravaram uma canção pela metade da qual nunca mais se ouviu falar.



Dani Martín, antigo cantor de El Canto del Loco, foi perguntado sobre Dylan (com quem compartilha a gravadora, para ser simpático). E ele respondeu: “Acho um chato”

26. Dylan e a cantora Marianne Faithfull flertaram uma noite no hotel Savoy, durante a turnê britânica do músico em 1965. Ela estava grávida do empresário John Dunbar. Não houve sexo, para a frustração de Faithfull, segundo ela mesmo contou em suas memórias. Mas o mais doloroso foi que Dylan rasgou um poema que havia escrito.
27. O dia do grande escândalo, o da conversão elétrica de Dylan, foi em 25 de julho de 1965, no Festival Folk de Newport. As canções tocadas com a banda elétrica (e no máximo volume) foram apenas três: Maggie’s FarmTombstone Blues e Like a Rolling Stone. Al Kooper, o organista do grupo, admitiria depois que Maggie’s Farm foi tocada com um compasso diferente e resultou em “uma espécie de desastre”.
28. Like a Rolling Stone (1965) figura em vários rankings como a melhor música do século XX, mas nunca chegou a ser número 1. Nas paradas dos EUA, I Got You Babe, de Sonny & Cher, impediu o feito.
29. A influente revista britânica Mojo também elegeu Like a Rolling Stone como a melhor canção de Dylan de todos os tempos. Era seguida, nesta ordem, porPositively 4th Street (1967), Sad Eyed Lady of the Lowlands (1966), Desolation Row (1965), e, surpresa, Blind Willie McTell, composta em 1983, e gravada somente em 1991.
30. No final de 1965, a popularidade de Dylan era quase maior como compositor do que como intérprete. Em apenas duas semanas, foram lançados 80 discos single com versões de músicas rubricadas por ele.






Dylan durante uma coletiva de imprensa na Suécia (1966). Convertido ao rock, e como membro da Geração Beat, sua imagem muda deixando crescer o cabelo – que, cacheado e revolto, lhe dá um ar sexy; utiliza os Way Farer, da Ray Ban, e começa a se vestir de preto, com camisas estampadas que o caracterizam como ícone roqueiro. Menção especial ao comprimento das unhas da mão direita com a qual acende o cigarro.  CORDON PRESS


