“Meu pai era muito mais cruel que o Pablo Escobar da Netflix”
O filho do traficante assegura que a série tem erros e idealiza uma realidade muito mais sórdida
CARLOS E. CUÉ Buenos Aires 30 SET 2016 - 13:56 CDT
Milhões de pessoas em todo o mundo acompanham a segunda temporada da sérieNarcos que narra com aparente realismo os últimos meses de vida de Pablo Escobar. Mas entre elas há um telespectador que viveu tudo de perto: Juan Pablo Escobar, que agora se autodenomina Sebastián Marroquín. É o filho mais velho do traficante, cujo personagem tem uma presença marcante. E está indignado com o que vê. “Está cheia de erros. Para começar: eu não era criança. Na série pareço Benjamin Button, cada vez sou mais novo, pareço ter oito anos. Eu tinha 16 anos quando meu pai morreu. E sabia de tudo. Ele sempre me contou que era um bandido, um traficante. Assistíamos televisão e sua voz não se alterava ao me dizer: eu coloquei essa bomba. E discutíamos”, explica de Buenos Aires, onde mora desde a morte de seu pai.
A família Escobar fez um acordo com o cartel de Cali para que lhes deixassem viver em troca de entregar-lhes todos seus bens. E depois de algumas peripécias a esposa, o filho e a filha do traficante acabaram na capital argentina, onde levam uma vida discreta. Até que a série devolveu suas vidas ao primeiro plano.
Ao contrário do que se possa pensar, o filho de Pablo Escobar não está incomodado com a imagem duríssimapassada para a tela. Ao contrário: acredita que é idealizada. “Meu pai era muito mais cruel do que parece na série. Submeteu um país ao terror. É preciso tratar essa história com responsabilidade. Há milhares de vítimas e um país por trás que merecem respeito. Estão inculcando uma cultura na qual parece que ser narcotraficante é cool. Estou recebendo mensagens de jovens de todo o mundo que me dizem que querem ser traficantes e me pedem ajuda. Me escrevem como se eu vendesse ingressos para entrar nesse mundo”, irrita-se.
Marroquín escreveu um livro sobre seu pai no qual narra a brutalidade de seus assassinatos e sua forma desapiedada de ser. Agora prepara outro no qual incluirá detalhes dos últimos meses de vida de Escobar, os únicos nos quais já não estava com sua família. O que mais o incomoda é que a série ofereça uma imagem aparentemente realista de algo que para ele não é. “Não aparecem os momentos de solidão, medo, queda, terror. A violência era muito mais atroz do que a que a série mostra. Não tenho nenhum orgulho disso, mas precisamos ser sérios. Eu me ofereci para colaborar com a Netflix e recusaram.” E dá exemplos concretos. “Na fuga, não vivíamos no luxo. Quem dera o final tivesse sido nessas mansões com piscina que aparecem na série. Também não estávamos rodeados de bandidos. Estávamos muito sozinhos, todos o traíram, se entregaram e foram mortos. Às vezes comprava uma casa e na mesma noite tínhamos de abandoná-la e o dinheiro se perdia. Sempre nos transportava de olhos vendados. Dizia que, assim, se fôssemos capturados e torturados, não poderíamos entregá-lo. Não usava telefone. Meu pai dizia que era a morte, que ele sempre conseguia localizar pelo telefone as pessoas que queria matar. Minha avó também não era essa mulher terna que aparece lá. Ainda bem. Ela o traiu com o cartel de Cali. Teve de escolher entre sua vida e a de seu filho e escolheu salvar-se”, conta Marroquín com uma naturalidade que impressiona.
"Estão inculcando uma cultura na que parece que ser traficante é cool".
Agora é um homem de 39 anos, com uma semelhança física distante do garoto da série, que trabalha como arquiteto e tenta se reinventar, mas também tem uma empresa que faz camisetas sobre Pablo Escobar, e por isso vive em uma contradição permanente.
Marroquín fez uma lista com 28 erros graves do roteiro de Narcos, nos quais se inclui o time de futebol do coração de Escobar: não era o Nacional, mas o Independiente de Medellín. E nunca comprou nenhum time, garante. “Ele dizia que os negócios lícitos não o interessavam porque com eles não se ganhava dinheiro.” Desmente até um momento chave da série: “Meu pai nunca queimou dinheiro para nos aquecer. Em algum momento do documentário que fiz contei que passamos fome enquanto estávamos rodeados de milhões de dólares. E é verdade. Uma vez estávamos cercados pela polícia e ficamos sem alimentos durante uma semana. Aí disse que a única coisa para que servia o dinheiro era para jogar na lareira. Mas nunca chegamos a fazer isso.”
Pablo Escobar e seu filho Juan Pablo em frente a Casa Branca em Washington, em 1981. ARCHIVO
Depois da morte de Escobar, que segundo seu filho se suicidou ao ver-se cercado pela polícia, Marroquín e sua mãe tiveram de negociar com os cartéis para não serem mortos. Todos os Escobar estavam condenados. “Pedimos a eles que nos deixassem viver. Fui com minha mãe a essas reuniões. Nos exigiram que entregássemos todos os bens como parte do butim de guerra. Eles sabiam de tudo que meu pai tinha. A mensagem era simples: se esconderem uma única moeda matamos vocês. Assim salvamos nossas vidas. Voltamos a ser ninguém. Isso me fez um homem livre, se não teria enlouquecido com o dinheiro. O que me restou foi começar do zero”, afirma.
Os pesquisadores não acreditaram nessa história e a mãe de Marroquín passou dois anos em uma prisão argentina por suposta lavagem de dinheiro. Ele ficou 45 dias. Mas finalmente foram absolvidos e agora vivem tranquilos em Buenos Aires. Até que a série do Netflix devolveu sua história ao primeiro plano. Ou pelo menos uma versão desse passado que tem indignado o filho do traficante mais famoso da história. Ele insiste que não faz nenhuma questão de salvar a imagem de seu pai, mas de se ater ao que ele viu e viveu para tirar lições mais contundentes. “É impossível zelar pela imagem de meu pai. Eu sou o mais duro com ele. Mas não vamos mentir. Meu pai matou cerca de 3.000 pessoas. Na história real o que não falta é violência, explosões, terror. Não é necessário que roteiristas criativos se ponham a enfeitá-la com mentiras.”
Admissão de que houve estupro real em ‘O Último Tango em Paris’ revolta Hollywood
Bertolucci diz que a sequência entre Marlon Brando e Maria Schneider não foi combinada com a atriz
5 DEZ 2016 - 08:17 CST
“Queria sua reação como menina, não como atriz. Não queria que Maria interpretasse sua humilhação e sua raiva, queria que sentisse. Os gritos… ‘Não, não!’. Depois me odiaria para sempre”. Assim narra o cineasta italiano Bernardo Bertolucci as ambições artísticas por trás do estupro real planejado por ele mesmo e por seu executor, o ator Marlon Brando, no filme O Último Tango em Paris. A confissão foi recuperada por vários veículos de imprensa norte-americanos a partir de uma entrevista do diretor na Cinemateca francesa em 2013.
O vídeo, traduzido ao espanhol pelo portal El Mundo de Alycia no Dia Internacional contra a Violência de Gênero, tem mais de um milhão de visitas no YouTube. O filme, que foi um dos mais emblemáticos da década de 1970, demorou vários anos para se esquivar da censura em vários países, como no Brasil, por causa de seu alto conteúdo sexual. Em sua sequência mais lembrada, e agora infame, Brando, que naquela época tinha 48 anos, utilizava manteiga como lubrificante para violentar sua companheira de elenco, de apenas 19.
“Queria que reagisse humilhada. Acredito que odiou Marlon e a mim porque não contamos a ela”, afirmou o diretor de filmes como 1900 e Os Sonhadores. A ideia ocorreu ao cineasta e ao ator na manhã anterior à filmagem. Na mesma entrevista, Bertollucci esclarecia que, embora se sentisse “culpado”, não se arrependia da forma como dirigiu aquela cena. “Para conseguir algo é preciso ser completamente livre”, concluía.
Apesar de os rumores sobre a veracidade dessa cena já circularem entre os cinéfilos há vários anos e as declarações do diretor não serem novas, a confissão escandalizou boa parte de Hollywood. Estrelas como Jessica Chastain e Chris Evans declararam no Twitter que jamais voltarão a ver o filme, nem considerarão Bertolucci ou Brando da mesma maneira. “Me dá nojo”, diz a atriz de A Hora Mais Escura. Como resultado dessas afirmações, iniciou-se há alguns uns dias uma campanha no Change.org que exige que a Academia de Hollywood condene publicamente os fatos e o diretor italiano.
Schneider, à época com 19 anos e que morreu em 2011, jamais se recuperou emocionalmente depois da filmagem
Schneider, que morreu em 2011 por causa de um câncer, jamais se recuperou emocionalmente depois da filmagem, vivendo longos períodos de depressão. Em uma entrevista ao jornal britânico Daily Mail em 2007, a atriz contaria em detalhes o momento de seu estupro. Declarações que passariam despercebidas pela opinião pública, que durante décadas evitou julgar os fatos. “Deveria ter chamado meu agente ou fazer meu advogado vir ao set porque não se pode forçar alguém a fazer algo que não está no roteiro, mas, naquela época, eu não sabia disso. Marlon me disse: ‘Maria, não se preocupe, é só um filme’, mas durante a cena, embora o que Marlon fizesse não fosse real [não houve penetração], eu chorava de verdade. Senti-me humilhada e, para ser honesta, um pouco violentada por Marlon e Bertolucci. Pelo menos foi só uma tomada”.
A cena, não consentida pela atriz, em que Marlon Brando violenta Maria Schneider em 'O Último Tango em Paris'. REPRODUÇÃO
O "crime de estupro é qualquer conduta, com emprego de violência ou grave ameaça, que atente contra a dignidade e a liberdade sexual de alguém". O elemento mais importante para caracterizar esse crime é a ausência de consentimento da vítima. Pela lei brasileira, por exemplo, não é preciso haver penetração para que o crime se caracterize como estupro.
A atriz terminava a entrevista acrescentando que uma das coisas que mais lhe doeu foi o comportamento de Marlon Brando depois da cena, que se negou a consolá-la ou preocupar-se com seu estado. As revelações do estupro em O Último Tango em Paris coincidem no tempo com as respectivas polêmicas sobre as suspeitas de assédio sexual de dois favoritos ao Oscar deste ano: Casey Affleck e Nate Parker.
Quarenta anos depois, parece que a justiça continua a brilhar pela ausência. Até quando Hollywood continuará silenciando seus crimes?
A historiadora e psicanalista francesa Élisabeth Roudinesco. LÉA CRESPI
Élisabeth Roudinesco: “Freud nos tornou heróis das nossas vidas”
Intelectual francesa, renomada especialista em psicanálise, assina biografia do psiquiatra
A. V. 4 SET 2015 - 17:01 COT
Para escrever esse monumental volume com ares de biografia definitiva, Élisabeth Roudinesco (Paris, 1944) não quis acreditar “nem na lenda negra, nem na dourada”. Sigmund Freud en Son Temps et Dans le Nôtre (Sigmund Freud no seu tempo e no nosso, inédito no Brasil) parte da vontade de invalidar as condenações mais injustas, aquelas que costumam representar o pai da subjetividade moderna como um simples enganador, mas também de se contrapor às biografias de tom hagiográfico consagradas a esse personagem eternamente polêmico. Discípula de Deleuze, Foucault e Todorov, ex-integrante da Escola Freudiana fundada por Lacan e grande especialista na história da psicanálise, Roudinesco narra a vida de Freud como se fosse um palpitante romance ambientado na Viena da belle époque, avançando até seu exílio (e morte) em Londres nos primórdios da II Guerra Mundial. No centro dessa paisagem, a autora situa um homem que cometeu erros e enfrentou mil contradições, mas conseguiu criar uma doutrina “a meio caminho entre o saber racional e o pensamento selvagem, entre a medicina da alma e a técnica da confissão”, com a qual conseguiu transformar os mortais em heróis de tragédia grega.
Pergunta. Sua biografia aspira a desenhar um retrato justo e equânime de Freud. A senhora a escreveu em reação aos ataques dos últimos anos contra o personagem?
Resposta. O livro surge da necessidade de repensar o personagem. A última biografia séria sobre Freud, assinada por Peter Gay, saiu há 25 anos. Desde então, quase tudo o que se publicou foram condenações inflamadas a extremos inverossímeis, assinadas por personagens que, na verdade, não conheciam sua história. Como ocorre frequentemente com os personagens polêmicos, Freud acabou se tornando uma caricatura de si mesmo, envolto em numerosos rumores e mentiras. Achei que tinha chegado a hora de voltar a um equilíbrio.
P. No livro, a senhora escreve, por exemplo, que ele não foi “um burguês libidinoso, adepto dos bordéis e da masturbação”, como já se disse tantas vezes. De onde surgem esses mal-entendidos?
R. Em se tratando do fundador de uma doutrina sobre a sexualidade, achei imprescindível saber como havia sido sua vida sexual. Percebi que havia livros inteiros sobre dezenas de lendas das quais não há prova alguma. Quis deixar claro que nada demonstra que ele foi um homem incestuoso, nem de tendência fascista, nem um usurário que cobrava o equivalente a 450 euros por sessão, e que nem engravidou a cunhada nem abandonou suas irmãs aos nazistas. Tampouco foi um homem misógino, embora às vezes paternalista, sim.
Nada demonstra que Freud fosse um incestuoso, nem de tendência fascista, nem um usurário que cobrava o equivalente de 450 euros por sessão
P. Outro dos mitos que a senhora destrói é o do gênio incompreendido. A senhora sustenta que, na verdade, ele conseguiu fascinar os seus contemporâneos, “toda uma geração obcecada pela introspecção”.
R. Seu primeiro biógrafo oficial, Ernest Jones, quis apresentá-lo como um gênio solitário contraposto às massas, mas é uma imagem equivocada. É verdade que seus livros foram objeto de um aceso debate, mas não se deve confundir a polêmica com a incompreensão. Por exemplo, quando Elias Canetti visitou Viena, em 1920, disse que descobriu uma cidade inteira perseguindo o seu Édipo. Freud não gostava da polêmica, porque era um homem bastante autoritário e não suportava o conflito, embora às vezes ele próprio o provocasse. Mas é falso que fosse um solitário. Frequentemente trabalhou em equipe.
P. Seu livro inscreve Freud na ebulição intelectual da Viena do fim de século. A descoberta do subconsciente foi na realidade uma aventura coletiva?
R. É óbvio. Freud foi um personagem muito vienense, inscrito em uma época plenamente europeia, na qual o continente se interrogava sobre seus mitos institucionais para renovar sua identidade, uma dinâmica muito compatível com a de Freud. Contemporâneo da emergência do sionismo e do primeirofeminismo, sua contribuição é parte de um grande movimento de emancipação. Começou querendo curar a neurose, mas acabou provocando uma liberação ainda maior. Mas também é verdade, como disse Stefan Zweig, que a burguesia da Belle Époque estava tão concentrada na introspecção que não soube antever a I Guerra Mundial, nem a irrupção do nacionalismo, nem a miséria do povo que a rodeava.
ampliar fotoSigmund Freud com dois de seus netos. ASSOCIATED PRESS
P. Foi também um homem cheio de paradoxos: pai de uma revolução que conduziu à modernidade, mas politicamente conservador; de forte cultura judaica, mas ateu; e libertador das pulsões sexuais, mas partidário da abstinência depois dos 40 anos. Freud era incoerente?
70% dos psicanalistas franceses são contra o casamento homossexual. Limitar o papel do psicanalista ao de mero observador acabou originando uma classe profissional reacionária
R. Tudo tem uma explicação. A abstinência, a partir da qual formulou a teoria da sublimação, explica-se por seu desejo e o de sua esposa, Martha Bernays, de não terem mais filhos. Poderiam ter usado anticoncepcionais, mas ele não tinha suficiente ímpeto sexual e não sabia nem utilizá-los. Freud não foi um homem nada sedutor. Não era um puritano, já que advogou por liberar as pulsões sexuais. Mas tampouco um libertário: acreditava que a pessoa deveria controlá-las. No plano político, eu o definiria como um conservador ilustrado, assim como Zweig. Foi um homem apanhado no turbilhão da revolução comunista, na qual nunca acreditou, e da emergência do fascismo. Perante essa situação, apostou em conservar as instituições existentes, acreditando que a velha Áustria ainda poderia se salvar.
P. Freud concebeu a psicanálise como uma doutrina apolítica, que deveria se manter à margem de qualquer militância. O que a senhora, acostumada a intervir frequentemente no debate público a partir de posições esquerdistas, acha disso?
R. De fato, Freud foi contrário ao comprometimento político e apostou numa espécie de neutralidade. Para ele, a psicanálise já era compromisso suficiente. Eu estou em total desacordo com essa parte. Se a psicanálise parte do estudo dos vínculos familiares, como pode o psicanalista ficar à margem do debate sobre ocasamento homossexual ou a gestação sub-rogada, para citar dois exemplos? Eu há muito tempo sou favorável a ambos, mas muitos colegas meus se expressam em sentido oposto ao meu. Não sei se você sabe que 70% dos psicanalistas franceses eram contra o casamento homossexual…
Freud foi contrário ao comprometimento político e apostou numa espécie de neutralidade. Estou em total desacordo
P. Como explica o conservadorismo da sua classe?
R. Acredito que, ao limitar o papel do psicanalista ao de mero observador, Freud terminou originando uma classe profissional reacionária. Não podemos nos deter em modelos varridos pela corrente da história, nem projetar no presente modelos de um passado remoto. Quando um psicanalista me diz que a família homoparental é contrária ao complexo de Édipo, eu respondo: “Pois mudemos o complexo de Édipo!”.
P. Você define a psicanálise como “uma epopeia sobre as origens, uma canção de gesta, com suas fábulas, mitos e imagens”. Ou seja, a invenção da subjetividade moderna acabou por transformar o sujeito em uma espécie de herói.
R. Exato. Esse foi o grande trabalho de Freud: nos transformou em heróis de nossas vidas. Pense que, um século atrás, davam poções a um doente, enfiavam-no em um sanatório e o tratavam como louco. Freud, por sua vez, lhes dizia: “Você é Édipo”. Os psicanalistas já não dizem isso, mas algo parecido: “Cuide de si mesmo. Não deixe que o tratem como um sujeito que consome medicamentos passivamente”. Essa teoria do sujeito não existe no behaviorismo [a outra principal escola de psicologia, oposta à psicanálise, que estuda o comportamento e a conduta objetiva, sem acreditar na existência de um subconsciente], que é uma técnica bastante estúpida, embora às vezes funcione. Na minha opinião, cada um deve cuidar da sua história pessoal. Quem não é capaz de verbalizá-la, por um mínimo que seja, está condenado à estupidez.
P. Apesar dos seus efeitos na percepção da interioridade, muitos autores, como o filósofo Michel Onfray e o historiador Mikkel Borch-Jacobsen, continuam definindo a psicanálise como uma fraude. Por que é tão difícil aceitar sua existência?