31. Os filhos de Bob com Sara Lownds se chamam Jesse, Anna, Samuel e Jakob (o líder dos The Wallflowers). O músico resumiu assim sua relação: “Não fui um marido muito bom, mas acredito no casamento. Primeiro me casei para valer e, depois, me divorciei para valer".
32. Dylan conheceu os irmãos Steve e Muff Winwood, do Spencer Davis Group, depois de um show realizado em Birmingham, em 12 de maio de 1966. Na noite seguinte, foram visitar uma antiga casa incendiada em Worcestershire, porque os Winwood contaram a ele que o proprietário tinha morrido com o cão e ambos apareciam sob a forma de fantasmas.
33. O famoso grito de “Judas!” vindo do público ocorreu no Free Trade Hall, em Manchester, em 17 de maio de 1966. A conversão elétrica continuava causando confrontos amargos entre partidários e detratores. É muito menos lembrado, no entanto, que minutos antes do acontecimento, quando o grupo finalizava Just like Tom Thumb’s Blues, uma jovem de cabelos longos havia subido ao palco e entregado um papel a Dylan. A nota dizia assim: “Diga à banda para ir para casa”.
34. Paris, 1966. Em plena febre por sua obra e por sua imagem, Dylan se aproxima de uma enorme conferência de imprensa. Mas antes vai a uma feira de rua parisiense e compra um fantoche. Toda vez que alguém faz uma pergunta, ele sussurra para o boneco e finge ouvir o que ele deve responder. Um delírio maravilhoso.
35. A foto da capa de Blonde on Blonde (primeiro plano do artista com um lenço preto e branco enrolado no pescoço) foi tirada pelo fotógrafo Jerry Schatzberg, no bairro Meat Market, em Manhattan. Apenas duas fotos da sessão ficaram fora de foco. Uma delas foi a escolhida por Bob. Para o interior do disco, se apaixonou por uma imagem da atriz italiana Claudia Cardinale que a Columbia usou sem permissão. Teve de ser eliminada na segunda tiragem daquele imenso álbum duplo.
36. Após o famoso (e mitificado) acidente de motocicleta em Woodstock (29 de julho 1966), a primeira aparição pública de Dylan só ocorreu em 20 de janeiro de 1968. E foi fugaz: três canções no Carnegie Hall, em um concerto beneficente em homenagem ao recém-falecido Woody Guthrie. Foram elas: Grand coulee dam,Dear Mrs. Roosevelt e Ain’t got no home. Não é fácil encontrá-las: estão em um álbum da Columbia intitulado A Tribute to Woody Guthrie, Part I.
37. As memoráveis Basement Tapes (Fitas do Porão) gravadas por centenas de horas por Dylan e The Band, entre junho e outubro de 1967, surgiram pela primeira vez em um disco pirata de 1969, que recebeu o título de Great White Wonder. Foram lançadas sete canções. A edição final de 2014 inclui mais de cem faixas.
38. O maior sucesso inicial das sessões no porão foi The Mighty Quinn. A banda britânica Manfred Mann a lançou como single no início de 1968 e conseguiu se manter por duas semanas como número 1 nas paradas britânicas.
39. O desenho da capa de Music From Big Pink (1968), a extraordinária estreia da The Band, é obra de... Bob Dylan.
40. Foi uma época em que Bob estava muito à vontade com os pincéis. A capa da revista Sing Out!, de outubro de 1968, também é de sua autoria. A capa mostrava um homem sentado com chapéu e guitarra. Talvez um autorretrato, embora ninguém possa garantir.
41. O que vem primeiro, a música ou a letra? No caso de Dylan, as duas ao mesmo tempo. Há apenas uma exceção significativa, em suas próprias palavras: o álbum John Wesley Harding (1968) foi quase inteiramente uma coleção de textos aos quais o compositor acrescentou a música posteriormente.
42. I pity the poor inmmigrant (1968) inclui várias expressões que Dylan transcreveu literalmente do Livro de Levítico, do Antigo Testamento. Levítico 26, versículos 19, 20 e 26, para aqueles que querem se aprofundar.
43. As referências bíblicas na obra dylaniana são tão abundantes que o músico chegou a afirmar: “Se tivesse que começar de novo, ensinaria teologia ou história clássica romana”.






Jakob Dylan, de 46 anos, também é músico. É o líder do Wallflowers, uma banda que quase poderia ser chamada de ‘one hit wonder’ uma vez que ‘One headlight’ foi seu grande sucesso no fim dos anos noventa e lhe valeu dois prêmios Grammy.  CORDON PRESS