Hoje se condena a psicanálise apelando ao que alguns chamam ciência. A psiquiatria está desaparecendo e os neurologistas se transformaram em simples distribuidores de remédios
R. É uma teoria muito contundente, que não é fácil de digerir. Na primeira metade do século passado, ela era condenada em nome da moral. Hoje, o motivo apela ao que alguns chamam de ciência. Atualmente, a psiquiatria está desaparecendo, e os neurologistas se transformaram em simples distribuidores de remédios. Isso ocorre porque tratar um paciente com um remédio padronizado é menos custoso do que oferecer um tratamento personalizado e que permita sua evolução. Nesse contexto, é normal que a psicanálise e sua maneira de entender as doenças da alma incomodem. O problema é que as pessoas já estão fartas de tomar remédios. Se suprimirmos uma doutrina racional como a psicanálise como possível solução, essa gente que já não aguenta mais medicamentos terminará recorrendo aos feiticeiros dos remédios paralelos…
P. A psicanálise precisa mudar para sobreviver?
R. Sim. Deve aspirar a ocupar o lugar que os behavioristas conquistaram. Para isso, terá que se transformar. As pessoas já não querem deitar em um divã três vezes por semana durante os próximos 20 anos. A psicanálise deve evoluir no ritmo imposto pelo mundo. Deverá passar a apostar em tratamentos mais curtos, durante os quais se interaja com o paciente cara a cara, e não no divã. Deverá aceitar também tratar qualquer pessoa, assim como um médico em um hospital. As novas gerações já estão praticando uma mudança. O problema é que fazem apenas estudos de psicologia e não de ciências humanas, motivo pelo qual os psicanalistas jovens estão menos bem formados e são menos cultos. Para ser psicanalista não é preciso apenas ser inteligente, mas também culto.
ista externa da prisão militar de Guantánamo, em abril. TOM VAN DE WEGHE
Psicólogos dos Estados Unidos se desculpam por dar aval a torturas
Entidade da categoria proíbe participação em interrogatórios sobre terrorismo no exterior
JOAN FAUS Washington 17 AGO 2015 - 15:41 COT
Os Estados Unidos ainda arrastam as feridas dos anos sombrios que o país viveu depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Os abusos em nome da chamada guerra ao terrorismo, em um momento em que pairava o medo de um novo ataque, agora motivam exames de consciência. Após passar 14 anos negando reiteradamente o fato, a Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês), a principal dessa categoria, admitiu ter ocultado seu apoio aos polêmicos programas voltados para o interrogatório de suspeitos de terrorismo, feitos pela CIA e o Exército norte-americano.
Os psicólogos deram legitimidade às torturas aplicadas contra os detidos, como o afogamento simulado e a privação do sono. Essa supervisão profissional foi crucial para que o Governo de George W. Bush considerasse lícitas as chamadas técnicas reforçadas de interrogatório autorizadas pelo Executivo após os atentados de 2001, mas proibidas pelo presidente Barack Obama ao chegar à Casa Branca, em 2009.
Por causa de interesses e fidelidades profissionais, a direção da APA entrou em “conluio” com o Governo Bush para garantir que as regras éticas da associação não impediriam seus psicólogos de se envolverem nos interrogatórios, que aconteciam em prisões secretas da CIA e em cárceres militares como a de Guantánamo (Cuba).
O aval dos psicólogos foi crucial para que o Governo de George W. Bush considerasse lícitas as chamadas ‘técnicas reforçadas de interrogatório’
Essa é a conclusão de um relatório independente encomendado em novembro pela APA, após a publicação de um livro que detalha sua contribuição para os abusos contra detentos. O relatório, elaborado por David Hoffman, ex-secretário-adjunto de Justiça dos EUA, foi divulgado em meados de julho. Suas consequências foram taxativas: a APA se desculpou, quatro dirigentes renunciaram a seus cargos, e a entidade decidiu proibir seus 130.000 filiados de participarem de interrogatórios no exterior envolvendo presos sob a custódia dos EUA.“Estamos profundamente transtornados pelas conclusões do relatório e estamos determinados a solucionar os problemas”, disse por telefone Susan McDaniel, a presidenta eleita da APA que liderou a assembleia do último dia 7, quando a proibição foi aprovada.
McDaniel – que nunca trabalhou em interrogatórios – disse que a investigação deveria ter sido feita antes, mas, alegando que é hora de olhar para o futuro, se recusou a citar o número de psicólogos envolvidos. Ela prometeu fazer da sua associação um órgão que conte com a “confiança pública”, apesar de admitir que não será fácil reverter a má imagem.
Porta-vozes do Departamento de Defesa e da CIA ouvidos por este jornal se recusaram a comentar o relatório.
É impossível conceber o Exército norte-americano e a CIA sem a psicologia. Os laços são estreitos e sempre polêmicos. Há um século, os militares usam o conhecimento psicológico para recrutar e ajudar soldados e para analisar inimigos. Durante seus 68 anos de história, a agência de inteligência recorreu à psicologia para conhecer melhor a mente humana, seja com experiências envolvendo o LSD para revelar mentiras nos anos sessenta ou com manuais descrevendo qual tipo de dor causar nos interrogatórios aplicados na década de oitenta na América Central por exemplo.
Estamos profundamente transtornados pelas conclusões do relatório e estamos determinados a solucionar os problemas
SUSAN MCDANIEL, PRESIDENTA ELEITA DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSICOLOGIA
Depois do 11 de Setembro, dois psicólogos que não eram membros da APA dirigiram o programa de torturas da CIA. Segundo um relatório do Senado divulgado em dezembro, esse programa não resultou na descoberta de informações que não pudessem ser obtidas por meios menos agressivos. A CIA e os defensores do programa alegam que ele evitou ataques terroristas.
Stephen Soldz, que dirige a Escola de Psicanálise de Boston e há quase uma década denuncia a contribuição da APA aos interrogatórios, diz que essas técnicas se baseiam na chamada teoria do desamparo aprendido, desenvolvida nos anos sessenta pelo psicólogo norte-americano Martin E. P. Seligman. Em experiências com choques elétricos em cães, Seligman determinou que chega um momento em que os cães se rendem.
A aplicação dessa teoria aos interrogatórios, segundo Soldz, parte do princípio de que a tortura leva a “um momento em que o preso perde toda esperança” e cede completamente às exigências dos interrogadores. “Essa teoria científica lhes proporcionou uma cobertura: ‘Não estamos torturando pessoas, estamos fazendo o que os psicólogos especializados dizem que é necessário para obter a informação’”, lamenta o psicanalista, que publicou em abril um relatório com conclusões similares às de Hoffman.
O documento do ex-secretário-adjunto praticamente não analisa o grau de participação dos psicólogos da APA nas agressivas técnicas empregadas com os detidos, qualificadas como tortura por Obama (sabe-se, no entanto, que seu diretor de ética treinou interrogadores no Pentágono). O relatório se centra no papel da associação: abrandou seus padrões éticos para permitir que seus psicólogos colaborassem com a Administração Bush, o que violou o princípio profissional de não causar mal intencionalmente a um paciente.
Há décadas o Exército dos EUA e a CIA mantêm uma estreita colaboração com psicólogos
Com a nova proibição, a APA pediu ao presidente Obama que retire de Guantánamo e de outros lugares no exterior (como navios militares) os psicólogos que participam atualmente dos interrogatórios de suspeitos de terrorismo.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, única organização independente com acesso a Guantánamo, denunciou em 2004 que os militares norte-americanos utilizaram intencionalmente a coerção física e psicológica “equivalente à tortura” contra detentos da prisão militar aberta em 2002 nessa base dos EUA em Cuba. A instituição também revelou que os médicos de Guantánamo informavam aos psicólogos envolvidos sobre o estado mental dos detentos e suas vulnerabilidades, como por exemplo determinadas fobias.
Depois da divulgação do relatório de Hoffman, a ONG Médicos pelos Direitos Humanos solicitou ao Departamento de Estado, segundo sua analista Sarah Dougherty, a abertura de uma investigação criminal contra a APA por seu “papel deliberado em garantir” que os psicólogos pudessem participar dos abusos. Até agora, entretanto, o Governo Obama não levou adiante na Justiça nenhuma dessas acusações de tortura.
Estudo revela a guerra de extermínio que o Governo mexicano, apoiado pelos EUA, disparou há um século contra o revolucionário, com armas químicas, deportações e tortura em larga escala
JAN MARTÍNEZ AHRENS Cidade do México 23 DEZ 2016 - 18:04 COT
Reza a lenda que Emiliano Zapata não morreu. É isso que a história demonstra todo dia. Quase 100 anos depois de seu assassinato, a figura do revolucionário, general comandante do Exército Libertador do Sul, continua a incendiar a imaginação dos mexicanos. Proletário, rebelde e muitas vezes visionário, Zapata (1879-1919) encarna como ninguém os ideais de uma época conturbada. Seus anos de luta e de glória são os de um país em guerra consigo mesmo. Uma época cruel, sobre a qual o México erigiu sua estrutura atual e da qual nem mesmo Zapata conseguiu escapar. Longe da visão adoçada deixada pela iconografia oficial, uma minuciosa pesquisa do historiador Francisco Pineda mostra como Zapata, um mito ainda quando vivo, foi perseguido ferozmente pelo regime de Venustiano Carranza (1859- 1920). Evidencia também como, para derrotá-lo, o Governo constitucionalista não hesitou em lançar uma guerra de extermínio. Armas químicas, torturas indiscriminadas e até a escravização de prisioneiros foram empregadas para dobrar um homem que nunca se pôs de joelhos.
“A Revolução Mexicana foi paradoxal e complexa. E há uma tentativa de certos setores de recuperar a obra de Carranza e tornar a Constituição, que completa 100 anos em 5 de fevereiro, símbolo de continuidade e estabilidade, o que não é verdade: o México é uma nação em permanente conflito, traumática e fascinante. Essa é a lição de Zapata”, explica o professor Carlos Marichal, pesquisador do Colégio do México.
A guerra de extermínio, sobre a qual poucas informações eram conhecidas, ilustra um dos momentos mais obscuros da Revolução Mexicana. Em 26 de setembro de 1915, já derrotado o general Victoriano Huerta, mas com o país em chamas, Carranza ordenou a um de seus homens de confiança, o general Pablo González, esmagar a Revolução do Sul, o movimento camponês de libertação liderado por Zapata.
Antes agricultor e cavalariço militar, o revolucionário tinha entrado na arena da história depois de liderar protestos agrários em Morelos e de se unir em 1910 ao levante de Francisco I. Madero, que começou a Revolução. Mas, lograda a vitória e tendo sido exilado o ditador Porfírio Díaz, Zapata traçou seu próprio rumo e se recusou a desmobilizar sua tropa. Para ele, a guerra tinha outro objetivo. Conseguir a coletivização das grandes fazendas e libertar milhares de camponeses de séculos de opressão latifundiária. E não só isso.
Com uma visão muito mais avançada que Pancho Villa e outros senhores da guerra, o sulista defendeu o direito de greve, o reconhecimento dos povos indígenas e a emancipação da mulher. Mas sua força não tinha raízes somente num programa político capaz de mandar pelos ares as convenções burguesas. Aquele camponês transformado em revolucionário tinha de um lado um exército disposto a morrer sob suas ordens e de outro milhares de agricultores aos quais tinha devolvido o pão e o orgulho. Não demorou muito para que fosse visto como o grande inimigo a ser batido pelo poder carrancista. A ofensiva foi implacável. “Para isso o Governo contou com a ajuda dos Estados Unidos. Carranza, em dezembro de 1914, dispunha de apenas 1.700 fuzis; em menos de um ano Washington lhe forneceu mais de 53.000”, destaca Pineda.
Com esse apoio Carranza e seu general puseram mãos à obra, e já em fevereiro de 1916 começaram a fabricar, com equipamento importado dos Estados Unidos, as granadas para o gás asfixiante com o qual queriam aniquilar os zapatistas. “É possível que tenham usado fosgênio, um veneno incolor e com cheiro de milho verde, cujos sintomas não são imediatos”, explica Pineda. Junto com o arsenal químico, os carrancistas esboçaram um plano de guerra seguindo os passos das sangrentas campanhas cubanas do general espanhol Valeriano Weyler. E ainda protegeram o Distrito Federal com uma linha de trincheiras de mais de 100 quilômetros e coletaram dados de inteligência, mediante o uso generalizado da tortura, para saber milimetricamente a localização e os movimentos do inimigo.
Em 12 de março de 1916 teve início a invasão. A máquina do terror foi liberada. Povoados foram incendiados, e as plantações, destruídas. Centenas de camponeses foram executados sumariamente, e milhares foram concentrados e deportados. “O objetivo era obrigar que os zapatistas cuidassem mais de sobreviver que de combater. Isso facilitava as ações de extermínio”, diz Pineda.
O primeiro golpe teve êxito. A estratégia de terra arrasada fez os zapatistas recuarem e devastou a população civil. Imensas colunas de mulheres, crianças e idosos percorriam os descampados em busca de comida. Quando não morriam de fome, eram mortos a balas. O terror os perseguia.
O alto comando carrancista afiou a foice. Ordenou deportações em massa para Yucatán e escravizou povoados inteiros em campos de trabalho. Quem tentava fugir era executado sem demora. O mesmo era feito com quem chegasse a menos de 60 metros de uma ferrovia ou andasse sem salvo-conduto por caminhos e trilhas ou simplesmente fosse suspeito de servir ao zapatismo. Não havia perdão para o inimigo.
Depois do recuo inicial, os zapatistas conseguiram reagrupar forças e desencadearam em julho sua contraofensiva. O espírito de uma revolução e o gênio militar de Zapata lhes abriram caminho. Os rebeldes se multiplicaram diante de tropas perplexas e excessivamente confiantes. O movimento se deu em todas as frentes. Caíram Tepoztlán e Santa Catarina. O general Pablo González respondeu endurecendo a repressão. O castigo sobre a população civil disparou. As garantias constitucionais foram suspensas em todo o território revolucionário. Morelos, Puebla, Guerrero, o Estado do México, Tlaxcala e parte de Hidalgo sentiram o jugo de Carranza. Mas nada disso bastou.
No início de 1917, Zapata conseguira expulsar de seu território o invasor. Começou então um período curto e intenso da insurreição zapatista. Em março, o líder proclamou “o governo do povo pelo povo”. Raivosamente antioligárquico, reabriu escolas, deu luz a novas formas de administração e reorganizou o Exército Libertador do Sul. Embora limitado aos confins meridionais, seu ideário era pura nitroglicerina: “Quando o camponês puder gritar ‘sou um homem livre, não tenho senhores, não dependo de mais do que meu trabalho’, então diremos os revolucionários que nossa missão foi concluída, então se poderá afirmar que todos os mexicanos têm pátria”, deixou escrito.
Como tantas coisas naqueles dias, sua declaração foi um marco e uma miragem. Os carrancistas, decididos a esmagar a revolta camponesa, logo voltaram à carga. No final de 1918 lançaram a segunda invasão. E dessa vez miraram em Zapata.
O coronel carrancista Jesús Guajardo foi enviado para matá-lo. Primeiro fez saber aos zapatistas que estava disposto a desertar e depois, como prova de confiança antes de se encontrar com o líder revolucionário, fuzilou 50 soldados federais.
Ambos combinaram de se reunir em 10 de abril de 1919 na Fazenda Chinameca, em Morelos. Quando Zapata cruzou a entrada, a traição se abateu sobre ele. Embora tenha conseguido sacar seu revólver, não pôde apertar o gatilho. Sete balas acabaram antes com ele. Seu cadáver foi levado no mesmo dia para o general Pablo González e exibido em público. O traidor Guajardo foi promovido. Com o tempo caiu no esquecimento. Zapata, enterrado e pranteado como poucos no México, continua vivo desde então.
TUDO SOBRE O REVOLUCIONÁRIO
A figura de Emiliano Zapata nunca descansa. Carismático e revolucionário, sua imagem faz parte da iconografia do México. E também do debate. Antecessor das insurreições que ao longo do século 20 sacudiram o país, Zapata é objeto de atenção por parte dos historiadores. Seu estudo tem a participação decidida do Colégio do México (Colmex), uma das instituições universitárias de elite da América Latina. Em novembro, o Colmex organizou uma exposição sobre Zapata e intensas jornadas de revisão, nas quais se tratou desde a validade de seu legado até a pouco conhecida ofensiva carrancista. Esse esforço se uniu à criação de um site interativo, chamado Rostos do Zapatismo, no qual se pode ter acesso direto ao seu arquivo digitalizado e aos registros sonoros de testemunhas da revolução.
Vargas Llosa: “A história não absolverá Fidel Castro”
Grandes escritores latino-americanos analisam a morte do líder cubano para o EL PAÍS
JUAN CRUZ JAN MARTÍNEZ AHRENS JAVIER RODRÍGUEZ MARCOS
Cidade do México 28 NOV 2016 - 08:35 COT
“A história não absolverá Fidel Castro.” O prêmio Nobel Mario Vargas Llosa o diz cheio de surpresa. Conheceu bem Fidel porque acreditou na revolução. Tinha acabado de saber, pelo EL PAÍS, da morte do líder cubano. Eram oito horas da manhã de sábado em Guadalajara (México). O escritor peruano pediu um tempo para refletir sobre o artigo que escreverá para este jornal, mas avançou uma opinião ainda sem ter se recuperado de uma notícia que está no centro de todas as conversas entre escritores e editores presentes à Feira Internacional do Livro de Guadalajara, a mais importante do mundo em espanhol.
Vargas Llosa ainda está usando roupa de ginástica. Fez um pouco de esporte antes de participar da homenagem que será prestada pelos seus 80 anos. “Sou o último sobrevivente do boom da literatura hispano-americana”, ri o escritor antes de tomar um gole de café com um pouco leite e lançar sua primeira reflexão. “Espero que essa morte abra um período de abertura, tolerância, democratização em Cuba. A história fará um balanço destes 55 anos que acabam agora com a morte do ditador cubano. Ele disse que a história o absolverá. E eu tenho certeza que a história não absolverá Fidel”.
Vargas Llosa foi um dos intelectuais latino-americanos que viram na Revolução Cubana uma luz democratizadora. Chegou a fazer parte do grupo de escritores que visitavam Castro, mas logo se decepcionou. A perseguição aos dissidentes o horrorizou. Havia represálias, lembra o Nobel, não apenas pelas ideias políticas, mas também pela orientação sexual: mesmo que fossem partidários do regime, “Castro chamava os homossexuais de enfermitos (doentinhos)”.
Héctor Abad Faciolince. “Sem Fidel, o boom teria tido outras proporções. Alguém poderia hesitar se os escritores eram parasitas da revolução ou se a revolução era parasita dos escritores. Ao contrário, houve uma simbiose que funcionou nos anos sessenta, enquanto intelectuais franceses como Jean-Paul Sartre se aproximaram dessa árvore e dessa sombra”, afirma o escritor colombiano, de 58 anos. “Mas houve uma ruptura e foi quando a revolução pediu que Vargas Llosa doasse o montante do Prêmio Rómulo Gallegos, obtido por A Casa Verde, e prometeu-lhe que seria reembolsado secretamente. Aí se viu a capacidade de corrupção da política. Com Vargas Llosa não funcionou para eles”, conclui o autor de Somos o Esquecimento que Seremos.
Nélida Piñón. “Fidel acabou há muito tempo. Na verdade, foi o fim de uma utopia inatingível”, diz a escritora brasileira, de 79 anos. “Eu o conheci. Ele era um homem que falava, falava e falava, prolongava as histórias sem deixar que o outro dissesse nada”, ri Piñón, para quem o líder cubano está cheio de sombras: “Impôs o terror, perseguiu os gays, encheu as prisões”. E as coisas boas? “Que foi um construtor de utopias, de sonhos. Mas faz muito tempo que sua história terminou. Isso acontece com todos os heróis: não resistem ao seu próprio heroísmo”.
Enrique Krauze. O grande historiador mexicano, de 69 anos, não lamenta absolutamente a morte de Fidel. “Agora o mundo será menos ruim. Foi o ditador mais longevo da história latino-americana e nunca tive sentimentos por ele”, diz. Para o autor de Siglo de Caudillos (Século de Caudilhos), a morte abre a possibilidade de uma abertura, especialmente na área econômica, o grande calcanhar de Aquiles do regime. “Donald Trump verá com bons olhos que Cuba caminhe em direção ao capitalismo, mas para ele dará no mesmo que continue sendo uma ditadura”, conclui.
Sergio Ramírez. Para o escritor e ex-vice-presidente da Nicarágua, a intolerância de Fidel ficou clara quando ele decidiu obrigar o poeta Heberto Padilla a fazer uma autocrítica stalinista para um livro que o regime tinha apontado como indesejável. “Então o terror se manteve, veio a perseguição aos intelectuais, aos homossexuais. Acabou em seguida com a primavera cultural cubana, instaurou a ideia de que se estava com ele ou contra ele”, afirma Ramírez, de 74 anos.
Juan Villoro. Surpresa, mas nenhuma tristeza. Irônico, o escritor e pensador mexicano lembra que Fidel chegou a adquirir a condição de líder eterno. “Nós o considerávamos imortal, mas no final vimos que era humano”. Para Villoro, de 60 anos, a morte de Castro fecha um ciclo que estava esgotado havia muito tempo. “Tenho a idade da Revolução Cubana e envelhecemos juntos. Foi a depositária de muitos ideais de justiça social, mas ela mesma foi traindo esses ideais. As razões são variadas, mas foram decisivos os seus próprios erros e a perseguição aos dissidentes. Minha maior decepção foi o fuzilamento do general Arnaldo Ochoa”, afirma.
Daniel Divinski. “Fidel foi um ponto de inflexão na história da América Latina, mais além dos excessos posteriores... O pior? O avassalamento dos direitos humanos, a perseguição de pessoas que não eram contra a revolução, mas que queriam reformas, e não derrubá-lo”. Para o conhecido editor argentino, de 74 anos, não há herdeiros de Fidel. “Ele acaba em si mesmo. Nos últimos tempos, decepcionou muito. Como dizia Perón de si mesmo, já era um leão herbívoro. Surgirão outros, mas já não haverá uma liderança individual como a sua”.
Julio Ortega. “Fidel construiu um aparato cultural, mas paralisou a cultura. Produziu repressão e exílios, tudo se reduzia a defender a revolução. Ele decretava quem era o bom e o mau. E não houve só um caso Padilla, mas vários. Estamos agora em outra época e as coisas vão melhorar”, diz o crítico peruano.
Claudia Piñeiro. “Com a morte de Fidel, acabou o século XX”, sintetiza a escritora argentina.
Um sopro de liberdade permeia as memórias do grande pintor Fernando de Szyszlo, que ficou no Peru quando Nova York e Paris decidiam os prestígios artísticos
MARIO VARGAS LLOSA 14 / 12 / 2016 - 17:00 COT
As memórias publicadas por Fernando de Szyszlo são tão belas como o título de seu livro: A Vida Sem Dono (sem tradução no Brasil). Um sopro de liberdade permeia, de fato, todas essas páginas em que evoca sua vida, sem eufemismos, desplantes nem censuras, com franqueza, inteligência e lucidez. Sua palavra guia o leitor por uma rica experiência de nove décadas, na qual sua vocação de pintor e a pintura são protagonistas e, com elas, os grandes artistas e intelectuais que conheceu e frequentou na Europa e na América, muitos somente no início, além da cultura e da política peruanas no último século, de sua vida pública e privada, as alegrias e desgraças, as esperanças, as frustrações e os amores apaixonados – três, exatamente – que iluminaram essa longa existência.
Szyszlo é um dos grandes pintores de nosso tempo e teria sido mais conhecido do que é se, como fizeram muitos artistas latino-americanos – Lam, Matta, Botero e outros – tivesse ficado nos Estados Unidos ou na Europa, numa época em que Paris e Nova York decidiam os prestígios artísticos. Mas ele preferiu voltar ao limbo que era então o Peru, culturalmente falando, porque, assim como outro companheiro de sua geração do qual fala com carinho em seu livro, o poeta e dramaturgo Sebastián Salazar Bondy, precisava fisicamente da presença de seu país ao redor, embora fosse só para enfrentar rotineiramente tudo o que estava mal e o irritava em si mesmo. Essa foi sua maneira de viver, de criar, esforçando-se não apenas para atingir cada vez maiores níveis de originalidade e perfeição na sua arte, mas também para tentar tirar a cultura e a vida cívica que o circundavam do subdesenvolvimento, do provincianismo, do isolamento. Antes que Sartre desenvolvesse a ideia do “compromisso”, Szyszlo já era um artista comprometido até a medula. Dedicou-se a essa batalha ao longo de toda a sua vida e, de certa forma, venceu, mas o extraordinário é que continue lutando, incansável, exigindo de si mesmo como se estivesse começando em todas as horas que passa diariamente em seu ateliê – com discos de música clássica ensurdecendo o ambiente – e pronunciando-se sem cessar em cartas, reportagens e artigos sobre todos os grandes temas da atualidade, com uma coerência sem censura a favor da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, de uma arte e de uma cultura sem fronteiras nem armadilhas, sem complexos de superioridade nem de inferioridade, demonstrando, com a sua própria obra, que a arte pré-hispânica pode fundir-se com as mais ricas descobertas da modernidade plástica e alcançar a universalidade sem cair no pitoresco ou num costumbrismo que não leve em conta a realidade ao redor.
Fernando de Szyszlo y Vargas Llosa
Szyszlo foi o primeiro artista abstrato do Peru, e sua primeira mostra provocou uma explosão de vozes críticas. Quando se tornou famoso internacionalmente, um grupo de empresários peruanos, vendo que havia um museu dedicado a Tamayo no México e que até mesmo Guayasamín tinha seu próprio museu no Equador, quis auspiciar um Museu Szyszlo no Peru. Um manifesto de dezenas de pintores peruanos, que destilava inveja sulfúrica, protestou. Szyszlo recorda aquele episódio, em que abriu mão imediatamente do projeto, com certa pena, só porque, entre os signatários daquele texto, havia um discípulo que apreciava e promovera. É uma pequena história sem importância que ilustra muito bem aquela afirmação do escritor Inca Garcilaso de la Vega, que amava o Peru tanto como Szyszlo, mas chamava sua terra natal de “madrasta dos seus filhos”.
Quem conhece Szyszlo sabe que ele, ao contrário de outros bons pintores, que pintam só com as mãos (e o fazem muito bem), é um homem muito culto, sobretudo em literatura, grande leitor de poesia, e que entre as influências que recebeu, além da de artistas como Hartung, Rothko e Tamayo, ele também menciona Octavio Paz, José María Arguedas e André Breton. Suas leituras incluem Thomas Mann, Paul Valéry e –sobretudo –Proust, a quem costuma citar, com frequência de cor. Sempre se importou com as ideias tanto como os objetos estéticos e, por isso, as perguntas que dedica ao seu trabalho de pintor estão entre as mais sedutoras e originais de seu livro.
Não é frequente que um pintor explique, com tanta pertinência, a maneira como vai forjando cada quadro, o pequeno esquema, traço, linha ou figura que desencadeia o processo, a intensidade de emoções que lhe produz essa aventura cotidiana, a suspeita de que tudo aquilo vem das profundezas do subconsciente, o entusiasmo com que trabalha e, logo em seguida, diz, a derrota inevitável, a comprovação de que o que foi alcançado no quadro terminado está sempre aquém do quadro concebido como ideia, tentando dar-lhe forma todos os dias, sucessivamente, sabendo que é impossível, pois a absoluta perfeição é um demônio acelerado que um criador nunca alcança.
Já era um artista comprometido antes de que Sartre desenvolvesse a ideia do “compromisso”
Szyszlo é o melhor amigo que tenho, o mais recordado e de quem mais tenho saudade, e eu achava que o conhecia bem, mas suas memórias me revelaram que, sob essa sobriedade tão austera – que ele chama de timidez –, há uma personalidade menos firme do que parecia, mais delicada e vulnerável, na qual as traições e decepções – que, evidentemente, reflete também em seu trabalho – deixam uma pegada profunda, como a mítica paixão frustrada de sua juventude, ocultada sob o pseudônimo de Laura, e que descreve suas memórias com uma elegância que não consegue dissimular que, apesar do decorrer de tantos anos, existe uma ferida que ainda sangra.
A morte de seu filho Lorenzo, em um acidente de avião, afetou-o terrivelmente, dividindo sua vida em um antes e um depois. E, embora todos os que o conhecemos soubéssemos disso, agora, depois das páginas lancinantes com que evoca essa tragédia, sabemos melhor, e também sabemos que nunca haverá cura para essa ausência que o fez conhecer de perto aquela “boca da sombra” que tanto o havia intrigado desde que, pela primeira vez, encontrou-se com essa expressão em um livro, sem saber o que queria dizer e de onde vinha, para descobrir, após dois anos, e em circunstâncias atrozes, que havia sido inventada por Victor Hugo e que era outra das tantas metáforas que os seres humanos fabricam para não chamar a morte pelo nome.
É bom viver os 91 anos que Szyszlo viveu se o fazemos como ele fez, mantendo-se sempre ativo e beligerante, trabalhando sem trégua na busca daquele sonho impossível, do quadro perfeito, fiel sempre a um punhado de princípios – lealdade, amizade, verdade, liberdade, amor – que lhe deram, tanto como seu talento criativo, a autoridade moral de que goza em seu país, assim como o apreço e a admiração de tanta gente. Embora seja de poucas palavras e hesite em remexer em sua intimidade, mesmo que em pequenos grupos seja o mais ameno e divertido, em A Vida Sem Dono revela muitas coisas íntimas – também o faz Lila, sua mulher, numa carta deliciosa presente entre aquelas páginas –, consciente de que um livro de memórias só tem razão de ser se for escrito (ou ditado, como parece ser o caso, pelo menos de parte deste) seriamente, com o mesmo arrojo e audácia com que um genuíno criador escreve um poema, compõe uma sinfonia ou pinta um quadro. Seu livro é lido com prazer e, por vezes, com a mesma nostalgia com que ele evoca tantas coisas que foram e já não são mais, e tantas pessoas que agora aparecem como recordações que os dias vão aos poucos apagando e, também, em cada página, até as mais dolorosas, essa convicção profunda de que a vida, apesar de poder ser tão ingrata, é também a coisa mais maravilhosa que nos aconteceu e, por isso, devemos aproveitá-la até a última gota.
Eu não tinha isso tão claro antes de ler o artigo de Héctor Abad Faciolince. Mas agora, se fosse colombiano e pudesse votar, eu também votaria no “sim”
Os bons artigos me agradam quase tanto quanto os bons livros. Sei que não são muito frequentes, mas não ocorre o mesmo com os livros? É preciso ler muitos até encontrar, de repente, aquela obra-prima que ficará gravada em nossa memória, onde irá crescendo com o tempo. O artigo que Héctor Abad Faciolince publicou no EL PAÍS em 3 de setembro (Já não me sinto vítima), explicando as razões pelas quais votará “sim” no plebiscito em que os colombianos decidirão se aceitam ou rejeitam o acordo de paz do Governo de Santos com as FARC, é uma dessas raridades que ajudam a ver claro onde tudo parecia borrado. A impressão que me causou me acompanhará por muito tempo.
Abad Faciolince conta uma trágica história familiar. Seu pai foi assassinado pelos paramilitares – ele transformou aquele drama em um livro memorável: El olvido que seremos (o esquecimento que seremos) –, e o marido de sua irmã foi sequestrado duas vezes pelas FARC, para lhe arrancarem dinheiro. Na segunda vez, os compreensivos sequestradores até mesmo lhe permitiram pagar seu resgate em confortáveis parcelas mensais ao longo de três anos. Compreensivelmente, este senhor votará “não” no plebiscito. “Não sou contra a paz”, explicou ele a Héctor, “mas quero que esses sujeitos paguem com pelo menos dois anos na cadeia”. Causa-lhe indignação que o custo da paz seja a impunidade para quem cometeu crimes horrendos dos quais foram vítimas centenas de milhares de famílias colombianas.
Mas Héctor, entretanto, votará “sim”. Acha que, por mais alto que pareça, é preciso pagar esse preço para que, depois de mais de meio século, os colombianos possam enfim viver como pessoas civilizadas, sem continuar matando uns aos outros. Do contrário, a guerra prosseguirá de modo indefinido, ensanguentando o país, corrompendo suas autoridades, semeando a insegurança e a desesperança em todos os lares. Porque, depois de mais de meio século de tentativas, para ele ficou demonstrado que é um sonho acreditar que o Estado pode derrotar de maneira total os insurgentes e levá-los aos tribunais e à prisão. O Governo de Álvaro Uribe fez o impossível para conseguir isso e, embora lograsse reduzir os efetivos das FARC à metade (de 20.000 para 10.000 homens em armas), a guerrilha continua aí, viva e fustigando, assassinando, sequestrando, alimentando-se do e alimentando o narcotráfico, e, sobretudo, frustrando o futuro do país. É preciso acabar com isso de uma vez.
O acordo de paz funcionará? A única maneira de saber é colocando-o em marcha, fazendo todo o possível para que o acordado em Havana, por mais difícil que seja para as vítimas e suas famílias, abra uma era de paz e convivência entre os colombianos. Assim foi feito na Irlanda do Norte, por exemplo, e outrora ferozes inimigos agora, em vez de balas e bombas, trocam argumentos e descobrem que, graças a essa convivência que parecia impossível, a vida é mais vivível e, graças aos acordos de paz entre católicos e protestantes, se iniciou uma era de progresso material para o país, que, infelizmente, o estúpido Brexit ameaça mandar ao diabo. Também se fez do mesmo modo em El Salvador e na Guatemala, e desde então salvadorenhos e guatemaltecos vivem em paz.
A romântica revolução dos barbudos serviu para que milhares de jovens latino-americanos se sacrificassem inutilmente
Os ares da época já não estão para as aventuras guerrilheiras que, nos anos sessenta, só serviram para encher a América Latina de ditaduras militares sanguinárias e corrompidas até a medula dos ossos. Empenhar-se em imitar o modelo cubano, a romântica revolução dos barbudos, serviu para que milhares de jovens latino-americanos se sacrificassem inutilmente e para que a violência – e a pobreza, claro – se espalhasse e causasse mais estragos do que aquela que os países latino-americanos arrastavam fazia séculos. A lição nos foi educando pouco a pouco, e é por isso que hoje há, de um confim a outro da América Latina, consensos amplos em favor da democracia, da coexistência pacífica e da legalidade, ou seja, uma rejeição quase unânime das ditaduras, das rebeliões armadas e das utopias revolucionárias que mergulham os países na corrupção, na opressão e na ruína (leia-se Venezuela).
A exceção é a Colômbia, onde as FARC demonstraram – creio que, sobretudo, por causa do narcotráfico, fonte inesgotável de recursos para provê-las de armas – uma notável capacidade de sobrevivência. Trata-se de um anacronismo flagrante, pois o modelo revolucionário, o paraíso marxista-leninista, é uma enteléquia na qual ainda acreditam somente grupelhos de obtusos ideológicos, cegos e surdos para os fracassos do coletivismo despótico, como testemunham seus dois últimos tenazes supérstites, Cuba e Coreia do Norte. O surpreendente é que, apesar da violência política, a Colômbia seja um dos países com uma das economias mais prósperas na América Latina e onde a guerra civil não desmantelou o Estado de Direito e a legalidade, pois as instituições civis, ainda que mal, continuam funcionando. E é certo que um incentivo importante para que os acordos de paz se concretizem é o desenvolvimento econômico, que, sem dúvida, trarão consigo, certamente em curto prazo.
O modelo revolucionário é uma enteléquia na qual ainda acreditam somente grupelhos de obtusos ideológicos
Héctor Abad diz que essa perspectiva estimulante justifica que se deixe de olhar para trás e se renuncie a uma justiça retrospectiva, pois, caso contrário, a insegurança e a sangria continuarão sem fim. Basta que se saiba a verdade, que os criminosos reconheçam seus crimes, de modo que o horror do passado não volte a se repetir e fique aí, como um pesadelo que o tempo irá dissolvendo até desaparecer. Não há dúvida de que existe um risco, mas qual é a alternativa? E, ao seu ex-cunhado, faz a seguinte pergunta: “Não é melhor um país onde os seus próprios sequestradores estejam livres fazendo política em vez de um país em que esses mesmos sujeitos estejam perto da sua propriedade, ameaçando os seus filhos, meus sobrinhos, e os filhos dos seus filhos, seus netos?”.
A resposta é sim. Eu não tinha isso tão claro antes de ler o artigo de Héctor Abad Faciolince, e muitas vezes me disse nestas últimas semanas: que sorte não ter que votar nesse plebiscito, pois, de verdade, me sentia sendo repuxado entre o “sim” e o “não”. Mas as razões deste magnífico escritor, que é também um cidadão sensato e íntegro, me convenceram. Se fosse colombiano e pudesse votar, eu também votaria no “sim”.
O mais completo de todos os horóscopos de nossa astróloga de prestígio internacional
SUSAN MILLER 19 DEZ 2016 - 17:54 COT
Capricórnio
Durante este ano você iniciará uma nova etapa de trabalho na qual terá maior responsabilidade, poder e prestígio. Apesar disso, as responsabilidades e as obrigações em casa vão requerer maior atenção e, na lua cheia de 5 de outubro, você tomará uma decisão que terá repercussões no ambiente familiar. Por este motivo, terá de fazer uma viagem para se desconectar da rotina, tomar fôlego e recuperar energia, talvez em uma estância turística onde possa conhecer gente nova. Durante outubro, Júpiter derramará uma fonte de energia na sua vida emocional, por isso será uma etapa propícia para buscar num novo par.