44. Em 1o de maio de 1969, Johnny Cash conseguiu que Dylan gravasse para seu programa de TV The Johnny Cash Show. Foi sua primeira aparição na televisão em cinco anos e parece... claramente tenso.
45. Na primavera de 1969, Dylan tinha de renovar o contrato com seu agente, Albert Grossman. Nunca assinou o documento. Desde então, tem dirigido sua própria carreira e tomou todas as decisões sem dar explicações a terceiros.
46. Quem é Elmer Johnston? O próprio Dylan, que se escondeu por trás desse pseudônimo para aparecer de surpresa em um concerto da banda em Illinois, em 14 de julho de 1969. Seu nomes falsos mais recorrentes são, no entanto, Blind Boy Grunt e (especialmente) Jack Frost.
47. O grande amigo beatle de Dylan acabou sendo George Harrison. Juntos, escreveram duas canções maravilhosas, If not for you e I’d have you anytime, para o disco solo de Harrison: All Things Must Pass (1970). Mas há uma terceira colaboração daquela época, que só está disponível em gravações piratas. O título: Working on a guru.
48. Harrison convenceu Dylan a participar de surpresa no The Concert for Bangladesh, o show beneficente realizado em 1o de agosto de 1971 no Madison Square Garden. Não só isso: nosso protagonista concordou em tocar Blowin’ in the wind, na sessão da tarde e à noite, algo que acontecia pela primeira vez em sete anos.
49. Só os muito dylanitas lembram de um single de novembro 1971, com a canção George Jackson, lançada em versão dupla: acústica e com big band. Contava a história de um escritor e ativista assassinado em uma prisão da Califórnia por agentes de segurança, e que classificou como sua primeira canção com uma causa em oito anos.
50. 1972 é o ano em branco por excelência na trajetória de Dylan, uma fase desconfortável sem composições que utilizou para “relaxar por uma temporada” no Arizona.
51. Knockin’ on heaven’s door, o famosíssimo tema central do filme Pat Garret & Billy the Kid (1973), é o único single de Dylan que chegou ao top 20 durante as décadas de setenta e oitenta. E ficou muito longe dos postos de glória: não passou do 12o lugar.
52. Existe um livro de 1973, Writings and drawings, no qual Dylan compilou letras e escritos do período entre 1961 e 1971. Os textos incluíam mais de 60 canções que não estão em nenhum de seus álbuns.
53. Planet waves (1974), o excelente disco no qual Bob Dylan voltou a solicitar a companhia de The Band, teve dois títulos prévios que foram totalmente mudados. Primeiro seria Love songs e depois, até o último momento, Ceremonies of the horsemen.
54. O comediante Steve Martin (sim, de O pai da noiva) fez um show de abertura para Dylan. Aconteceu em Tampa, Flórida, em meados dos anos setenta.
55. Apesar de Dylan ter escrito sozinho a totalidade de seu repertório, paraDesire (1976) se valeu do diretor de teatro francês Jacques Levy como coautor em sete músicas. Levy na época era diretor da caótica e excitante turnê Rolling Thunder.
56. O judeu Bob Dylan se apresentou no verão de 1978 no estádio Zeppelinfield (Nuremberg), onde tinham acontecido alguns dos discursos mais famosas de Hitler. O cantou pediu que o palco fosse colocado no extremo oposto do habitual. Conseguiu assim que os 80.000 presentes dessem as costas para o lugar onde tantas vezes o ditador nazista tinha sido venerado.
57. Na famosa conversão de Dylan ao cristianismo, no fim dos anos setenta, foi decisiva a figura de uma atriz negra Mary Alice Artes, por quem nosso homem se apaixonou perdidamente. Acredita-se que em 1980 ele tenha dado a ela um anel de compromisso avaliado em 25.000 dólares, mas o romance naufragou. Realmente, é dedicada a Artes a canção The groom’s still waiting at the altar (O noivo ainda está esperando no altar), do disco de 1981 Shot of love.
58. Os caçadores de tesouros em vinil ficam muito felizes quando deparam com um exemplar de Masterpieces, um LP triplo com sucessos e raridades editado em 25 de fevereiro de 1978..., mas só no Japão, Austrália e Nova Zelândia.
59. A backing vocal negra de soul Clydie King, que tinha tido um affaire com Mick Jagger, foi namorada de Dylan no início dos anos oitenta e teve com ele um ou dois filhos, segundo as fontes. Mas mais intrigante ainda é a existência de um álbum em dueto entre Dylan e King que foi gravado em 1982. Ao que parece, a CBS não gostou e o trabalho nunca foi lançado.
60. Mark Knopfler, líder do Dire Straits, foi o inesperado produtor de Infidels(1983), um dos poucos discos salváveis daquela década infeliz. Mas ainda mais estranhos tinham sido os candidatos que recusaram a encomenda: Frank Zappa e... o ícone disco Giorgio Moroder!