Durante este ano você experimentará o que é ser um vencedor e ter um merecido lugar nos altos escalões do poder. Júpiter, o planeta da boa sorte, recentemente entrou em sua décima casa de honra, em setembro de 2016, para ficar durante 13 meses. Isto significa que 2017 será um ano de enormes recompensas em nível profissional, mas ao mesmo tempo você terá de tomar algumas decisões importantes. Será um ano importante para valorizar a sua maneira de viver em relação ao tipo de moradia e também para tomar algumas decisões familiares. A lua cheia de 5 de outubro trará a necessidade de tomar mais decisões no âmbito familiar.
A lua cheia em Libra em 10 de outubro será um ponto culminante na sua careira, por isso, pode ocorrer uma situação ao mesmo tempo emocionante, que te fará prestar atenção na família e amigos. Também chegará uma proposta especial, mas você sentirá que não é o momento apropriado para aceitar o novo trabalho. Na realidade, a sua carreira ficará emperrada temporariamente entre março e abril e, embora você receba a ajuda de Júpiter, terá de arcar com um contratempo. De outubro a dezembro, será um momento para ficar atento e mostrar os seus talentos. Você se mostrará brilhante em sua carreira, mas suas obrigações e responsabilidades familiares estarão pesando, por isso precisará de ajuda no caso de isso acontecer em casa ou com a família, e pode ser até mesmo ajuda profissional.
Os arianos são extremamente independentes, mas este ano vocês se darão conta de que não necessitam fazer as coisas sempre sozinhos
Aquário
O universo preparou projetos emocionantes para os próximos meses. Júpiter guiará você para que expanda os seus horizontes e compartilhe seu conhecimento por meio de uma publicação escrita ou mediante o ensino. O movimento de Júpiter na órbita de Escorpião em 10 de outubro será o primeiro passo mais importante na sua profissão e possivelmente o melhor da sua trajetória. Em relação ao ano anterior, você deve ter tido problemas para fazer novos amigos porque a carreira ou o estudo consumiram seu tempo, por isso este ano você deverá buscar a maneira de dividir o tempo com algum projeto humanitário. O eclipse de Aquário com Leão em 10 de fevereiro representará uma mudança de vital importância em nível pessoal e emocional, talvez um maior compromisso com seu par ou conhecer uma pessoa especial.
Você aprenderá sobre o significado das relações. É bem sabido que os amigos são a família que escolhemos. Os amigos são um privilégio que implicam responsabilidades. Você terá de se perguntar o que é um bom amigo e o que espera dele. Em relação ao ano anterior, você pode ter se mudado para outra cidade e tido problemas para fazer novos amigos porque a carreira ou estudo te consumiram por completo. Este ano você deverá encontrar uma maneira de ser mais sociável e ter maior disposição para projetos humanitários e beneficentes.
Os meios de comunicação são a décima primeira casa, que está sendo visitada por Saturno, e isto significa que você não deve compartilhar todos os seus dados e opiniões online. Recorde-se de 2016 e pense sobre o que você aprendeu sobre os meios de comunicação desde que Saturno ilumina o seu caminho e o muito que aprendeu. Existem vários motivos para que você precise da presença de Saturno. No seu círculo de amigos mais próximos haverá um que precisará da sua ajuda e necessitará do seu tempo para estender-lhe a mão. O voluntariado e a ajuda aos demais permitirão que você desenvolva habilidades que, mais tarde, poderiam transformar-se em vantagens na carreira profissional. Esta bela parte da sua vida (a ajuda aos outros) fará com que você se desenvolva interiormente.
No eclipse de Aquário com Leão em 10 de fevereiro será lua cheia e acontecerá algo de vital importância em nível pessoal. O eclipse colocará a sua atenção em um relacionamento já encerrado. O eclipse será perto da data de São Valentim (14 de fevereiro, o dia dos namorados em vários países), por isso poderá significar um maior compromisso na sua relação e em um futuro juntos. Se você está solteiro, poderá conhecer uma pessoa especial como consequência do eclipse.
Em geral, Gêmeos encontrará eclipses extremamente amistosos, cheios de boas notícias
Peixes
Durante os últimos anos você trabalhou muito duramente para alcançar os seus objetivos profissionais, desde que Saturno entrou na órbita de Sagitário, em 2014. Tudo o que foi aprendido nestes anos servirá para que em 2017 você consiga o respeito e a admiração no seu ambiente de trabalho. O eclipse mais importante do ano para você será em 26 de fevereiro, com o aparecimento de Netuno, que trará um período carregado de romantismo. Se você tem em mente começar um projeto criativo, o encontro entre Vênus e Júpiter, em 1 de novembro, será a data apropriada para apresentá-lo e iniciar novos trabalhos.
Este é um ponto importante. Tente fazer algo novo no seu processo inventivo e Saturno ajudará. Outras pessoas, vendo o seu processo, poderão encontrar novos e inovadores caminhos se seguirem o seu exemplo. O Sol e Saturno estão em perfeito ângulo com Urano, o que indica boas notícias. Você trabalhará duro, mas isto é um clássico exemplo de axioma, e “pesada é a cabeça que leva a coroa”. Urano é o planeta dos acontecimentos inesperados. Durante este ano você estará ocupado examinando a si mesmo e a sua carreira. Você não verá logo a recompensa ou o prêmio.
Quando Júpiter deixar o seu lado financeiro em outubro de 2017, você obterá lucros de mercados estrangeiros. Em 26 de outubro, quando Júpiter se encontra na zona do Sol, será o dia mais feliz do ano, pois significa o início de atividades que você não tinha feito até então. Saturno estará em órbita para ajudá-lo mediante uma velha amiga do passado que estenderá a mão para você. De 18 de maio até 11 de novembro você poderá trabalhar para estabilizar o salário e as finanças.
Se você for criativo, terá de apresentar uma iniciativa artística em 1 de novembro, quando Vênus se encontra com Júpiter. O eclipse mais importante do ano para você será o de 26 de fevereiro, já que aparece Netuno, que trará um período carregado de romantismo e também um fabuloso projeto criativo. O eclipse de 21 de agosto deverá trazer outra surpresa no plano profissional e você chegará a ser um duro competidor.
Embora 2017 seja um ano doce para você, libriano, os eclipses que libra viverá nestes meses se refletirão numa série de dificuldades que testarão sua valentia e coragem
Áries
Os arianos são extremamente independentes, mas este ano vocês se darão conta de que não necessitam fazer as coisas sempre sozinhos. Você pode encontrar perfeitamente uma pessoa que ajude em casa ou no trabalho. Esta pessoa os fará desfrutar mais da vida e tudo será pela boa sorte de Júpiter. Embora você duvide um pouco dos seus esforços, logo verá um grupo de pessoas que o estimularão e vão querer que brilhe. Se você necessita de um representante, assessor para te promover ou um companheiro de edição, a pessoa correta chegará muito em breve. Todo tipo de colaboração será especial.
Marte fará você se sentir com admirável beleza de 28 de janeiro a 9 de março, um momento perfeito para impressionar essa pessoa que ronda os seus pensamentos. Se você quer se casar, Júpiter está na sua casa de matrimônio até outubro de 2017. Se você está solteiro, começará a conhecer candidatos para dar o sim definitivo. Se já está casado, as coisas irão extremamente bem com o seu par, proporcionando opções que você antes nunca havia tido. Seu par ficará otimista e pronto para uma vida com 100% de aproveitamento. Se você deseja ter um filho, a cegonha não tardará a bater na sua porta. Se prefere utilizar esta energia para criar uma forte relação com seu par no trabalho ou com um amigo, vá em frente.
Marte e Vênus rondarão Áries para o eclipse lunar de 10 de fevereiro, convocando cupido. Vá a festas e se divirta, nunca se sabe quem você encontrará. Este mesmo eclipse vai ajudá-lo a dar um salto na carreira, com as suas ideias criativas. Outra época fenomenal para o amor é de 20 de julho a 5 de setembro, quando Marte ronda Leão. Marque também no seu calendário o eclipse solar de 21 de agosto como um dia para o amor. Não planeje nada romântico de 4 de março a 15 de abril, pois Vênus estará retrocedendo. Também não planeje corte de cabelo ou um tingimento diferente, nem marque consulta com cirurgião plástico. Não planeje viajar para um destino longínquo em 2017, mas considere dar pequenas escapadas ao longo do ano. Uma época esplêndida seria de 21 de abril a 4 de junho.
Em questões de trabalho, você impressionará muitos diretores da sua empresa por volta da lua cheia de 30 de dezembro de 2016, justo antes de 2017 entrar. Pode ser que ofereçam uma nova posição ou deem a você responsabilidades maiores. Saturno é conhecido por colocar as pessoas à prova, mas se você passar por tudo não haverá ninguém que o impeça de chegar à sua meta no trabalho. Graças a esses movimentos as suas finanças serão fáceis de manejar. Se você está planejando ter o próprio negócio, começando em 2017, terá uma grande oportunidade de conseguir um empréstimo no banco ou arranjar investidores.
Com Saturno presente na órbita de Sagitário, você aprenderá a valorizar a virtude da paciência e do realismo
Touro
A projeção do ano 2017 para você se mostra mais emocionante que a de 2016. Júpiter cura tudo e estará na sua casa da saúde quase todo o ano, até 10 de outubro de 2017. Vá aos médicos especialistas que te falem de novas técnicas ou descobertas, caso você tenha uma doença crônica. No seu bem-estar físico, você terá uma grande oportunidade para alcançar a sua meta, seja pela saúde seja pelo prazer.Agora você poderá perder peso, embora no passado tenha passado mal tentando fazer isso. Faça aulas particulares na academia ou experimente algum esporte novo. Você terá uma elevada demanda de trabalho graças a Júpiter e novos projetos que poderão melhorar o seu status de trabalho. Se você é autônomo, novos clientes surgirão, por indicações. Se você precisa contratar alguém, este ano será muito fácil encontrar a pessoa certa. Nada a ver com os anos anteriores.
Quando Júpiter estava em Virgem em 2016, você teve a oportunidade de conhecer alguém interessante. Se assim foi, continue saindo com essa pessoa. Se você está solteiro e não conheceu ninguém novo no ano passado, não se preocupe! Você ainda tem de 19 de dezembro de 2016 a 18 de janeiro de 2017 para conhecer alguém novo. Todos os taurinos, independentemente de seu estado civil, desfrutarão deste período pleno de felicidade. O eclipse lunar de 26 de fevereiro iluminará o teu setor social. Prepare-se nesse dia, já que será um grande dia para questões do coração ou de amizades. Vênus estará retrógrado de 5 de março a 15 de abril. Não é um bom momento para fazer mudanças radicais na aparência ou dar grandes passos no amor. Se você está saindo com alguém e a relação está se tornando séria, em 10 de outubro Júpiter entra em Escorpião, fazendo do seu signo o mais favorável para se casar. Se você está casado, se dará muito bem com seu par e estará mais otimista para o futuro. Pense em uma meta para cumprir em casal, como comprar uma casa ou ter um bebê. O seu dia da sorte é 26 de outubro, mas o fim de semana anterior seria ideal para alguma celebração.
Gêmeos
Se você conheceu alguém recentemente, entre setembro e dezembro de 2016, mantenha o seu olhar posto nessa relação, já que pode evoluir para algo magnífico. Não conheceu ninguém? Neste caso, você terá a oportunidade de conhecer alguém entre janeiro e setembro de 2017. Marte transita em Gêmeos de 21 de abril a 4 de junho, dando a você segurança e confiança para conhecer pessoas novas. Mercúrio estará retrógrado de 8 de abril a 3 de maio, reduzindo a oportunidade de conhecer alguém novo entre 3 de maio e 4 de junho. Os demais meses do ano serão perfeitos para encontrar o amor. Lembre-se de que, com a lua nova em Gêmeos no 25 de maio, você se associará com pessoas de suma importância para o seu futuro. Saturno, o planeta conhecido por dar lições de vida a você, está ensinando a não pisar nos pés do seu par. Se você tem uma relação forte, de casamento ou negócio, passará esse período sem sentir a influência de Saturno.
Existe outra forma pela qual Saturno pode influencia seu ano, virginiano: talvez você precise cuidar de seus pais ou de alguém que estime tanto quanto um pai
Anote no calendário o 15 de junho e o 21 de dezembro. Esses serão dias de se pôr à prova em todos os aspectos da sua vida. O universo quer que você seja forte e produtivo. Júpiter transitará por Escorpião em 10 de outubro. Você entrará em um período intenso no trabalho, começará a atuar em projetos que o fascinarão, nos quais poderá utilizar todo os seus talentos. Você terá muitas pessoas influentes focadas no seu trabalho e será visto como um talento crescente. E se você tem negócio próprio, encontrará novos clientes ou eles te procurarão, sabendo do seu status na indústria. Os quatro eclipses de 2017 iluminarão a sua vida profissional. Em geral, Gêmeos encontrará eclipses extremamente amistosos, cheios de boas notícias. Em 10 de fevereiro, o eclipse lunar será muito positivo. Aumentará a sua criatividade e os seus lucros. Pode ser que você viaje para um lugar espontaneamente ou que o gesto de um amigo chame a sua atenção. O eclipse solar de 26 de fevereiro trará a você uma oportunidade emocionante no trabalho. Os eclipses de agosto serão incomumente positivos também. Você se sentirá mais otimista, energético e saudável do que nunca.
Câncer
Em termos de trabalho, você passou por mudanças radicais. Este 2017 é o momento para dar um salto. Se você sente que está no ramo profissional errado, pegue um caderno e anote toda vez que fizer algo de seu agrado. Assim você terá uma ideia do que gosta e poderá se direcionar para outro setor para encontrar algo que o apaixone. A lua nova de 10 de abril afetará a sua vida profissional e pedirá que você seja impulsivo. Para isto você tem de ser amplamente otimista sobre o que o espera assim que trocar seu trabalho por outro. Se você não estiver preparado para dar esse salto em abril, o período de 12-19 de maio ou perto de 10 de novembro será fenomenal. Os eclipses de 10 de fevereiro, 7 e 21 de agosto ajudarão a aumentar os seus rendimentos.
O seu lar é tudo e a família está acima de todas as coisas. A sua vida profissional nunca vai assumir protagonismo em sua vida, se isso significar que é preciso deixar a família em segundo lugar. Mas que isto não o impeça de pensar grande! Se você tem de mudar de casa, não se conforme com nada menos do que com a casa ideal. Fale com o banco sobre uma hipoteca para conhecer bem as condições e planejar em conformidade. O mais provável é que você consiga um lugar perfeito com o orçamento que tem. Também existe a possibilidade de que você ultrapasse um pouco o orçamento, mas, no final, tudo será lucro. Se você não está pensando em mudar de casa, estará pensando em reformar algo na sua atual residência. Pode ser que pinte uma parede ou compre um móvel. Se este não for o caso, pode ser que você queira dar as boas-vindas a um bebê, seja seu ou de algum filho seu. A partir de outubro você será um dos signos mais favorecidos para o amor e, se você já o encontrou, esse amor continuará crescendo e se fortalecendo.
Leão
Este ano lhe dá as boas-vindas com notícias que farão você extremamente feliz. O eclipse lunar de 11 de fevereiro ajudará a se concentrar no que é realmente importante. Talvez você realize um desejo que sempre quis – e que virá quando menos esperar. Pode ser um compromisso amoroso ou uma viagem mágica. Solteira, namorando ou casada, toda pessoa de leão se beneficiará com esse eclipse. Por sua cabeça passarão todos os acordos e compromissos que ainda lhe interessam. Terá que revisar os prioritários e ver se realiza alguns para poder agregar outros. O eclipse solar de 26 de fevereiro será protagonizado por suas finanças. Pode ser que lhe ofereçam um novo projeto criativo, mas estude as opções com cuidado porque que Netuno está girando ao seu redor e pode confundir as coisas.
Depois que Saturno deixou Escorpião em dezembro de 2014, a vida começou a ser mais feliz e simples de explorar
Os dois eclipses de agosto podem atingir um ponto sem retorno em sua vida. O de 7 de agosto será um eclipse lunar, colocando mais importância em seu companheiro e seus amigos. Uma relação próxima terá um desfecho estimulante – talvez uma proposta importante de negócios. Você estará otimista e de bom humor. Saturno estará entre as órbitas mais próximas, o que significa que as promessas feitas deverão ser cumpridas. O eclipse solar de 21 de agosto formará um trio dourado com Júpiter e Saturno, indicando que logo chegarão surpresas. Marte começará um novo ciclo para você entre 20 de julho e 5 de setembro.
Você terá de assumir o controle sobre as situações que enfrentar, tendo muita confiança e energia para cumprir com todas as responsabilidades. Se tiver de lançar um novo produto ou projeto, faça isso de 20 de julho a 11 de agosto. Você também aprenderá a se comunicar maravilhosamente, graças à boa sorte trazida por Júpiter em libra. E se tornará um comunicador mais sofisticado em 2017. Se trabalha com redes sociais, publicidade ou relações públicas, estará no lugar certo, no momento ideal para atrair os clientes adequados. Pode ser que tenha boas notícias de sua família. Se tiver necessidade de vender, comprar ou começar a redecorar sua casa, comece no final de outubro ou em novembro. O dia ideal para comprar ou vender uma casa é 26 de outubro. A lua nova de 18 de novembro também ajudará.
Virgem
Júpiter entrou em libra em 9 de setembro de 2016 e continuará até 10 de outubro de 2017. Todas as sementes que você plantou ano passado começam a dar frutos agora. Tem início a temporada mais proveitosa de suas finanças, e o dinheiro será fruto do trabalho realizado. O eclipse solar de 26 de fevereiro virá com um compromisso.Talvez um noivado ou um casamento. Seu companheiro, na vida ou no trabalho, será uma inspiração. Marte transitará por Urano em 26 de fevereiro, o que significa que aparecerá de repente e focará no dinheiro. Em termos de trabalho, maio e o começo de junho parecem ser os momentos adequados para receber uma promoção. Preste muita atenção nas ofertas que vierem depois de 25 de maio.
Os eclipses de 10 de fevereiro, 7 e 21 de agosto se concentrarão em seu bem-estar e sua saúde. Se você pensa em comprar, alugar ou renovar uma casa, tem até 20 de dezembro para isso, aproveitando que Saturno está em sua órbita. Existe outra forma pela qual Saturno pode influencia seu ano: talvez você precise cuidar de seus pais ou de alguém que estime tanto quanto um pai. No final do ano, quando Saturno sair da sua órbita, o peso da responsabilidade em relação à sua casa ou à família diminuirá. Marte passa por seu signo a cada dois anos. A boa notícia é que estará em virgem de 5 de setembro até 22 de outubro. Está será uma grande temporada para tomar a iniciativa em sua vida profissional. Você terá coragem, força e confiança para enfrentar um “não” dos seus superiores.
Se você estiver solteiro e em busca do amor, sentirá uma atração especial entre 19 de setembro e 14 de outubro. Este é também o momento perfeito para mudar a maquiagem, arriscar outro corte de cabelo ou buscar mais informações sobre cirurgias plásticas. Anote na agenda a quinta-feira 5 de outubro, um dia especial ao amor de todos os que são de virgem, seja qual for o estado civil. Se o seu aniversário cai nos cinco dias depois de 11 de setembro, terá sorte dupla. Júpiter lhe dará a opção de viajar a muitos lugares, a maioria de maneira romântica. Planeje um réveillon especial, vá a um destino que não conheça. Todo o esforço para criar um ambiente duradouro e estável dará resultado em breve. Peça um desejo; seus anjos sempre escutam.
A projeção do ano 2017 para você se mostra mais emocionante que a de 2016, querido taurino
Libra
Embora 2017 seja um ano doce para você, os eclipses que libra viverá nestes meses se refletirão numa série de dificuldades que testarão sua valentia e coragem. Apesar disso, o universo lhe devolverá o otimismo que havia se perdido durante os últimos anos. Você conhecerá pessoas influentes que poderão abrir portas no mundo profissional. De 5 de março a 15 de abril, Vênus estará na órbita de libra, indicando que esse é o momento ideal para iniciar uma nova relação.
De fato, 2017 será muito doce: você crescerá ante as dificuldades, apesar das provas cósmicas que enfrentará. Agora se sente como um Super-Homem ou uma Mulher Maravilha, pronto para dar o salto rumo a metas elevadas. Antes de dar um passo à frente, contudo, deverá olhar para todas as dificuldades com coragem e força. Dedique um tempo para analisar os problemas que teve nos últimos anos e averiguar quando começaram, já que Saturno atravessou o caminho de libra em outubro de 2009 e permaneceu ali até outubro de 2012. Saturno só voltará a estar na órbita de libra em setembro de 2039. Até lá, você deve aprender diversas lições com os obstáculos do cotidiano. Durante este ano, chegarão mais testes para fortalecer sua valentia. Libra viverá uma série de eclipses, que se refletirão nas dificuldades que você vai viver nesta etapa. Durante essa fase, será preciso tomar decisões sobre um companheiro ou um amigo próximo, e sobre a sua própria saúde. Mas não importa: os eclipses exigirão mais atenção nos assuntos que mais lhe importam.
Seu o seu aniversário cai entre 11 e 22 de outubro, você deverá lutar com uma relação ou com um problema de saúde. Quando Urano ficar em posição oposta ao Sol, você receberá uma notícia surpreendente de um companheiro – no âmbito do amor ou dos negócios – e deverá prestar atenção, preocupando-se com a sua felicidade e saúde. Se conhecer alguém, tenha cuidado e procure realizar um bom exame do passado dessa pessoa, além de seus gostos, sua estabilidade financeira, seus propósitos e objetivos profissionais. A ideia é evitar todo tipo de surpresa que possa surgir mais adiante.
E virão boas notícias em 2017, já que você também terá sorte no amor. O Universo trará o otimismo, a diversão e a sorte que sua vida tinha perdido nos últimos anos. Júpiter continuará na órbita de libra durante os próximos 12 meses. Você receberá, de muitas maneiras, os presentes que Júpiter lhe preparou. Conhecerá muitas pessoas que farão parte da sua vida, inclusive gente de sucesso e influência que poderá ajudar no seu caminho. Você deverá ter uma ideia clara do tipo de ajuda que necessita. Portanto, virão muitas ofertas atraentes que deverá aceitar. Concentre-se especialmente naquelas que possam enriquecer seu potencial. Júpiter também trabalhará para expandir seus horizontes, principalmente em termos de viagens, e cultivar suas relações pelo mundo todo. Aproveite também para viajar em 2017 (sobretudo nos primeiros nove meses) e visitar cidades que nunca pôde ver e que sempre desejou conhecer.
Se estiver em período de provas ou testes de qualificação, este ano será bom para você ter sucesso se estudar muito. Se for mulher e estiver solteira, o alinhamento entre Júpiter e Libra será um bom momento para conhecer um par romântico.
Este ano lhe dá as boas-vindas com notícias que farão você extremamente feliz, leonino
Você precisará estar atento a algumas datas durante os próximos doze meses. A lua nova de 23 de junho trará uma boa oportunidade que você deverá aceitar e acolher. De 5 de março a 15 de abril, Vênus estará em torno de Libra, e esse é o período adequado para começar algo novo, incluindo um relacionamento. O dia 26 de outubro de 2017 será da boa sorte, e boa sorte para você, quando Júpiter e o sol se alinharem. Isso significa que você receberá uma boa notícia na área financeira. Você precisará ficar alerta durante todo o ano e vigiar mais a saúde, já que Urano estará em oposição ao sol durante 2017. Mantenha os exames e avaliações médicas anuais e vá sempre devagar se começar uma nova relação. O eclipse de 7 de agosto proporcionará a você o maior acontecimento social do ano, no qual estarão presentes numerosos rostos familiares e amigos. Finalmente, o eclipse de 21 de agosto será o ponto culminante no seu relacionamento pessoal (talvez uma proposta ou uma confissão de amor).
Escorpião
Será um ano cheio de energia e segurança. A presença de Saturno até dezembro de 2017 ensinará a você o valor do dinheiro e como gastá-lo. Você deverá se propor abrir um espaço na vida para novas mudanças e relações, do contrário poderá se arrepender de ter deixado passar oportunidades. A lua nova do eclipse solar em 26 de fevereiro iluminará os seus pensamentos sobre o amor verdadeiro, de modo que, se você estiver solteiro, será uma boa ocasião para conhecer uma pessoa que causará um grande fascínio em você.
O seu ano de 2017 estará cheio de energia e segurança em si mesmo. Depois que Saturno deixou Escorpião em dezembro de 2014, a vida começou a ser mais feliz e simples de explorar. Saturno é o planeta que ensina o valor do caminho árduo, do esforço e do sacrifício. As suas finanças começam a firmar-se pouco a pouco ao mesmo tempo em que Saturno passará a ensinar a você o valor do dinheiro. Durante o ano passado você teve que aprender como gastar, preservar e investir o dinheiro pouco a pouco. Aprendeu a negociar em matéria financeira com atenção, por isso em 2017 estará bem equipado na parte das finanças.
O dia 20 de dezembro de 2017 dirá adeus a Saturno, que não voltará até novembro de 2041. Isto significa que em dezembro de 2017, ou algumas semanas antes, você verá um impressionante aumento no salário ou terá ganhos por bônus. Se não receber o dinheiro por essa época, deverá esperar até 26 de outubro, 15 de novembro ou 6 de janeiro, quando as estrelas se cruzam no seu ano. Será então que você receberá o dinheiro.
Júpiter também te dará presentes, fortuna e sorte. Com o novo ano é vital que você elimine algumas das suas obrigações, compromissos ou relações que se tornaram pequenas ou não provocaram um grande fascínio em você. Se você não tem um espaço reservado na sua vida para novas oportunidades e relações, você se arrependerá pelas novas experiências que poderia deixar passar com o tempo. A melhor parte de 2017 chegará durante os últimos quatro meses do ano. Você necessita de tempo para pensar a fundo sobre a sua vida e conceber um grande futuro.
Em termos de trabalho, você passou por mudanças radicais. Este 2017 é o momento para dar um salto
A duodécima casa está também associada com a saúde, por isso é um bom momento para realizar as avaliações na clínica, posto de saúde ou consultório médico, como também para uma terapia que possa propiciar um efeito rejuvenescedor na mente, corpo e espírito. No âmbito psicológico, se você tem problemas, é um bom momento para falar com um profissional terapeuta para obter ajuda. Em 26 de fevereiro, a lua nova e o eclipse solar estarão em Peixes, o que iluminará o seu interior com amor verdadeiro. Se você está solteiro, será uma boa ocasião para conhecer alguém novo que se tornará muito importante para você. Esta pessoa te deixará sem fôlego, com o pulso acelerado. Netuno, o planeta da inspiração, está transitando pelos seus sentimentos e se alinhará com o eclipse solar. Em agosto de 2017 se produzirá um novo eclipse solar e você terá que considerar a possibilidade de mudar de residência ou começar a olhar novas casas e apartamentos. De 19 de dezembro a 8 de janeiro, Mercúrio estará presente no setor da amizade e das relações, e você poderá entrar em contato com amigos que não vê há anos.
Sagitário
Durante o último ano, Júpiter esteve presente nas suas relações pessoais e você se transformou em uma pessoa mais influente e com alma otimista. Durante 2017, você deverá se propor a realizar mais atividades, onde possa conhecer gente nova e começar uma boa amizade. Com Saturno presente na órbita de Sagitário, você aprenderá a valorizar a virtude da paciência e do realismo para perseguir os seus objetivos. E no amor, Urano, o planeta das situações imprevistas, entrará neste terreno com momentos de altos e baixos. Você experimentará com seu par um amor muito vivo.
Você deverá buscar mais diversão. Saturno entrou na órbita de Sagitário em dezembro de 2014 e iluminou a sua vida durante os últimos três anos, mas seu regresso só se dará dentro de 29 anos. Saturno ensina a você a necessidade de ter paciência, realismo e sacrifício para perseguir objetivos elevados.Durante os últimos anos, você teve sorte de dar um salto que mudou o curso de sua vida. Você terá se casado ou tido um filho, ou talvez comprado uma casa ou mudado de cidade. Além disso, se tem problemas relacionados com a residência ou a família, Netuno estará presente durante 2017 para que encare as situações em que não sabe o que fazer. Se você tem problemas para reformar ou vender a sua casa ou para pagar o aluguel, Netuno pode trazer coisas boas nesse campo.
Com relação ao amor, Urano, o planeta das situações inesperadas, entrará no campo relacionado com o amor. Em algumas ocasiões você sentirá que tem relações emocionais com altos e baixos, ou que até mesmo está em atritos com seu par. Outras vezes sentirá um amor muito vivo e apaixonado. Marte iluminará com relação ao amor verdadeiro no começo do ano, entre final de janeiro e fevereiro. Vênus também guiará você nesse sentido de fevereiro até junho. Em março, porém, Vênus ficará em retrógrado até abril, por isso esse não será o melhor momento para conhecer alguém, aceitar uma proposta de casamento ou se casar, já que as vibrações de Vênus serão baixas e você sentirá que os seus sentimentos de afeto são escassos.
No ano de 1936, a Espanha se partiu em duas. E o golpe de Estado que abriu caminho para a Guerra Civil arrasou também um futuro de brilhantismo nas letras ao grito de “Morram os intelectuais!”. Oitenta anos depois, a maioria das feridas daquela época estão cicatrizadas. A Biblioteca Nacional espanhola quer terminar de curá-las e por isso elaborou um índice de autores desaparecidos dos dois lados, cujos direitos passam a domínio público agora. “Foi um ano dramático, no qual se perdeu muito mais do que o imaginável. Resta construir pontes, mais ainda agora que os direitos desses autores ficam à disposição de todos e se multiplicam as possibilidades de difusão de suas obras”, afirma a diretora da BNE, Ana Santos Aramburo.
Na Espanha, a lei determina 70 anos a partir da morte de um autor para que sua obra entre em domínio público. A partir de 1o de janeiro do ano seguinte, qualquer pessoa pode usar suas obras, com a condição de respeitar o direito moral e a autoria. No entanto, o sistema, semelhante na maioria dos países, vale apenas para as mortes posteriores a 7 de dezembro de 1987, quando foi reformada a Lei de Propriedade Intelectual. Os autores falecidos antes estão sujeitos à legislação de 1879: seus direitos caducam 80 anos e um dia após a morte, como esclarece o advogado especialista em Propriedade Intelectual Andy Ramos. Assim, a obra de autores como García Lorca e Valle-Inclán, falecidos em 1936, já se tornou disponível a todos. E em 1ode janeiro somou-se a ele Miguel de Unamuno, morto em 31 de dezembro de 1936.
Mas esse ano significou muito mais. José Carlos Mainer, catedrático da Universidade de Zaragoza e crítico do EL PAÍS, elaborou uma lista na qual, além dos consagrados, inclui vários autores dessa época a serem lembrados. “O ano de 1936 foi um annus horribilis, mas também mirabilis. Sabemos quem foram seus falecidos célebres. Mas também foi um ano de grandes livros de autores que continuaram vivos: Juan de Mairena, de Machado; Canción, de Juan Ramón Jiménez; o segundo Cántico, de Jorge Guillén; Razón de amor, de Pedro Salinas, La realidad y el deseo, de Luis Cernuda: obras de velhos e de outros que já não eram tão jovens. Isso nos dá a medida do que foi destruído sem chance de recuperação”, comenta. “Para mim, aquele ano continua sendo o erro que abriu uma brecha duradoura no desenvolvimento de nosso país como comunidade cultural e política.”
Não só do lado perdedor, mas também entre os que ganharam a guerra. “Falo de Muñoz Seca, a quem sempre deveremos La venganza de don Mendo... Não esquecemos de pessoas de extrema direita que também desapareceram como Ramiro de Maeztu e Manuel Bueno, que deixou Valle-Inclán desamparado e que escreveu em 1936 um romance sobre as culpas dos descontentes do início do século, Los nietos de Danton. Também menciono como escritores três clérigos assassinados: Julián Zarco, que era bibliotecário erudito de El Escorial; Zacarías García Villada, o criador da paleografia espanhola, e o Padre Poveda, criador da Institución Teresiana, que tem papel de destaque no feminismo católico. E, sem dúvida, José Antonio Primo de Rivera e Ramiro Ledesma Ramos, porque, apesar de serem políticos fascistas, escreveram romances”, afirma Mainer.
OS ÚLTIMOS DIREITOS AUTORAIS DE LORCA
García Lorca faleceu em 18 de agosto de 1936. Portanto, 80 anos depois, sua obra está em domínio público. Por isso Diego Moreno se apressou em publicar o granadino no ano passado, o quanto antes. E conseguiu que Los árboles se han ido (Nórdica) fosse um dos últimos livros de Lorca a pagar direitos. “É uma responsabilidade do editor, não tanto para a família mas para o autor. Pareceu-nos respeitoso e bonito. Para os criadores mortos por causas não naturais, e mais ainda por assassinato, o prazo deveria ser mais longo. García Lorca teria gerado obras e direitos por mais 50 anos”, afirma.
Vai exatamente nesse sentido a proposta que Manuel Fernández-Montesinos, responsável pela gestão dos direitos de Lorca até sua morte em 2013, propôs à Comissão Europeia: pedia que a entrada em domínio público ocorresse 150 anos depois do nascimento de um autor, já que a duração da vida e as causas da morte criam diferenças abismais. Mas a ideia não foi adiante.
Parece que uma nova vida espera por muitos deles. José Antonio Ponte Far, patrono da Fundación Valle-Inclán, considera que o vencimento dos direitos “vai favorecer a difusão da obra de Valle e o aumento de suas traduções ao galego”. “A passagem para o domínio público é notável. Para vários autores, representou uma publicação muito maior. Mas quantidade não significa qualidade”, adverte Diego Moreno, responsável pela editora Nórdica. É precisamente para aumentar o alcance das criações que a propriedade intelectual, diferentemente da de um carro ou casa, caduca. “Os prazos respondem a um equilíbrio entre o acesso à Cultura, que enriquece a sociedade, e a proteção do autor e de seus descendentes”, acrescenta Ramos.
No caso de García Lorca, a receita dos direitos era repartida igualmente entre seus seis herdeiros. “Não são cifras milionárias, mas alguma renda, afinal”, afirma Mercedes Casanovas, da agência Casanovas y Lynch, que gerencia os direitos do poeta granadino. E Moreno conta como se calcula habitualmente o número. Primeiro, multiplica-se a tiragem do livro por seu preço de venda. Entre 8% e 10% do total se destinam aos royalties: normalmente a metade como antecipação e a outra à medida que a obra vai sendo vendida.
“As criações de Lorca sempre foram publicadas em muitas editoras, sem contratos exclusivos. Mas ultimamente temos recebido perguntas sobre quando passava a domínio público”, acrescenta Casanovas. Essas dúvidas refletem a confusão envolvendo os direitos autorais. Por exemplo, Lorca já é de todos na Espanha, mas não nos Estados Unidos, onde o prazo depende da data da primeira publicação de cada obra no país. Ao mesmo tempo, muitíssimos autores estrangeiros são liberados em seu país uma década antes dos 80 anos espanhóis e com frequência as editoras nacionais não sabem se já podem publicá-los – como fizeram erroneamente com O grande Gatsby em 2011 – ou não, porque alguém detém os direitos na Espanha. É por isso que muitos entrevistados expressam o mesmo desejo: um portal que permita identificar quem administra os direitos de cada autor, até quando ou se já pertence ao domínio público. A lista da Biblioteca Nacional, pelo menos, é um primeiro passo.
País comemora o centenário do nascimento da cantora e compositora com a publicação de livros, concertos e exposições
Rocío Montes
Santiago do Chile 4 JAN 2017 - 11:42 COT
A chilenaVioleta Parra(San Fabián de Alico, 1917; Santiago do Chile, 1967) viveu múltiplas vidas ao longo de seus 49 anos. Foi cantora e compositora, ofício pelo qual foi mais reconhecida, mas também compiladora demúsicafolclórica e artista plástica. No centenário de seu nascimento – celebrado neste ano noChilecom a publicação de livros sobre sua obra, festivais, concertos, exposições e congressos internacionais –, o país a homenageia como uma criadora diversa e promove o reconhecimento de seu legado sob uma perspectiva integral. “Por que Violeta Parra transcende?”, pergunta-se a pesquisadora Paula Miranda, uma das maiores especialistas em sua figura. “Porque tem um trabalho com a palavra muito sofisticado. A dimensão poética está presente em toda sua obra”.iranda fala de Violeta Parra como uma das melhores poetas da música e ressalta que a discussão sobre a entrega do Nobel de Literatura a Bob Dylan no ano passado também poderia valer para a cantora e compositora chilena: “Existe muita poesia fora dos livros e a poesia, além do mais, era cantada em sua origem”. Miranda, doutora em Literatura e autora do estudo La Poesía de Violeta Parra, publicado em 2013, cita como exemplo um dos hinos mais conhecidos da criadora: “A poesia em sua máxima expressão é aquela que consegue transformar o mundo, e isso é o que Parra faz em Gracias a la Vida. Por um lado agradece e, por outro, tenta retribuir algo que recebeu da vida. Sua arte não é de adorno, nem de entretenimento, mas de reflexão e emoção. Acompanha as dores e os amores humanos”, diz a pesquisadora.
A força da palavra que marca toda a obra de Violeta Parra está registrada no livro Poesía, editado em 2016 pela Universidade de Valparaíso. Com organização, estudo e notas a cargo de Miranda, Parra é concebida como poeta, como foi reconhecida por contemporâneos seus como Pablo Neruda, Pablo De Rokha e o próprio Nicanor Parra, seu irmão mais velho. É uma das obras que começaram a ser publicadas no Chile por ocasião do seu centenário de nascimento. Nas próximas semanas, a jornalista especializada em música popular chilena Marisol García lançará a pesquisa Violeta en Sus Palabras (Ed. Diego Portales), que reúne 14 entrevistas desconhecidas que a artista concedeu no Chile, na Argentina e na Suíça.
“Violeta Parra nunca foi uma artista oficial”, observa García, também autora do livro Canción Valiente, sobre a história da música política chilena. “No Chile, ela teve um reconhecimento intermitente porque, em alguns momentos, o país foi injusto e tendencioso com relação à arte popular”.