61. Madri, 26 de junho de 1984. O estádio do Rayo Vallecano recebe o primeiro concerto de Dylan em solo espanhol, com Santana como atração de abertura. Um total de 25.000 espectadores o esperam, quase lotando, e não poucos ministros socialistas. As palavras do gênio, em um castelhano esforçado, ao sair de cena à uma da manhã foram “Sois cojonudos!” (Vocês são corajosos!).
62. A cicerone de Dylan pelas ruas de Madri naquela primeira visita espanhola era uma garota de 18 anos que trabalhava para o promotor de eventos Gay Mercader. Seu nome: Ángeles González-Sinde, que com os anos se tornaria roteirista, cineasta e até ministra da Cultura. Ela o levou ao Museu do Prado e para fazer compras na rua Almirante, no coração de Chueca.
63. A passagem de Dylan pelo mastodôntico Live Aid (13 de julho de 1985), em seu caso da Filadélfia, é lembrado como um dos piores shows que já fez na vida. Foi acompanhado por Keith Richards e Ron Wood, dos Rolling Stones, mas interpretou três músicas em um murmúrio. E, ao finalizar, apesar de o macroconcerto pretender arrecadar fundos para lutar contra a fome na Etiópia, só lhe ocorreu dizer: “Seria bom que uma parte desse dinheiro fosse para os fazendeiros americanos...”.
64. Participou de maneira muito fugaz de Sin City, o hino antiapartheid que Steve Van Zandt, guitarrista de Bruce Springsteen, lançou em 1985. Pode ser ouvida durante apenas dois segundos: o engenheiro de som, Jay Burnett, disse que “não havia uma única linha de Dylan que estivesse bem cantada ou seguisse o compasso”.
65. Dylan protagonizou em 1986 um filme desastroso, Corações de fogo, no qual encarnava “uma solitária lenda do rock”, um personagem mais do que batido. O coprotagonista era o ator britânico Rupert Everett.
66. Dylan e Michael Jackson juntos? Incrível, mas correto. Cantaram em dueto em fevereiro de 1987, quando Elizabeth Taylor soprou 55 velas de aniversário.
67. A Never Ending Tour (Turnê sem fim) que Dylan ainda hoje realiza remonta a meados de 1988. Começou a empreitada estimulado pela ótima acolhida que teve The Traveling Wilburys, a superbanda que, de forma quase acidental, formou com George Harrison, Tom Petty, Jeff Lyne e o falecido pouco depois Roy Orbison.
68. Dylan ruminou a possibilidade de se aposentar para sempre dos estúdios de gravação em 1988, depois do estrepitoso fiasco de seu disco Down in the Groove.Foi Bono Vox, do U2, quem, durante um jantar regado a muito álcool, o persuadiu a conhecer Daniel Lanois, o canadense que tinha o ajudado a produzir The unforgettable fire e The Joshua tree. Da improvável aliança Lanois-Dylan nasceuOh mercy (1989), um dos discos mais míticos do mestre.
69. O impressionante Time out of mind (1997), também gravado com Lanois, saiu poucos meses depois de Dylan superar uma gravíssima pericardite (inflamação da membrana cardíaca) e de cantar ao lado do papa João Paulo II no Congresso Eucarístico Mundial de Bolonha. Ainda mais estranho, Time out of mind levou o Grammy de melhor disco do ano no início de 1998.
70. O acaso quis que Love & Theft (Amor e roubo), o extraordinário disco de 2001, fosse lançado em 11 de setembro, coincidindo com os ataques terroristas a Nova York. Dylan tinha dito que se tratava de “um grande álbum que trata de grandes temas”.
71. Em 25 de janeiro de 2006 estreou no Old Globe Theater de San Diego o musical The times they are a-changin’. A trama contava as desventuras de um circo mambembe administrado pelo Capitão Arab (que aparecia na canção deBob Dylan’s 115th dream) e seu filho Coyote, a quem se faz referências na músicaThe ballad of Hollis Brown.
72. De 3 de maio de 2006 a 15 de abril de 2009, Dylan apresentou e dirigiu 100 edições exatas de um programa de rádio por satélite intitulado Theme Time Radio Hour. Os dois artistas que mais apresentou foram Tom Waits e Dinah Washington, com dez canções cada um.
73. O sempre influente New York Times atacou sem piedade Modern Times(2006), um trabalho que desfruta de bastante prestígio. Ron Rosembaum escreveu que estávamos diante de “uma decepção terrivelmente supervalorizada” e “o pior disco de Dylan desde Self portrait”.
74. Nem tudo são parabéns para o gênio de Duluth. Nosso Dani Martín, antigo cantor de El Canto del Loco, foi perguntado pela Revista 40 em 2010 sua opinião sobre Dylan (com quem compartilha a gravadora). E ele respondeu: “Acho um chato”. Quando o jornalista lhe advertiu de que a resposta poderia ser politicamente incorreta, ele foi além: “Que seja, que seja. Pode ser. É que é muito repetitivo”.
75. A austera turnê de 2015 por seis cidades espanholas foi a décima de nosso homem por aquelas paragens. Também receberam em 2007 para o prêmio Príncipe de Astúrias das Letras. No verão passado, mal saiu de seu magic black bus para oferecer seus shows e fazer exercícios matinais. A comida era preparada por seu chef particular, de origem escandinava