110.000 VISITAS AO MUSEU DA CANTORA
Com um ano e três meses de funcionamento, o Museu Violeta Parra já recebeu 110.000 visitantes. Localizado no centro de Santiago, é o primeiro no país dedicado exclusivamente ao legado da artista.
Para comemorar os 100 anos de seu nascimento, o museu apresentará, em 2017, mais de 80 recitais, oferecerá cerca de 250 visitas guiadas e um programa de cinema, entre outras atividades.
“Encerramos esse bem-sucedido 2016 com muita energia, prontos para o próximo ano, em que renovaremos a oferta museológica e ampliaremos as atividades educativas e de extensão”, diz Cecilia García-Huidobro, diretora da instituição.
Está em preparação uma ambiciosa biografia sobre Parra, ainda sem data para publicação, e em fevereiro será lançado um livro sobre a influência da cultura mapuche na obra da artista, elemento essencial para entender melhor seu legado.
Influência mapuche
Escrita por Paula Miranda e pelas acadêmicas Allison Ramay e Elisa Loncon, a pesquisa, que será publicada pela Pehuén Editores, se baseia nas gravações de 40 canções tradicionais mapuches compiladas por Violeta Parra no sul do Chile entre 1957 e 1958. Desconhecidos até agora, os arquivos sonoros, que incluem suas conversas com cantores indígenas, se tornaram uma espécie de elo perdido.
Para comemorar o centenário de Parra, nascida em 4 de outubro de 1917, o Chile preparou uma extensa programação. “Homenagear Violeta Parra é um dever de nosso país para que as novas gerações tenham a oportunidade de conhecer sua visão de mundo, seu contundente aporte às artes e a força criadora de uma figura que foi capaz de transpor fronteiras”, explica o ministro da Cultura, Ernesto Ottone Ramírez. “Como Conselho da Cultura, trabalharemos em 2017 para que o Chile se vista de Violeta, seja inundado por suas canções e seu nome saia pelo mundo levando parte de nossa identidade a diferentes rincões, divulgando um legado cuja influência permanece viva entre artistas e cidadãos”.
À margem da agenda oficial, a população chilena também começa a se organizar espontaneamente em diferentes localidades para homenagear sua cantora mais internacional e mais querida.
Os últimos dias de Pablo Neruda, segundo seu motorista
Manuel Araya, vítima da ditadura de Pinochet, denunciou em 2011 o assassinato do Nobel. “Deram-me uma injeção e estou queimando por dentro”, disse-lhe o poeta
WINSTON MANRIQUE SABOGAL
Madri 9 NOV 2015 - 18:09 COT
Manuel Araya, que foi motorista de Neruda, em Isla Negra. S. UTRERASEL PAÍS
Cerca de quatro horas antes de Pablo Neruda morrer de um “câncer na próstata”, no domingo 23 de setembro de 1973, o homem que cuidava dele não pôde cumprir a sua última missão, interrompida pelos militares: comprar-lhe “um medicamento que, supostamente, aliviaria a dor do poeta”. Quarenta e dois anos depois, Manuel Araya considera que tem de cumprir, ainda, uma última missão para Neruda: “Ajudar a provar que ele foi assassinado”. Ele está convencido de que o poeta não morreu pelas causas divulgadas oficialmente. É a única testemunha direta viva dos últimos dias do Nobel de Literatura, naqueles momentos iniciais do grande túnel que foi a ditadura de Augusto Pinochet, iniciado em 11 de setembro de 1973.
Manuel Araya tinha 27 anos naquele domingo, véspera de uma viagem de Neruda ao México. Dias que ele recorda agora, ao telefone, falando do Chile, aos 69 anos. Por volta das seis e meia da tarde, ele saiu correndo da Clínica Santa María, de Santiago do Chile, pegou o Fiat 125 branco e foi comprar o medicamento. Quatro militares, portando metralhadoras, o fizeram parar. Araya lhes explicou quem ele era: “Sou o secretário, motorista e a pessoa que cuida do senhor Pablo Neruda, o Nobel de Literatura, e estou indo comprar um medicamento para ele com urgência”. Como resposta, fizeram-no descer do veículo, insultaram-no, aplicaram-lhe golpes e deram-lhe um tiro em uma perna... Depois disso, levaram-no a uma delegacia de polícia, onde foi interrogado e torturado, para depois deixa-lo no Estádio Nacional, para onde a ditadura enviava os opositores a fim de lhes aplicar maus tratos ou fazer com que desaparecessem.
Manuel Araya, em Isla Negra, neste mês (20159 Foto de SEBASTIÁN UTRERAS
Passou a noite ali. No dia seguinte, o arcebispo Raúl Silva Henríquez o reconheceu e, depois da surpresa inicial, lhe disse: “Manuel, veja só, o Pablito morreu esta noite, às dez e meia”. Araya exclamou: “Assassinos!”. O arcebispo pediu aos militares para tirarem o motorista do Estádio. O que só veio a acontecer 42 dias mais tarde, com ele usando roupas emprestadas, uma barba longa e pesando 33 quilos. Seu calvário estava apenas começando.
Única testemunha
Desde a morte de Pablo Neruda até hoje, Manuel Araya se manteve praticamente à sombra, em silêncio. Talvez tenha escapado pela segunda vez da morte quando, em 22 de março de 1976, seu irmão Patricio desapareceu, segundo ele, por terem-no confundido com ele. Nunca mais se soube desse irmão. Para reforçar sua tese, ele recorda que também o secretário pessoal de Neruda, Homero Arce, foi assassinado, em 1977. “Sumiram com todos os colaboradores de Neruda. Eu sou a parte principal do que ainda continua vivo”.
“Certo dia, voltei para Santiago para não continuar expondo minha família. Vivia quase escondido na casa de alguns amigos. Não tinha carteira de identidade nem carta de motorista. Não conseguia trabalho, até que, em 1977, comecei a trabalhar como taxista. A ditadura acabou em 1990. Dois anos depois, comecei a trabalhar na Pullmanbus, no setor administrativo, até 2006, quando me aposentei.”
Seu contato com Matilde Urrutia, a terceira mulher de Neruda, falecida em 1985, se manteve. “Ela nunca quis falar sobre o assassinato. Rompi relações com ela por causa disso. Acabamos criando uma inimizade. Bati em muitas portas esse tempo todo. Inclusive na do presidente Eduardo Lagos. Ninguém me ouviu.”
Passou muitos anos correndo atrás de alguém que pudesse ouvir a sua versão, mas ninguém lhe deu ouvidos: “Nem os políticos, nem os veículos de comunicação. Talvez tivessem medo, não sei”. Até que um jornalista da revista mexicana Proceso publicou a sua história, em 2011. Depois disso, o Partido Comunista e Rodolfo Reyes, sobrinho de Neruda, entraram com um pedido de investigação a partir de seu testemunho. Em 2013, o corpo do escritor foi exumado, mas os médicos legistas não encontraram nele resquícios de envenenamento.
O caso voltou à tona com o lançamento da biografia Neruda. El Príncipe de los Poetas [Neruda, o príncipe dos poetas], do historiador alicantino Mario Amorós, cuja principal revelação foi noticiada em primeira mão pelo EL PAÍS na última quinta-feira: o relatório secreto do Programa de Direitos Humanos do Ministério do Interior, enviado em 25 de março de 2015 ao juiz Mario Carroza Espinosa, encarregado do processo. O documento, baseado em provas testemunhais e documentais, afirma que “é claramente possível e altamente provável a intervenção de terceiros” na morte do Nobel. Além disso, uma equipe internacional de legistas investiga a presença do estafilococo dourado no corpo do poeta. Trata-se de um germe que, alterado geneticamente e aplicado em doses elevadas, pode ser letal. A equipe científica definiu o prazo até março de 2016 para emitir um parecer sobre um caso sem precedentes: decifrar o DNA desse germe, detectar a sua presença e se ele foi alterado por alguma equipe militar, levando em consideração que a ditadura chilena usou armas químicas para eliminar pessoas, como admitiu Carroza Espinosa.
O golpe de Estado
Araya nasceu em 29 de abril de 1946, no hospital de Melipilla. Foi batizado como Manuel del Carmen Araya Osorio. Era o primogênito do casal Manuel e María, que teria treze filhos. Não terminou os estudos, mas com 14 anos se mudou para Santiago. Lá começou a trabalhar no Partido Comunista. Quando Salvador Allende foi indicado candidato à presidência, em 1970, Araya o acompanhou na campanha. Todos esses dias voltam agora à sua lembrança:
“Em 1972, quando Neruda retorna ao país, deixando a embaixada na França para ajudar Allende no caos que o Chile vivia, o Partido Unidade Popular me manda para ele. Passo a ser seu guarda-costas, seu secretário e seu chofer. Com ele vivi na casa de Isla Negra. Neruda tinha flebite na perna direita e às vezes mancava. Estava em tratamento de câncer de próstata, mas não estava agonizante. Era um homem de mais de cem quilos, robusto, de boa mesa e festas, e muito cordial e bom com as pessoas.”
HISTÓRIA DE UM CASO
Manuel Araya nasce em Melipilla (Chile), em 1946. Com 14 anos vai para Santiago. Começa a trabalhar no Partido Comunista.
Em 1970, participa da campanha de Salvador Allende à presidência.
Em 1972 é cedido a Pablo Neruda para desempenhar as funções de guarda-costas, secretário e motorista.
Em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de Estado de Pinochet, está com Neruda em sua casa de Isla Negra.
Nos dia 12, um navio de guerra com canhões se instala em frente a Isla Negra, e a casa de Neruda é revistada.
No dia 19, Neruda chega à Clínica Santa María, em Santiago. No dia 22, o embaixador do México combina a ida do poeta para o seu país.
No dia 23, Neruda, segundo Araya, recebe uma injeção no estômago e morre seis horas depois.
Na noite do dia 23, Araya é levado a uma delegacia, onde é interrogado e torturado. Sai 42 dias depois. Vive semioculto.
Em 1977, começa a trabalhar como taxista.
Em 2011, Araya denuncia o assassinato na revista Proceso. O Partido Comunista e Rodolfo Reyes, sobrinho de Neruda, abrem um processo.
Em 2016, o juiz Mario Carroza Espinosa ditará o veredicto.
“Em 11 de setembro de 1973, quando Pinochet dá o golpe de Estado, estávamos em Isla Negra. Nesse dia ele ia fazer uma espécie de inauguração de Cantalao, uns terrenos que ele havia comprado, em El Quisco, onde queria construir uma residência para escritores do mundo todo. Mas às quatro da manhã escutei o sininho com que ele me chamava, para me dizer que acabava de escutar numa rádio argentina que um golpe de Estado estava sendo preparado. Nesse dia entram no palácio de La Moneda e assassinam Allende. Eu tinha afrouxado uns tubos da televisão para que ele não visse o que acontecia. Mas fica sabendo, claro. Todo o país entra em toque de recolher. Ficamos sem telefone. Isla Negra se enche de carabineiros. ‘Vão matar todo mundo’, dizia don Pablo. Falava da Guerra espanhola, do que Franco fez… Neruda se dava valor.”
“No dia seguinte, colocam um navio de guerra com canhões em frente a Isla Negra. O embaixador do México lhe oferece asilo. No dia 14 chegam os militares e revistam a casa. Ficamos assustados. Neruda fala com seu médico, o doutor Roberto Vargas Salazar, que lhe diz que em 19 de setembro vagaria o quarto 406 da Clínica Santa María. Os militares não queriam lhe dar o salvo-conduto, então ele precisou dizer que estava mal e que precisava sair para receber tratamento; a única forma de tirá-lo era por razões humanitárias.”
“Nos dia 19 viajamos de carro de Isla Negra a Santiago. Levamos umas cinco horas, quando o normal eram duas. Foi um dia horrível. Pararam-nos várias vezes. Em Melipilla nos fizeram descer e deitar no chão. Fizeram-nos passar medo. A perseguição foi terrível. Chegamos lá pelas seis da tarde. Não deixamos Neruda sozinho em nenhum instante. Todas as noites eu ficava dormindo sentado numa poltrona, e Matilde numa saleta da entrada principal do quarto.”
“Nos dia 22 lhe entregam o salvo-conduto e ele decide com o embaixador mexicano, Gonzalo Martínez Corbalá, viajar na segunda-feira, dia 24. Nesse mesmo dia 22 [o embaixador] o visita na Clínica Radomiro Tomic e lhe conta que Víctor Jara foi assassinado. Neruda se desespera."
Um domingo negro
"No dia seguinte, domingo, dia 23, ele me diz para ir a Isla Negra com La Patoja, como ele chamava Matilde, para trazer a bagagem. Vamos, e ele fica com sua meia irmã Laurita. Quando estamos quase de volta, às quatro da tarde, ele liga para a Hospedaria Santa Helena e pede que digam a Matilde que vá imediatamente para a clínica. Quando chegamos, vejo Neruda com a cara vermelha. ‘O que está havendo, don Pablo!', pergunto. ’Deram-me uma injeção no estômago e estou queimando por dentro’, me respondeu. Fui ao banheiro, peguei uma toalha, molhei-a e a coloquei sobre o estômago. No que estou fazendo isso entra um médico e me diz: ‘Como motorista, você precisa ir comprar Urogotán’. Eu não sabia o que era, só depois soube que era para a gota.”
Manuel Araya, na época em que trabalhava como motorista para Neruda.
Saiu e nunca pôde voltar
“Quando estou no carro, outros dois automóveis me interceptam. Descem quatro homens com minimetralhadoras e me golpeiam. Falam de tudo para mim: filho da mãe, da avó… Digo a eles quem sou. ‘Vamos matar os comunistas!’, gritavam. Levam-me para a delegacia, me interrogam e me torturam. Queriam que eu lhes dissesse onde estavam os líderes comunistas, e com quem Neruda se reunia. Digo a eles que só se reúne com escritores. No final me levam ao Estádio Nacional. No dia seguinte, o arcebispo Silva Henríquez me dá a notícia [da morte de Neruda].”
Em 2011, Manuel Araya diz que Pablo Neruda foi assassinado. Abre-se o processo. O cadáver é exumado em abril de 2013, e em novembro desse mesmo ano a equipe científica opina que não encontrou rastro de veneno. Em janeiro de 2015, a presidenta Michelle Bachelet designa advogados para que investiguem o caso no âmbito do Programa de Direitos Humanos do Ministério do Interior. Assim, em 25 de março enviam a conclusão das suas investigações ao juiz Mario Carroza Espinosa, que a incorpora ao sigilo do processo.
Manuel Araya espera o veredicto. Sua última missão com Pablo Neruda está cumprida. Foi ouvido. Em 2016, já com 70 anos, saberá como tudo termina. Agora no Chile é primavera, como naqueles dias de 1973, mas ele sente frio e afirma: “Estou mais tranquilo do que nunca”.
Na sexta-feira, enquanto Donald Trump tomava posse em Washington, o papa Francisco concedia no Vaticano uma longa entrevista ao EL PAÍS, em que pedia prudência ante os alarmes acionados com a chegada do novo presidente dos Estados Unidos – “é preciso ver o que ele faz; não podemos ser profetas de calamidades” –, embora advertindo que, “em momentos de crise, o discernimento não funciona” e os povos procuram “salvadores” que lhes devolvam a identidade “com muros e arames farpados”.
Durante uma hora e 15 minutos, num aposento simples da Casa de Santa Marta, onde mora, Jorge Mario Bergoglio, que nasceu em Buenos Aires há oito décadas e caminha rumo ao quarto ano de pontificado, afirmou que “na Igreja há santos e pecadores, decentes e corruptos”, mas que se preocupa sobretudo com “uma Igreja anestesiada” pelo mundanismo, distante dos problemas das pessoas.
Às vezes com um típico humor portenho, Francisco demonstra estar ciente não só do que ocorre dentro do Vaticano, mas na fronteira sul da Espanha e nos bairros carentes de Roma. Diz que adoraria ir à China (“quando me convidarem”) e que, embora de vez em quando também dê seus “tropeços”, sua única revolução é a do Evangelho.
O drama dos refugiados marcou-o fortemente (“aquele homem chorava e chorava em meu ombro, com o salva-vidas na mão, porque não tinha conseguido salvar uma menina de quatro anos”), assim como as visitas às mulheres escravizadas pelas máfias da prostituição na Itália. Ainda não se sabe se será Papa até o fim da vida ou se optará pelo caminho de Bento XVI. Admite que, às vezes, sentiu-se usado por seus compatriotas argentinos.
Pergunta. Santidade, o que resta, depois de quase quatro anos no Vaticano, daquele padre das ruas, que chegou de Buenos Aires a Roma com a passagem de volta no bolso?
Resposta. Que continua sendo das ruas. Porque assim posso sair na rua para cumprimentar as pessoas nas audiências, ou quando viajo... Minha personalidade não mudou. Não estou dizendo que me propus a isso: foi espontâneo. Não, aqui não é preciso mudar. Mudar é artificial. Mudar aos 76 anos é se maquiar. Não posso fazer tudo o que quero lá fora, mas a alma das ruas permanece, e vocês a veem.
P. Nos últimos dias de pontificado, Bento XVI disse sobre seu último período à frente da Igreja: “As águas desciam agitadas, e Deus parecia estar dormindo”. Também sentiu essa solidão? A cúpula da Igreja estava dormindo em relação aos novos e antigos problemas das pessoas?
R. Eu, dentro da hierarquia da Igreja, ou dos agentes pastorais da Igreja (bispos, padres, freiras, leigos...), tenho mais medo dos anestesiados do que dos que estão dormindo. Daqueles que se anestesiam com o mundanismo. Então, negociam com o mundanismo. E isso me preocupa... Que... Sim, tudo está quieto, está tranquilo, se as coisas estão bem... ordem demais. Quando se lê os Atos dos Apóstolos, as Epístolas de São Paulo, lá havia confusão, havia problemas, as pessoas se movimentavam. Havia movimento e havia contato com as pessoas. O anestesiado não tem contato com as pessoas. Defende-se da realidade. Está anestesiado. E hoje em dia existem tantas maneiras para se anestesiar da vida cotidiana, não? E, talvez, a doença mais perigosa que um pastor possa ter venha da anestesia, e é o clericalismo. Eu aqui, e as pessoas lá. Você é o pastor dessas pessoas! Se não cuidar dessas pessoas e deixar de cuidar dessas pessoas, feche a porta e se aposente.
P. E há uma parte da Igreja anestesiada?
R. Todos temos perigos. É um perigo, é uma tentação séria. É mais fácil estar anestesiado.
Uma imagem do Papa durante a entrevista. L'OSSERVATORE ROMANO
P. Vive-se melhor, mais confortável.
R. Por isso, mais do que com os que estão dormindo, essa é a anestesia que o espírito de mundanismo proporciona. Do mundanismo espiritual. Nesse sentido, chama minha atenção que Jesus, na Última Ceia, quando faz essa longa oração ao Pai pelos discípulos, não pede a eles “observem o quinto mandamento, que não matem; o sétimo mandamento, que não roubem”. Não. Tomem cuidado com o mundanismo; tomem cuidado contra o mundo. O que anestesia é o espírito do mundo. E, então, o pastor se torna um funcionário público. E isso é o clericalismo, que, na minha opinião, é o pior mal que a Igreja pode ter hoje.
P. Os problemas enfrentados por Bento XVI no final de seu pontificado e que estavam naquela caixa branca que ele lhe entregou em Castel Gandolfo. O que havia lá dentro?
R. A normalidade da vida da Igreja: santos e pecadores, decentes e corruptos. Estava tudo ali! Havia gente que tinha sido interrogada e está limpa, trabalhadores... Porque aqui na Cúria há santos, viu? Há santos. Gosto de dizer isso. Porque fala-se com facilidade da corrupção da Cúria. Há pessoas corruptas na Cúria. Mas também muitos santos. Homens que passaram a vida inteira servindo às pessoas de maneira anônima, atrás de uma mesa, em um diálogo ou em um escritório para conseguir... Ou seja, dentro dela existem santos e pecadores. Naquele dia, o que mais me impressionou foi a memória do santo Bento. Que me disse: “Olha, aqui estão as atas, na caixa”. Um envelope com o dobro deste tamanho: “Aqui está a sentença, de todos os personagens.” E aqui, “fulano, tanto”. Tudo de cor! Uma memória extraordinária. E a conserva, a conserva.
P. Ele se encontra bem de saúde?
R. Daqui para cima, perfeito. O problema são as pernas. Caminha com ajuda. Tem uma memória de elefante, até as nuances. Então digo uma coisa, e me responde: “Não foi naquele ano, foi no ano tal.”
Uma visita do papa Francisco a Bento XVI em Castel Gandolfo em 23 de março de 2013. AP
P. Quais são suas maiores preocupações com relação à Igreja e, em geral, com a situação mundial?
R. Com relação à Igreja, eu diria que a Igreja não deixe de estar próxima das pessoas. Que procure sempre estar perto. Uma Igreja que não é próxima não é Igreja. É uma boa ONG. Ou uma boa organização piedosa de pessoas boas que fazem beneficência, se reúnem para tomar chá e fazer caridade. Mas o que identifica a Igreja é a proximidade: sermos irmãos próximos. Porque a Igreja somos todos. Então, o problema que sempre existe na Igreja é que não haja proximidade. E proximidade significa tocar, tocar no próximo a carne de Cristo. É curioso: quando Cristo nos diz o protocolo com o qual seremos julgados, que é o capítulo 25 de Mateus, é sempre tocar o próximo. “Tive fome, estive preso, estive doente...”. Sempre a proximidade para ver a necessidade do próximo. Que não é só a beneficência. É muito mais do que isso. Depois, com relação ao mundo, minha preocupação é a guerra. Estamos na Terceira Guerra Mundial em pedacinhos. E, ultimamente, já se fala de uma possível guerra nuclear como se fosse um jogo de cartas. E isso é o que mais me preocupa. Do mundo, preocupa-me a desproporção econômica: que um pequeno grupo da humanidade tenha mais de 80% da riqueza, com o que isso significa na economia líquida, onde no centro do sistema econômico está o deus dinheiro e não o homem e a mulher, o humano! Assim, cria-se essa cultura de que tudo é descartável.
P. Santidade, com relação aos problemas do mundo que o senhor mencionava, exatamente neste momento Donald Trump está tomando posse como presidente dos EUA. E o mundo vive uma tensão por esse fato. Qual a sua consideração sobre isso?
R. Veremos o que acontece. Mas me assustar ou me alegrar com o que possa acontecer, nisso acho que podemos cair numa grande imprudência – sermos profetas ou de calamidades ou de bem-estares que não vão acontecer, nem uma coisa nem outra. Veremos o que ele faz e, a partir daí, avaliaremos. Sempre o concreto. O cristianismo, ou é concreto ou não é cristianismo. É curioso: a primeira heresia da Igreja foi logo depois da morte de Cristo. A heresia dos gnósticos, que o apóstolo João condena. E era a religiosidade spray, como a chamo, do não concreto. Sim, eu, sim, a espiritualidade, a lei... mas tudo spray. Não, não. Coisas concretas. E do que é concreto tiramos as consequências. Nós perdemos muito o senso do concreto. Outro dia, um pensador me dizia que este mundo está tão desorganizado que falta um ponto fixo. E é justamente o concreto que nos dá pontos fixos. O que você fez, o que disse, como age. Por isso eu, diante disso, espero e vejo.
O papa bebe erva mate durante uma audiência em Roma, em 31 de agosto de 2016. STEFANO SPAZIANIEL PAÍS
P. Não se preocupa com o que escutou até agora?
R. Eu espero. Deus me esperou por tanto tempo, com todos os meus pecados...
P. Para os setores mais tradicionais, qualquer mudança, mesmo que seja apenas na linguagem, é uma traição. Para o outro extremo, nada será suficiente. Como o senhor disse, tudo já estava escrito na essência do Evangelho. Trata-se, então, de uma revolução da normalidade?
R. Eu procuro, não sei se consigo, fazer o que manda o Evangelho. Isso é o que busco. Sou pecador e nem sempre consigo isso, mas é o que procuro. É curioso: a história da Igreja não foi levada adiante por teólogos, padres, freiras nem bispos... sim, em parte sim, mas os verdadeiros protagonistas da história da Igreja são os santos. Ou seja, aqueles homens e mulheres que deram a vida para que o Evangelho fosse concreto. São eles que nos salvaram: os santos. Às vezes, pensamos nos santos como uma freirinha que fica olhando para cima com os olhos revirados. Os santos são os concretos do Evangelho na vida diária! E a teologia que podemos obter a partir da vida de um santo é muito grande. Evidentemente, os teólogos, os pastores, todos são necessários. E isso é parte da Igreja. Mas é preciso buscar o Evangelho. E quem são os melhores portadores do Evangelho? Os santos. Você utilizou a palavra “revolução”. Isso é revolução! Eu não sou santo. Não estou fazendo nenhuma revolução. Estou tentando que o Evangelho siga adiante. Mas de maneira imperfeita, porque também tenho meus tropeços às vezes.
P. Não acha que, entre muitos católicos, possa existir algo como a síndrome do irmão do filho pródigo, que consideram que se presta mais atenção aos que se foram do que aos que permaneceram dentro, observando os mandamentos da Igreja? Lembro-me de que, numa das suas viagens, um jornalista alemão lhe perguntou por que não falava nunca da classe média, daqueles que pagam impostos...
R. Aqui há duas perguntas. A síndrome do filho mais velho: é verdade que os que estão cômodos numa estrutura eclesiástica que não os compromete muito ou que têm posturas que os protegem do contato se sentirão incômodos com qualquer mudança, com qualquer proposta do Evangelho. Gosto de pensar muito no dono do hotel aonde o samaritano levou aquele homem que havia sido surrado pelos ladrões, roubado pelo caminho. O dono do hotel sabia da história, que foi contada pelo samaritano: havia passado um padre, olhou, estava atrasado para a missa e o deixou jogado no caminho, não queria se manchar com o sangue, porque isso o impedia de celebrar segundo a lei. Passou o advogado, o levita, e viu e disse: “Ai, não vou me meter aqui, perderei muito tempo, amanhã no tribunal serei testemunha e... não, não, melhor não me meter.” Parecia nascido em Buenos Aires, e se desviou assim, que é o lema dos portenhos: “Não se meta”. E passa outro, que não é judeu, que é um pagão, que é um pecador, considerado o pior de todos: se comove e levanta o homem. O estupor que o dono do hotel teve é enorme, porque viu algo incomum. Mas a novidade do Evangelho cria estupor porque é essencialmente escandalosa. São Paulo nos fala do escândalo da cruz, do escândalo do Filho de Deus feito homem. O escândalo bom, porque também Jesus condena o escândalo contra as crianças. Mas a essência evangélica é escandalosa para os parâmetros da época. Para qualquer parâmetro mundano, a essência é escandalosa. Portanto, a síndrome do filho mais velho é, em certa medida, a síndrome daquele que já está acomodado na Igreja, do que de alguma maneira tem tudo claro, tudo fixo sobre o que é preciso fazer, e que não me venham predicar coisas estranhas. Assim se explicam nossos mártires, que deram sua vida por predicar algo que incomodava. Essa é a primeira pergunta. A segunda: eu não quis responder ao jornalista alemão, mas em vez disso lhe disse: “Vou pensar, você tem um pouco de razão”. Falo continuamente da classe média sem mencioná-la. Uso uma palavra de Malègue, um romancista francês: ele fala da “classe média da santidade”. [Joseph Malègue foi o autor de Pedras Negras: As Classes Médias da Salvação e de Augustine.] Estou falando continuamente dos pais de família, dos avós, dos enfermeiros, das enfermeiras, das pessoas que vivem para os demais, que criam os filhos, que trabalham... A santidade dessas pessoas é enorme! São elas também que levam a Igreja adiante: as pessoas que vivem de seu trabalho com dignidade, que criam seus filhos, que enterram seus mortos, que cuidam dos avós, que não os trancam em lares de idosos, essa é nossa santa classe média. Do ponto de vista econômico, hoje a classe média tende a desaparecer, obviamente, cada vez mais, e pode correr o risco de se refugiar nas cavernas ideológicas. Mas essa “classe média da santidade”: o pai, a mãe de família, que celebram sua família, com seus pecados e suas virtudes, o avô e a avó. A família. No centro. Essa é a “classe média da santidade”. Malègue teve uma grande intuição nesse ponto, chegando a dizer uma frase que pode impressionar. Num de seus romances, Augustine, quando num diálogo um ateu lhe diz: “Mas o senhor acredita que Cristo é Deus?”, e lhe apresenta o problema: acha que o Nazareno é Deus? “Para mim, não é um problema”, responde o protagonista do romance. “O problema para mim seria se Deus não se fizesse Cristo”. Essa é a “classe média da santidade”.
P. Santidade, o senhor falava de cavernas ideológicas. A que se refere? O que lhe preocupa sobre esse aspecto?
R. Não é que me preocupe. Eu aponto a realidade. Estamos sempre mais cômodos no sistema ideológico que foi elaborado, porque é abstrato.
P. Isso se exacerbou, se potencializou nos últimos anos?
R. Sempre houve, sempre. Não diria que se exacerbou porque há muita desilusão com isso também. Creio que havia mais no tempo anterior à Segunda Guerra Mundial. Digo. Não pensei muito. Estou repassando um pouco... Sempre, no restaurante da vida, nos oferecem pratos de ideologia. Sempre. Você pode se refugiar nisso. São refúgios, que o impedem de tocar a realidade.
P. Santo Padre, durante estes anos, nas viagens, vi o senhor se emocionar e emocionar muitos dos que escutavam suas palavras... Por exemplo, em três ocasiões muito especiais: em Lampedusa, quando se perguntou se havíamos chorado com as mulheres que perdem seus filhos no mar; na Sardenha, quando falou sobre o desemprego e as vítimas do sistema financeiro mundial; nas Filipinas, com o drama das crianças exploradas. Duas perguntas: o que a Igreja pode fazer, o que está sendo feito e como os governos estão agindo diante disso?
R. O símbolo que propus no novo órgão de Migrações – no novo esquema, o Departamento de Migrações e Refugiados, que preparei diretamente com dois secretários – é um salva-vidas laranja, como os que todos conhecemos. Numa audiência geral, veio parte dos que trabalham no salvamento dos refugiados do Mediterrâneo. Eu os cumprimentava, e este homem segurou esse objeto e começou a chorar, apoiou-se no meu ombro e chorava, chorava: “Não consegui, não cheguei, não consegui.” E, quando se acalmou um pouco, me disse: “A menina não tinha mais de quatro anos. Entrego-lhe isto”. E isso é um símbolo da tragédia que estamos vivendo. Sim.
P. Os governos estão respondendo à altura?
R. Cada um faz o que pode ou o que quer. É um juízo difícil de fazer. Mas, obviamente, o fato de o Mediterrâneo ter se transformado num cemitério deve nos fazer pensar.
P. Queria lhe perguntar se sente que sua mensagem, sua viagem às periferias, aos que sofrem e estão perdidos, é acolhida, acompanhada por uma estrutura talvez acostumada a caminhar em outro ritmo. O senhor sente que avança num ritmo e a Igreja em outro? Sente-se acompanhado?
R. Acho que não é assim e, graças a Deus, a resposta em geral é boa. É muito boa. Quando pedi às paróquias de Roma e aos colégios, houve quem dissesse: “Isso foi um fracasso”. Mentira! Não foi um fracasso! Uma alta porcentagem das paróquias de Roma, quando não tinham uma casa grande à disposição ou quando a casa paroquial era pequena, sei lá, pois os fiéis alugam um apartamento para uma família imigrante... Nos colégios de freiras, às vezes sobrava lugar, arrumaram um espaço para as famílias migrantes... A resposta é maior do que se acredita, não é divulgada. O Vaticano tem duas paróquias, e cada paróquia tem uma família imigrante. Um apartamento do Vaticano para uma família, outro para outra. A resposta é contínua. Não 100%. Qual porcentagem eu não sei. Mas eu diria que 50% acho que sim. Depois, o problema da integração. Cada imigrante é um problema muito sério. Eles fogem de seu país. Por fome ou guerra. Então, a solução deve ser buscada ali. Por fome ou por guerra, são explorados. Penso na África: o símbolo da exploração. Inclusive, ao dar independência, algum país lhes deu independência do solo para cima, reservando-se o subsolo. Ou seja: são sempre usados e escravizados... Então, a política de acolhida tem várias etapas. Há uma acolhida de emergência: você tem que receber [o migrante] e tem que recebê-lo porque, do contrário, ele se afoga. Nisso a Itália e a Grécia estão dando o exemplo, um exemplo muito grande. A Itália, inclusive agora, com os problemas que tem com o terremoto e todas essas coisas, continua se preocupando com eles. Recebendo-os. Claro: eles chegam à Itália porque é o país mais próximo. Creio que na Espanha chegam de Ceuta também. [Sim.] Mas, geralmente, a maioria não quer ficar na Espanha, quer ir para o norte, porque buscam mais possibilidades.
P. Mas, na Espanha, há um muro que separa Ceuta e Melilla de Marrocos. Não podem passar.
R. Sim, sim, eu sei. E querem ir para o norte. Então, o problema é: recebê-los, sim, mais ou menos por alguns meses, alojá-los. Mas é preciso começar um processo de integração. Acolher e integrar. E o modelo mundial que está à frente é a Suécia. A Suécia tem nove milhões de habitantes, dos quais 890.000 são “novos suecos”, filhos de migrantes ou migrantes com cidadania sueca. A ministra de Relações Exteriores – acho que era, a que foi se despedir de mim – uma moça jovem, era filha de mãe sueca e pai do Gabão. Migrantes. Integrados. O problema é integrar. Por outro lado, quando não há integração, ficam em guetos, e não culpo ninguém, mas de fato existem guetos. Que talvez naquele momento não perceberam que havia. Mas os meninos que fizeram o desastre no aeroporto de Zaventem [em Bruxelas] eram belgas, nascidos na Bélgica. Mas moravam num bairro fechado de imigrantes. Ou seja, é fundamental o segundo passo: a integração. Qual é o grande problema da Suécia agora? Não é que não venham imigrantes. Não estamos dando conta nos programas de integração! Eles se perguntam o que mais podem fazer para que as pessoas venham! É impressionante. Para mim, é um modelo mundial. E isso não é novo. Eu disse logo de cara, depois de Lampedusa... Eu conhecia o caso da Suécia pelos argentinos, uruguaios e chilenos que na época da ditadura militar foram acolhidos ali, pois tenho amigos lá, e refugiados. Claro, depois que você chega à Suécia e lhe oferecem organização médica, documentos, dão autorização para morar... E você já tem uma casa, e na semana seguinte tem uma escola para aprender o idioma, um pouquinho de trabalho... e vai para frente. Nisso San Egidio, aqui na Itália, é um modelo. Os que vieram comigo no avião de Lesbos, e depois vieram outros nove... O Vaticano se encarregou de 22, e estamos cuidando deles. E eles lentamente vão se tornando independentes. No segundo dia, os meninos já iam ao colégio. No segundo dia! E os pais lentamente encontram seu lugar, com um apartamento, um trabalho aqui, meio trabalho ali, professores para o idioma... San Egidio tem essa mesma postura. Ou seja, o problema então é: salvamento urgente, sim, para todos. Segundo: receber, acolher da melhor forma possível. Depois integrar, integrar. Integrar.
Visita de Barack Obama a Francisco em Roma em 27 de março de 2014. STEFANO DAL POZZOLO/CONTRASTO/VAVATICAN POOL
P. Santidade, já faz 50 anos de quase tudo. Do Concílio Vaticano II, da viagem de Paulo VI e do abraço com o patriarca Atenágoras na Terra Santa. Há quem sustente que, para entendê-lo, convém conhecer Paulo VI. Ele foi até certo ponto o papa incompreendido. O senhor se sente também um pouco assim, um Papa incômodo?
R. Não. Não. Acredito que, por meus pecados, deveria ser mais incompreendido. O mártir da incompreensão foi Paulo VI. A Evangelii Gaudium, que é o marco da pastoralidade que quero dar à Igreja agora, é uma atualização da Evangelii Nuntiandi de Paulo VI. É um homem que se antecipou à história. E sofreu, sofreu muito. Foi um mártir. E muitas coisas ele não pôde fazer, porque, como era realista, sabia que não podia e sofria, mas oferecia esse sofrimento. E o que pôde fazer ele fez. E é o que Paulo VI fez de melhor: semear. Semeou coisas que depois a história foi recolhendo. A Evangelii Gaudium é uma mistura da Evangelii Nuntiandi e do documento de Aparecida. Coisas que foram sendo trabalhadas de baixo para cima. A Evangelii Nuntiandi é o melhor documento pastoral pós-conciliar e que não perdeu a atualidade. Não me sinto incompreendido. Sinto-me acompanhado, e acompanhado por todo tipo de gente, jovens, velhos… Sim, um ou outro por aí não está de acordo, e tem o direito, porque se eu me sentisse mal por alguém não estar de acordo haveria em minha atitude um germe de ditador. Eles têm o direito de não estarem de acordo. Têm direito de pensarem que o caminho é perigoso, que pode trazer maus resultados, que… eles têm o direito. Mas desde que dialoguem, não que atirem a pedra e escondam a mão, isso não. A isso nenhuma pessoa humana tem o direito. Atirar a pedra e esconder a mão não é humano, isso é delinquência. Todos têm o direito de discutir, e quem dera discutíssemos mais, porque isso nos burila, nos irmana. A discussão irmana muito. A discussão com bom sangue, não com a calúnia e tudo isso…
P. Incômodo com o poder o senhor também não sente?
R. É que o poder não sou eu quem tenho. O poder é compartilhado. O poder é quando se tomam as decisões pensadas, dialogadas, rezadas; a oração me ajuda muito, e me sustenta muito. Não me incomoda o poder. Incomodam-me certos protocolos, mas é porque eu sou assim, da rua.