O belo outono de Bob Dylan

$
0
0



O belo outono de Bob Dylan

Uma radiografia de algumas das melhores canções do músico em sua última fase mostra a sua esplêndida velhice


FERNANDO NAVARRO
24 MAI 2016 - 09:50 COT






Esquivo diante do seu próprio mito e imerso em seu modo de vida totalmente pessoal de entrega à música e à estrada, Bob Dylan chega aos 75 anos quase mais ativo do que nunca, embora sua obra não reverbere na consciência coletiva contemporânea com tanto fervor como em outros tempos. Com a mesma expressão que o acompanha desde os primeiros anos, como quem está dois passos à frente ou pelo menos se sabe dono de seus passos e no seu ritmo, Bob Dylan teve faro artístico e uma sensibilidade extraordinária para incorporar o envelhecimento à sua música, criando obras incríveis desde que, em 1997, por ocasião do lançamento de Time Out of Mind, muita gente já achava que o cantor e compositor mais genial do século XX, então com 56 anos, já estava acabado, sem inspiração e condenado ao ocaso. Mas, desde então, Dylan demonstrou não apenas uma devoção à música inacreditável –para não dizer quase doentia–, como também compôs algumas de suas melhores canções.
Desde o festejado Time Out of Mind até o recente Fallen Angels, lançado na semana passada, o artista criou todo um mundo repleto de símbolos do passado e evocações nostálgicas. Dessa maneira, como que filtrados através de um filme em Super 8, os lugares de sua infância e da história norte-americana aparecem povoados de personagens anônimos que lidam com promessas descumpridas, amores partidos e destinos cruéis. Com uma habilidade semelhante à do jovem prodigioso dos anos sessenta, ele toma emprestados –em alguns casos, de modo evidente—trechos de seus bluesmen prediletos, cruzando-os com homenagens a seus heróis caídos do folk, o country e standards de jazz. Referências literárias de poetas e romancistas combinam-se, também, com citações da Bíblia. Pode-se afirmar, no entanto, que há uma constante nessa fase idosa: a sensação de solidão. É como se Dylan falasse não só de um passado, mas também de um presente que se esvai.


Pode-se afirmar, no entanto, que há uma constante nessa fase idosa: a sensação de solidão

Negador absoluto de todas as interpretações que os ouvintes ou os críticos procuram fazer de suas canções, o músico, artista do trapézio, compôs toda a sua obra dos últimos vinte anos com uma mesma espécie de transe emocional. Ouvindo com atenção todos os meandros de Time Out of MindLove & TheftTogether Through LifeModern TimesTempest, Shadows in the Night e Fallen Angels, pode-se perceber, sempre, o reflexo de um homem enrugado e de olhar envelhecido, seguro de si e quase orgulhoso de sua condição de incompreendido, maluco ou ermitão, mas que viaja com uma aura solitária, consciente, no mínimo, de ter vivido.
De toda essa obra, há canções em que Dylan faz referências diretas à velhice, sendo, algumas delas, com efeito, as mais opressivas de todo esse período. Para radiografar esse Dylan, no belo outono de sua vida, destacamos seis delas:

Not Dark Yet

Time Out of Mind contém uma maravilhosa reflexão de um homem maduro e cansado. Not Dark Yet é um exemplo perfeito de um compositor crepuscular, que “não procura por nada mais nos olhos dos outros” e sabe que o tempo avança de modo inexorável, embora, como afirma o refrão, “ainda não escureceu, mas a noite começa a cair”. A melodia vai e vem, e sua voz, como uma ferrugem venerável, surge como que das águas. “Minha compreensão da humanidade escorreu pelo esgoto”, canta. Deixar-se levar pelo clima dessa estranha balada é como apalpar cicatrizes no escuro.