P. O senhor está há 25 anos sem ver televisão e, pelo que entendo, o senhor nunca foi muito fã de jornalistas, mas o sistema de comunicação do Vaticano foi totalmente reinventado, profissionalizado e elevado à categoria de dicastério. Os meios de comunicação são tão importantes assim para o Papa? Existe uma ameaça à liberdade de imprensa? E as redes sociais, podem causar um prejuízo à liberdade do indivíduo?
R. Eu não assisto televisão. Simplesmente senti que Deus me pediu isso, no dia 16 de julho de 1990; fiz essa promessa e não sinto falta. Só fui ao centro de televisão que ficava ao lado da arquidiocese para ver um ou dois filmes que me interessavam, que poderiam servir para a mensagem. E veja que eu gostava muito de cinema e tinha estudado bastante o cinema, especialmente o italiano do pós-guerra, e o polonês Wajda, Kurosawa, e alguns franceses. Mas não ver televisão não me impede de me comunicar. Não assistir televisão foi uma escolha pessoal, nada mais. Mas a comunicação é divina. Deus se comunica. Deus comunicou-se conosco por meio da história. Deus não ficou isolado. É um Deus que se comunica, e falou conosco, nos acompanhou, nos desafiou e nos fez mudar de rumo, e continua a nos acompanhar. Não se pode compreender a teologia católica sem a comunicação de Deus. Deus não está estático lá e olha para ver como os homens se divertem ou como se destroem. Deus se envolveu, e o fez comunicando-se com a palavra e com sua carne. Ou seja, eu começo daí. Tenho um pouco de medo quando os meios de comunicação não podem se expressar com a ética que lhes é própria. Por exemplo, existem maneiras de se comunicar que não ajudam, que atrapalham a unidade. Dou um exemplo simples. Uma família que está jantando e as pessoas não se falam, ou assistem televisão, ou as crianças estão com seus celulares enviando mensagens a outras pessoas que estão fora. Quando a comunicação perde o carnal, o humano, e se torna líquida, é perigosa. Que se comunique em família e que as pessoas se comuniquem, e também da outra maneira, é muito importante. O mundo virtual da comunicação é muito rico, mas você corre o risco se não vive uma comunicação humana, normal, de tocar! O concreto da comunicação é o que fará que o virtual da comunicação siga pelo bom caminho. Ou seja, o concreto é inegociável em tudo. Não somos anjos, somos pessoas concretas. A comunicação é fundamental e deve seguir em frente. Há perigos como esse em todas as coisas. É preciso ajustá-los, mas a comunicação é divina. E há defeitos. Eu falei sobre os pecados da comunicação numa conferência na ADEPA, em Buenos Aires, a associação que reúne os editores da Argentina. E os presidentes me convidaram para um jantar em que tive de fazer essa conferência. Lá eu apontei os pecados da comunicação e disse a eles: não caiam nisso, porque o que os senhores têm em suas mãos é um grande tesouro. Hoje em dia comunicar é divino, sempre foi divino porque Deus se comunica, e é humano porque Deus se comunicou humanamente. Portanto, funcionalmente há um dicastério, obviamente, para dar um encaminhamento a tudo isso. Mas o dicastério é uma coisa funcional. Não é porque hoje é importante se comunicar, não. Porque a comunicação é essencial para a pessoa humana, porque também é essencial a Deus!
P. O maquinário diplomático do Vaticano funciona a todo vapor. Tanto Barack Obama quanto Raúl Castro agradeceram publicamente o seu trabalho na aproximação. No entanto, existem outros casos, como a Venezuela, Colômbia e o Oriente Médio, que ainda estão bloqueados. No primeiro caso, inclusive, as partes criticam a mediação. O senhor teme que a imagem do Vaticano sofra? Quais são suas instruções nesses casos?
R. Eu peço ao Senhor a graça de não tomar nenhuma medida pela imagem. Mas pela honestidade, pelo serviço, esses são os critérios. Não acredito que seja bom maquiar um pouco. Às vezes podemos cometer erros, a imagem se ressentirá, bom, isso é uma consequência, mas foi feito com boa vontade. A história julgará as coisas. E depois há um princípio que é claro para mim, que é o que tem de prevalecer em toda a ação pastoral, mas também na diplomacia do Vaticano: mediadores, não intermediários. Em outras palavras, fazer pontes e não muros. Qual é a diferença entre o mediador e o intermediário? O intermediário é aquele que tem, por exemplo, um escritório de compra e venda de imóveis, procura quem quer vender uma casa e quem quer comprar uma casa, eles se põem de acordo, ele cobra a comissão, presta um bom serviço, mas sempre ganha algo, e tem direito porque é seu trabalho. O mediador é aquele que se coloca a serviço das partes e faz com que as partes ganhem mesmo que ele perca. A diplomacia do Vaticano tem de ser mediadora, não intermediária. Se ao longo da história a diplomacia do Vaticano fez uma manobra ou uma reunião e encheu o bolso, então ela cometeu um pecado muito grave, gravíssimo. O mediador faz pontes, que não são para ele, são para que os outros caminhem. E não cobra pedágio. Faz a ponte e se vai. Para mim essa é a imagem da diplomacia vaticana. Mediadores e não intermediários. Fazedores de pontes.
P. Essa diplomacia vaticana pode ser estendida à China em breve?
R. De fato, existe uma comissão que está trabalhando há anos com a China e que se reúne a cada três meses, uma vez aqui e outra em Pequim. E há muito diálogo com a China. A China tem sempre aquela aura de mistério que é fascinante. Há dois ou três meses, com a exposição do Museu do Vaticano em Pequim, estavam felizes. E no próximo ano eles virão aqui no Vaticano com suas coisas, seus museus.
P. E o Santo Padre, irá em breve à China?
R. Irei quando me convidarem. Eles sabem. Além disso, na China as Igrejas estão cheias. Pode-se praticar a religião na China.
P. Tanto na Europa quanto na América, as consequências de uma crise que não acaba, o aumento da desigualdade e a ausência de lideranças fortes estão dando lugar a formações políticas que estão captando o mal-estar dos cidadãos. Algumas delas – que costumam ser chamadas de antissistema ou populistas – aproveitam o medo das pessoas de um futuro incerto para construírem uma mensagem de xenofobia, de ódio em relação ao estrangeiro. O caso de Trump é o que mais chama a atenção, mas também há os casos da Áustria e até da Suíça. O senhor está preocupado com esse fenômeno?
R. É o que chamam de populismo. Essa é uma palavra enganosa, porque na América Latina o populismo tem outro significado. Lá significa o protagonismo dos povos, por exemplo, os movimentos populares. Organizam-se entre eles... é outra coisa. Quando ouvia falar em populismo aqui não entendia muito, ficava perdido, até que percebi que eram significados diferentes dependendo dos lugares. Claro, as crises provocam medos, alertas. Para mim, o mais típico exemplo dos populismos europeus é o 1933 alemão. Depois de [Paul von] Hindenburg, a crise de 1930, a Alemanha estava destroçada, tentava se levantar, buscava sua identidade, estava à procura de um líder, de alguém que devolvesse sua identidade, e havia um rapazinho chamado Adolf Hitler que disse “eu posso, eu posso”. E toda a Alemanha votou em Hitler. Hitler não roubou o poder, foi eleito por seu povo, e depois destruiu seu povo. Esse é o perigo. Em momentos de crise, o discernimento não funciona, e para mim é uma referência contínua. Busquemos um salvador que nos devolva a identidade e defendamo-nos com muros, com arames farpados, com qualquer coisa, dos outros povos que podem nos tirar a identidade. E isso é muito grave. Por isso sempre procuro dizer: dialoguem entre vocês, dialoguem entre vocês. Mas o caso da Alemanha de 1933 é típico, um povo que estava naquela crise, que procurava sua identidade, e então apareceu esse líder carismático que prometeu dar-lhes uma identidade, e deu-lhes uma identidade distorcida e sabemos o que aconteceu. Onde não há diálogo... As fronteiras podem ser controladas? Sim, cada país tem o direito de controlar suas fronteiras, quem entra e quem sai, e os países que estão em perigo – de terrorismo ou coisas desse tipo – têm mais direito de controlar mais, mas nenhum país tem o direito de privar seus cidadãos do diálogo com os vizinhos.
P. O senhor observa na Europa de hoje, Santo Padre, sinais dessa Alemanha de 1933?
R. Não sou um técnico nisso, mas sobre a Europa de hoje remeto-me aos três discursos que fiz. Os de Estrasburgo e o terceiro quando do Prêmio Carlos Magno, que foi o único prêmio que aceitei porque insistiram muito por causa do momento que a Europa vivia, e aceitei como um serviço. Esses três discursos dizem o que penso sobre a Europa.
P. A corrupção é o grande pecado do nosso tempo?
R. É um grande pecado. Mas acredito que não devemos atribuir-nos a exclusividade na história. Sempre houve corrupção. Sempre. Aqui. Se alguém ler a história dos papas se depara com cada escândalo... Para me referir à minha casa, sem me meter na do vizinho. Tenho vários exemplos de países vizinhos onde houve corrupção na história, mas fico com os meus. Aqui houve corrupção. E pesada, hein. Basta pensar no papa Alexandre VI, nessa época, e em dona Lucrécia com seus “chazinhos” [envenenados].
P. O que lhe chega da Espanha? O que lhe chega sobre a recepção que há na Espanha da sua mensagem, sua missão, seu trabalho...?
R. Hoje, da Espanha, acabam de me chegar alguns polvorones e um turrón de Jijona (doces) que estão aí para oferecer aos rapazes.
P. Hahaha. A Espanha é um país onde o debate sobre o secularismo e a religiosidade está vivo, como o senhor sabe...
R. Está vivo, muito vivo...
P. O que o senhor pensa disso? O processo de secularismo pode acabar deixando a Igreja Católica numa situação marginal?
R. Diálogo. É o conselho que dou a qualquer país. Por favor, diálogo. Como irmãos, caso se animem, ou pelo menos como pessoas civilizadas. Não se insultem. Não se condenem antes de dialogar. Se depois do diálogo quiserem se insultar, bom, mas pelo menos dialogar. Se depois do diálogo quiserem se condenar, bom..., mas primeiro o diálogo. Hoje, com o desenvolvimento humano que existe, não se pode conceber uma política sem diálogo. E isso vale para a Espanha e para todos. Então, se você me pedir um conselho para os espanhóis, dialoguem. Se há problemas, dialoguem primeiro.
P. Na América Latina, evidentemente, suas palavras e decisões são acompanhadas com especial atenção. Como vê o continente? Como vê sua terra?
R. O problema é que a América Latina está sofrendo os efeitos – que ressaltei muito na Laudato Se – de um sistema econômico que tem no seu centro o deus dinheiro, e então [esses países] caem em políticas de fortíssima exclusão. E então se sofre muito. E evidentemente hoje em dia a América Latina está sofrendo um forte embate de liberalismo econômico forte, desse que eu condeno na Evangeli Gaudium quando digo que “esta economia mata”. Mata de fome, mata de falta de cultura. A emigração não é só da África para Lampedusa ou para Lesbos. A emigração é também do Panamá para a fronteira do México com os Estados Unidos. As pessoas emigram procurando. Porque os sistemas liberais não dão possibilidades de trabalho e favorecem delinquências. Na América Latina há o problema dos cartéis da droga, que existem, sim, e essa droga é consumida nos Estados Unidos e na Europa. Fabricam-na para cá, para os ricos, e perdem a vida nisso. E há os que se prestam a isso. Na nossa pátria temos uma palavra para qualificá-los: os cipayos [mercenários]. É uma palavra clássica, literária, que está em nosso poema nacional. O cipayo é aquele que vende a pátria à potência estrangeira que possa lhe dar mais benefício. E na nossa história argentina, por exemplo, sempre há algum político cipayo. Ou alguma postura política cipaya. Sempre houve na história. Então a América Latina precisa se rearmar com formações de políticos que deem a força dos povos à América Latina. Para mim, o exemplo maior é o do Paraguai do pós-guerra. Perde a guerra contra a Tríplice Aliança, e o país fica praticamente nas mãos das mulheres. E a mulher paraguaia sente que precisa erguer o país, defender a fé, defender sua cultura e defender sua língua, e conseguiu. A mulher paraguaia. A mulher paraguaia não é cipaya, defendeu o seu, à custa do que fosse, mas defendeu, e repovoou o país. Para mim, é a mulher mais gloriosa da América. Aí você tem um caso de uma atitude que não se entregou. Há heroísmo. Em Buenos Aires há um bairro, à beira do rio da Prata, cujas ruas têm nomes de mulheres patriotas, que lutaram pela independência, lutaram pela pátria. A mulher tem mais senso... Talvez eu exagere. Bom, se exagero que me corrijam. Mas tem mais senso de defender a pátria, porque é mãe. É menos cipaya. Tem menos perigo de cair no cipayismo.
P. Por isso dói tanto a violência contra as mulheres, que é uma mancha na América Latina e em tantos lugares…
R. Em todos os lados. Na Europa… Na Itália, por exemplo, visitei organizações de resgate de meninas prostitutas que são exploradas por europeus. Alguém me dizia que foi trazida da Eslováquia no porta-malas de um automóvel para que pudessem passá-la [pelas fronteiras e controles policiais]. E lhe dizem: você precisa trazer tanto hoje, e se não trouxer isso, vai levar. Batem nelas… Em Roma? Em Roma. A situação dessas mulheres aqui – em Roma! – é de terror. Nessa casa que visitei havia uma a quem haviam cortado a orelha. Torturam-nas quando não reúnem dinheiro suficiente. E as mantêm retidas porque as assustam, dizem que vão matar os pais delas. Albanesas, nigerianas, inclusive italianas. Uma coisa muito linda é que essa associação se dedica a ir pelas ruas, as abordam e, em vez de lhes dizer “Quanto você cobra?”, “Quando você custa?”, lhes perguntam: “Quando você sofre?”. E as levam para uma colônia segura, a fim de que se recuperem. Visitei no ano passado uma dessas colônias com meninas recuperadas e havia dois homens, eram voluntários. E uma me disse: “Eu o encontrei”. Casou-se com o homem que a havia salvado e estavam querendo ter um filho. O usufruto da mulher é das coisas mais desastrosas que acontecem, também aqui, em Roma. A escravidão da mulher.
P. Não acha que, depois da tentativa fracassada da Teologia da Libertação, a Igreja perdeu muitas posições para outras confissões e inclusive seitas? A que se deve isso?
R. A teologia da liberação foi uma coisa positiva na América Latina. Foi condenada pelo Vaticano a parte que optou pela análise marxista da realidade. O cardeal Ratzinger fez duas instruções quando era prefeito da Doutrina da Fé. Uma, muito clara, sobre a análise marxista da realidade. E a segunda retomando aspectos positivos. A Teologia da Libertação teve aspectos positivos e também teve desvios, sobretudo na parte da análise marxista da realidade.
P. Suas relações com a Argentina. O Vaticano se tornou, de três anos para cá, um lugar de peregrinação para políticos de diversos partidos. O senhor se sente usado?
R. Ah, sim. Alguns me dizem: Tiramos uma foto de lembrança, e lhe prometo que vai ser para mim e que não vou publicá-la. E antes de sair pela porta já a publicaram [sorri]. Bom, se fica feliz de usá-la, o problema é dele. Diminui a qualidade dessa pessoa. Quem a usa tem pouca estatura. E o que vou fazer? O problema é dele, não meu. Vêm muitos argentinos à audiência geral. Na Argentina sempre houve muito turismo, mas agora passar por uma audiência geral do Papa é quase obrigatório [risos]. Depois há os que vêm para cá e que são amigos – vivi 76 anos na Argentina –, às vezes minha família, alguns sobrinhos. Mas usado, sim, tem gente que já me usou, usou fotos, como se eu tivesse dito coisas, e quando me perguntam sempre respondo: não é problema meu, não fiz declarações, se ele disse isso é problema dele. Mas não entro no jogo do uso. Ele lá com a sua consciência.
P. Um tema recorrente é o papel dos leigos e, sobretudo, das mulheres na Igreja. Seu desejo é de que tenham maiores cotas de influência e inclusive de decisão. Esses são seus desejos. Até onde acredita que pode chegar?
R. O papel da mulher não deve ser buscado tanto pela funcionalidade, porque assim vamos acabar transformando a mulher, ou o movimento da mulher na Igreja, num machismo de saia. Não. É muito mais importante que uma reivindicação funcional. O caminho funcional é bom. A subdiretora da sala de imprensa do Vaticano é uma mulher, a diretora dos museus vaticanos é uma mulher… Sim, o funcional está bem. Mas a mim o que me interessa é que a mulher nos dê seu pensamento, porque a Igreja é feminina, é “a” Igreja, não é “o” Igreja, e é “a” esposa de Jesus Cristo, e esse é o fundamento teologal da mulher. E quando me perguntam, sim, mas a mulher poderia ter mais… Mas o que era mais importante: o dia de Pentecostes, a Virgem ou os apóstolos? A Virgem. O funcional pode nos trair ao colocar a mulher no seu lugar – que é preciso colocá-la, sim, porque ainda falta muito, e trabalhar para que possa dar à Igreja a originalidade de seu ser e de seu pensamento.
P. Em algumas das suas viagens, escutei como se dirigia aos religiosos, tanto da Cúria Romana quanto das hierarquias locais, ou inclusive a padres e freiras, para lhes pedir mais compromisso, mais proximidade, inclusive melhor humor. De que maneira acredita que recebem esses conselhos, esses puxões de orelha?
R. No que mais insisto é na vizinhança, na proximidade. E em geral é bem recebido. Sempre há grupos um pouco mais fundamentalistas, em todos os países, na Argentina há. São grupos pequenos, eu os respeito, são gente boa, que prefere viver assim a sua religião. Eu prego o que sinto que o Senhor me pede para pregar.
P. Na Europa, cada vez se veem mais padres e freiras procedentes do chamado Terceiro Mundo. A que se deve este fenômeno?
R. Há 150 anos, na América Latina, se viam cada vez mais padres e freiras europeus, e na África o mesmo, e na Ásia o mesmo. As Igrejas jovens foram crescendo. Na Europa o que acontece é que não há natalidade. Na Itália está abaixo de zero. A França é a que acredito estar mais à frente, por todas as leis de apoio à natalidade. Mas não há natalidade. O bem-estar italiano de alguns anos atrás cortou a natalidade por aqui. Preferimos sair de férias, temos um cachorrinho, um gatinho, não há natalidade, e se não houver natalidade não há vocações.
P. Em seus consistórios, o senhor criou cardeais dos cinco continentes. Como gostaria que fosse o conclave que escolherá o seu sucessor? Santidade, o senhor acredita que verá o próximo conclave?
R. Que seja católico. Um conclave católico que escolha o meu sucessor.
P. E o verá?
R. Isso eu não sei. Que Deus decida. Quando eu sentir que não posso mais, meu grande mestre Bento já me ensinou como se deve fazer. E se Deus me levar antes verei do outro lado. Espero que não do inferno… Mas que seja um consistório católico.