Highlands

Sua odisseia ao longo deste período de composição fica incrivelmente clara emHighlands, que fecha Time Out of Mind. Rompendo com todos os cânones, Dylan coloca esse blues com mais de 16 minutos de duração no final do disco. Sua guitarra e a de Daniel Lanois dividem entre si o espaço, mas são o órgão de Augie Meyers e o Wullitzer de Jim Dickinson que conferem uma atmosfera litúrgica a esse périplo vital e lamento da juventude perdida que busca por descanso na região fria de Highlands, símbolo do Delta. O músico canta: “Grandes nuvens brancas se movem como carruagens”.

Bye and Bie

Antes do lançamento de seus dois últimos discos de standards, Dylan mostrou o seu gosto pela balada norte-americana com sabor de swing. Essa composição, já cantada com a sua peculiar voz de crooner, está incluída em Love & Theft, o álbum que mais fez se colar ao seu criador a imagem do músico ambulante, como oriundo daqueles espetáculos minstrels do começo do século XX. “Para mim o futuro já é coisa do passado”, diz um dos versos. Um dos temas que mais se espalham por Love & Theft é o da salvação. O homem que canta com ironia e calor parece procurar, cheio de estupefação, por um lugar fora do mundo que o cerca.

Workingman’s Blues #2




À altura do seu melhor cancioneiro de todos os tempos, esta canção, que integraModern Times e se inspira em Workin’ Man Blues do foragido do country Merle Haggard, recentemente falecido, é uma confissão que expressa todo o poder narrativo de Dylan. Apoiada em uma melodia dolorida mas absorvente, descreve um mundo cotidiano em pleno desmoronamento. “Nenhum homem, nenhuma mulher sabe / A hora em que o sofrimento irá chegar / Ouço na escuridão o apelo das aves noturnas”, canta Dylan com sua voz arrastada, mas de uma sutileza extraordinária. “O sono é como uma morte prematura”, define. Mas o protagonista anônimo, um operário desnorteado e cansado, muito distante de seus anos de juventude, ainda tira forças para encarar a vida e encontrar também a necessária compaixão através da música. “Encontre comigo no final, não se atrase / Traga minhas botas e os sapatos / Pode se render ou lutar o quanto puder na primeira linha / Canta um pouquinho este blues do trabalhador”.

Cross the Green Mountain




A colaboração de Dylan com músicas para filmes é no mínimo interessante. Esta composição, presente em The Bootleg Series, Vol. 8, integra a trilha sonora deGods and Generals, dirigido por Ronald F. Maxwell. Ambientada na Guerra de Secessão, o filme conta com essa balada folk, que se estende por oito minutos com um clima nebuloso e hipnótico. Como um daqueles soldados moribundos para quem canta, Dylan reflete sobre o sacrifício dos combatentes como se estivesse falando consigo mesmo, revisitando os rastros de seu passado, avaliando aquilo que lhe resta no presente e tentando dar um sentido à luta pela existência. “É a última hora do último dia do último ano feliz e sinto que um mundo desconhecido se aproxima”, conta ele, com nobreza.

Soon After Midnight




Esta murder balad parece tirada de um velho gramofone. Incluída em Tempest,essa composição é uma evocação à morte, com a voz anasalada de Dylan em um estado quase oculto. Há uma doçura em sua maneira de contar, mas também um certo desapego, como que assumindo a chegada do fim. “É agora ou nunca”, diz uma das frases, que remete a It’s now or never de Elvis Presley, ídolo de juventude de Dylan. O velho que a canta se mostra como um homem em movimento. No ano passado, em seu interessante discurso –cheio de farpas envenenadas e homenagens sinceras--, no evento em sua homenagem no MusicCares, Dylan se despediu da seguinte maneira: “Como diz o spiritual: ‘ Ainda estou cruzando o Jordão’”. Com certeza: como sugerem os seus discos e sua vida de estrada, esse músico incontrolável de 75 anos ainda está em trânsito. Ainda anda pelo mundo, ao qual presenteou com o valioso capital de suas canções, como um verdadeiro bardo do rock.

Viewing all 2427 articles
Browse latest View live